Almoço indigesto
Certa vez fui convidado pelo diretor de open market do banco
central para almoçar nas instalações do Rio de Janeiro. Inicialmente fiquei
surpreso com o convite, mas depois soube que todos os tesoureiros de bancos
estrangeiros receberam o mesmo convite.
Naquela época o Hedging
do capital próprio do banco era feito através de títulos com rendimento
indexado ao dólar, o que seria equivalente a NTNB atual com correção cambial
mais juros, que na época eram de 6% a.a. Bons tempos! Assim, nós éramos os
grandes players do mercado nesses papeis. Naturalmente, o volume que tínhamos
em carteira era superior ao necessário para tal fim – Hedge –.
O tesoureiro do banco London Multiplic, que era conhecido
como Tatá, tem um grande senso de humor. No meio do almoço, o diretor do banco
central fez a seguinte pergunta “ O que vocês acham da ideia de emitir um
título cambial de dois anos? ” Um silencio profundo na sala, afinal todos ali
estavam carregados de papéis de cinco anos, e se o BC decidisse por essa
medida, nossos títulos iriam despencar.
Isso aconteceu nos anos 80 e naquela época não havia
celular, nessas ocasiões usávamos o orelhão. Todos estavam preocupados em quem
poderia dar o sinal para suas mesas, bastava uma única palavra “detona”, que o
pessoal do outro lado saberia o que fazer. Depois de algumas repostas evasivas
e um clima tenso, o Tatá disparou “Ninguém levanta para ir ao banheiro, vamos
sair todos juntos! ” E foi o que acabou acontecendo, todos sairam correndo do
banco central a procura de um orelhão na Avenida Rio Branco. Detona .......
Amanhã Mario Draghi, presidente do ECB estará numa situação
similar, ao discursar durante o almoço oferecido aos participantes do simpósio
em Jackson Hole. A dúvida que paira, e se anunciará o termino da era dos
helicópteros na Europa. As opiniões estão divididas, mas certamente se houver o
anuncio terá impacto no mercado, principalmente no euro. Os dados da Europa têm
vindo bem melhores, o gráfico abaixo da ideia da evolução do PIB nos principais
países. Exceto a Grécia que ainda deverá demorar mais tempo para se recuperar,
os outros países apresentam uma aceleração recente, onde se destaca a Espanha.
A alta nos preços das commodities impulsionada por compras
especulativas feitas pelos chineses, também apontam para mesma direção. Não
fiquem surpresos com o fato da especulação vir da China. Sendo o maior
consumidor desses materiais no mundo, é natural que seja lá o novo centro de
negócios.
Mas não é só a Europa que está melhorando, nos USA o PMI
publicado pela Markit mostra mais ímpeto no setor de serviços, embora a
manufatura não está na mesma sintonia, segundo esse levantamento. Com uma
economia que depende 90% dos serviços, o primeiro importa mais que o segundo.
O índice de surpresas levantando pelo Citibank está em plena
recuperação saindo da “zona de rebaixamento” vista no mês de junho. Naquele
momento, era frequente o uso desse indicador para projetar uma queda da
economia americana.
A Yellen também fará uma apresentação amanhã e os analistas
especulam qual seria sua postura; a de reafirmar que em dezembro o FED aumentará
os juros, ou os dados de inflação recente são suficientes para jogar mais para
frente essa decisão.
Em relação ao mercado de trabalho, a regra de Taylor,
muito usada pelos bancos centrais para projetar o nível de juros, parece não
funcionar mais em nenhum lugar. Como não dá mais para perguntar ao próprio o
que aconteceu, é melhor esquecer no momento esse indicador.
No post o-que-fazer-Yellen, fiz os seguintes
comentários obre o euro: ... “vou
propor dois níveis de compra colocando ½ em cada um. O primeiro seria a € 1,157
enquanto o segundo a € 1,1370, e o stoploss colocado a € 1,10. Quero enfatizar
que não tenho confirmação que essa correção acontecerá da maneira que estou
esperando” ... ... “o Mosca está parado aguardando pacientemente seus níveis
serem alcançados. No meu caso, comprar agora não seria uma boa decisão, pois teria
que colocar o stoploss num nível muito baixo. Porém é importante que o leitor
saiba que acredito em novas altas da moeda única mais à frente”...
Como o gráfico a seguir mostra, o movimento até agora do
euro, nem pode ser considerado uma correção, no máximo uma escorregada! Talvez
com as declarações de amanhã dos presidentes dos bancos centrais mais
importantes, o euro possa decidir para qual lado deseja ir, ou novas altas
acima de € 1,19 ou a tão esperada correção do Mosca.
- David, e se
acontecer sua primeira hipótese e o euro subir, o que você vai fazer?
Vou reconhecer que a moeda única está mais forte que
estatisticamente se poderia esperar pela análise técnica, em seguida, calcular
qual seria seu novo target. Antes que você pergunte, não sei se compro no
rompimento, prefiro aguardar o movimento para poder analisar.
A situação dos traders que acompanharão os eventos de amanhã
no simpósio do FED, é semelhante à que comentei acima, a diferença é que hoje
existe o celular e imagino que estarão com a tela pronta com dois botões BUY ou SELL. Só teria duas recomendações para eles, a primeira pode ser que o mercado reaja diferente do esperado,
ou seja, a decisão já estaria nos preços, a segunda não aperte o botão errado, depois podem ir ao banheiro fazer o seu xixi
tranquilo! Hahaha ...
O SP500 fechou a 2.438, com queda de 0,21%; o USDBRL a R$
3,1415, com alta de 0,13: o EURUSD a € 1,1799, sem alteração; e o ouro a U$
1.285, com queda de 0,31%.
Fique ligado!
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