Trajetória inquietante
Quando a riqueza é mal distribuída num país, o populismo tende
a ganhar força causando a ruptura em algum momento. Um trabalho feito pelo Deutsche Bank mostra
que a desigualdade é uma razão importante do populismo recente, e esse fator
vem crescendo ao redor do mundo sem nenhum sinal de mudança no horizonte.
A ilustração a seguir apresenta quais são os pontos que vem
ocasionado essas desigualdades: Tecnologia, globalização de mercadorias e
financeira, mercado de trabalho, política de impostos e educação.
Para medir a distribuição de riqueza utiliza-se um parâmetro
denominado de índice de Gini que consiste num número entre 0 e 1, onde 0
corresponde à completa igualdade (no caso do rendimento, toda a população recebe
o mesmo salário) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa
recebe todo o rendimento e as demais nada recebem).
O gráfico a seguir apresenta a evolução desse índice em
vários países desenvolvidos. Nota-se que em todos eles houve uma piora nos
últimos anos com os EUA tendo a pior avaliação desta amostra.
Os rendimentos recebidos pelos americanos em 2014 dão conta
desse resultado, 50% recebe U$ 16 mil por ano, enquanto 1% recebe U$ 1,3
milhão, ou seja, 81 vezes maior!
Em relação aos ativos detidos pelos americanos a
concentração não poderia ser diferente, 10% das famílias detêm 75% da riqueza
equivalente a U$ 51 trilhões.
Porém esse fenômeno não é observado somente nos EUA, é
mundial. A próxima ilustração mostra como evoluiu a riqueza dos 1% mais ricos
em cada década desde 1980. Se pode extrair que os EUA, Grã-Bretanha e África do
Sul foram os que mais cresceram, enquanto a França e Alemanha quase não
sofreram evolução. É importante ressaltar que alguns países emergentes, onde a
China se inclui, já possuem concentração de renda semelhante aos países
europeus.
O mais alarmante é que a renda dos 20% mais ricos cresceu
nos últimos 20 anos enquanto a dos 20% mais pobres decresceu, mesmo nos países
emergentes.
Essa trajetória leva a uma situação denominada em física de
equilíbrio instável quando um objeto, após afastado de sua posição de
equilíbrio, continua se afastando cada vez mais da sua posição inicial. Assim,
a elevação da disparidade de riqueza, que tende a aumentar, origina o
crescimento de movimentos populistas que ganham mais força conforme esse
fenômeno cresce.
Mas como poderia essa diferença diminuir? A forma saudável
seria o aumento dos ganhos do grupo mais pobre em detrimento dos ricos, porém
não é o que vem acontecendo e nem parece ser possível atualmente onde uma força
deflacionária causa exatamente o inverso. Outra forma seria uma queda da
riqueza, ou através de intervenções do governo como acontece recentemente na
Venezuela, onde simplesmente eles se apropriam de fábricas e instalações; ou
pela desvalorização ocasionada pela queda de preço dos ativos, que pode
acontecer de diversas formas. Para quem quer se proteger desse risco o ouro é o
refúgio que resguarda na maioria dos casos.
Como havia prometido, o comentário técnico será sobre o
euro. No post almoço-indigesto, fiz os seguintes comentários sobre o euro:
... “Como o gráfico a seguir mostra, o
movimento até agora do euro, nem pode ser considerado uma correção, no máximo
uma escorregada! Talvez com as declarações de amanhã dos presidentes dos bancos
centrais mais importantes, o euro possa decidir para qual lado deseja ir, ou
novas altas acima de € 1,19 ou a tão esperada correção do Mosca” ...
Na última sexta-feira, o euro seguiu pela primeira opção sem
que seja caracterizando como um false break. O que podemos esperar daqui em
diante? Quando um mercado acaba reagindo de forma diferente da esperada pela
estatística, a tendência e tornar-se mais cauteloso, principalmente nesse caso
onde a alta do euro foi robusta. No gráfico a seguir assinalei os dois pontos
onde poderia dar início a tão esperada correção.
O mais provável seria ao redor de € 1,2150 que se
ultrapassado, tenderia ao segundo nível à € 1,245. No primeiro caso uma alta de
1,8% e no segundo 4,2%.
- David, porque não
toma coragem e sugere um trade de compra, afinal o risco de perda é pequeno.
Aparentemente você tem razão, se eu me envolvesse nesse
trade o stoploss seria a € 1,18 equivalente a uma queda de 1,2%. Porém tenho
três considerações a fazer: o mais provável é que aconteça a correção a partir
do primeiro ponto, nesse caso o risco x retorno não parece atrativo, o segundo,
é o que anotei em verde, dois pontos possíveis de reversão - € 1,1950 e €
1,2050 – menos provável, mais possíveis; e por último o euro subiu muito rápido
com um posicionamento bem elevado.
Emocionalmente existe uma tendência a acompanhar o mercado
em situações como essas. O que quero dizer é que, quando a direção que se imagina
está correta, e você aguarda um preço para entrar que não acontece, a ganancia
junto com o ego, podem te dirigir nesse sentido. Às vezes é isso mesmo o que se
tem a fazer, manda comprar e acabo! Mas não é o que parece nesse caso.
Muito importante distinguir essas situações, nem sempre
comprar no rompimento é o adequado. Vamos ver o que acontece nos próximos dias.
Em todo caso, se algum dos leitores quiser comprar, use os parâmetros acima.
O SP500 fechou a 2.444, sem alteração; o USDBRL a R$ 3,1634,
com alta de 0,14%; o EURUSD a € 1,9177, com alta de 0,43%; e o ouro a U$ 1.310,
com alta de 1,50%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário