Vende-se helicópteros


Um breve comentário se faz necessário sobre a votação de ontem no Congresso Nacional, onde os políticos decidiram barrar a denúncia em que a Procuradoria-Geral da República acusa o presidente Temer de ter cometido crime de corrupção.

Com um placar levemente favorável ao presidente os deputados foram contrários à autorização para o Supremo analisar o caso. Os governistas querendo dar um ar de força, já começam essa quinta-feira buscando apoio para aprovar as reformas, que se encontravam paradas, principalmente a da Previdência.

Mas será que existe chance de sucesso? Acho muito difícil. Com a decisão de ontem, fica praticamente acertado que Temer terminará o mandato em 2018, mas muito pouco poderá fazer. No meu entendimento a vitória obtida ontem tem um caráter mais pessoal que institucional, ao garantir que não corre risco jurídico até o final da missão.

Por outro lado, o mercado financeiro deve encarar como positiva essa decisão, pois se não fosse assim, um novo período de turbulência se instalaria. Agora o pensamento volta para o curto prazo, onde a equipe econômica luta para não ter que rever o déficit estabelecido para esse ano fruto da fraca recuperação econômica. Mas num mundo que comprou papeis emitidos pelo governo do Irã, com vencimento em 5 anos, a uma taxa de 6,75% a.a., não vejo como poderemos ter algum problema. Ah, um detalhe, a demanda foi 7 vezes superior à oferta!

Ultimamente o foco sobre política monetária e diminuição de balanço dos bancos centrais, está concentrado nos EUA. Dado a eminencia de mudanças anunciadas pelo FED, não poderia ser de outra forma. Porém, essa ação poderá ser tomada por outros bancos centrais em breve, afinal são U$ 14 trilhões estacionados nos balanços de vários países desenvolvidos.

Hoje queria trazer à tona a situação da Suíça. Relembrando os acontecimentos, depois da crise de 2008 criou-se uma desconfiança sobre o dólar. A reação dos investidores foi buscar um porto seguro para colocar suas reservas. As moedas escolhidas foram o yen japonês e o franco suíço. Em agosto de 2011, quando a moeda suíça já tinha valorizado 40%, o banco central daquele país interviu no mercado vendendo quantidades ilimitadas contra o dólar. Anunciou que estava disposto a intervir quantas vezes fosse necessário. O dólar teve um primeiro impacto com uma pequena recuperação.

Logo em seguida, um outro problema surgiu para o SNB, em 2010 a Europa se encontrava diante de uma crise importante, onde a Grécia foi o primeiro país a sucumbir, ameaçando propagar aos países denominados de Club Med – Itália, Espanha e Portugal. Uma segunda onda de compra originária dos europeus fez com que a cotação do euro contra o franco suíço – EURCHF - valorizasse 40%. Em janeiro de 2015, o SNB decidiu intervir novamente, só que agora fixou o nível de 1,20, comprando qualquer quantidade abaixo desse nível.

Novamente o mercado foi pego de surpresa e as cotações do EURCHF subiram, porém não atingiram o nível de 1,20, permanecendo ao redor de 1,05 – 1,10. Essa situação forçou a autoridade monetária, a vender sua moeda diariamente. Depois de um ano, em janeiro de 2016, resolveu abandonar a cotação fixa, porém anunciou que suas intervenções continuariam sempre que julgasse necessário.

Pouco se sabe se houveram intervenções depois disso, porém como se pode verificar a seguir, as cotações permaneceram relativamente estáveis.


Durante o período acima, o banco central suíço foi comprando interruptamente, lutando para não entrar em deflação. Sua política de juros seguiu de forma semelhante à do ECB implementando juros negativos para os depósitos dos bancos.

Em resumo, durante os últimos nove anos, o banco central suíço se lançou no modelo de intervenção cambial, com resultados questionáveis. Essa intervenção quis passar a ideia de controle da situação ao fixar níveis pré-estabelecidos. Porém a realidade daquele momento se sobrepôs e foi obrigado a abandonar essas amarras num segundo momento.

A Suíça é um país pequeno com uma população de pouco mais de 8 milhões de habitantes e um PIB aproximado de U$ 650 bilhões. O gráfico a seguir mostra a evolução das reservas do SNB, onde se nota claramente os resultados das ações relatadas acima. Notem que o total de reservas é de aproximadamente 600 bilhões CHF, que representam aproximadamente U$ 600 bilhões na cotação atual, ou seja, um PIB inteiro!


A próxima ilustração indica em quais ativos estão investidas essas reservas. A maior parte está em títulos de renda fixa governamentais, que é o que se podia esperar. Mas uma parcela não pouco significativa, aproximadamente de 25%, encontra-se em ações de companhias abertas.


Já o próximo gráfico mostra em que moedas estão esses ativos. Também de forma não surpreendente, praticamente 40% em euros e 40% em U$, e o restante distribuído entre as outras moedas do G7.


Assim como a economia americana e europeia, a Suíça vem se recuperando. O gráfico a seguir dá uma ideia da evolução do PMI nesse país.

 
Esse volume de recursos detidos pelo SNB tem como contrapartida a emissão de franco suíço, que estão nas mãos dos investidores receosos sobre o futuro econômico das principais economias. Mas se as principais economias têm um risco menor de cenários deflacionários, porque esses investidores deveriam manter essa moeda, cujo rendimento é negativo?

Parece que essa realidade começa a prevalecer, pois recentemente o EURCHF começou a subir (notem que o gráfico abaixo está com as cotações invertidas), modificando a estabilidade observada nos últimos anos. É razoável supor que esses investidores que detinham a moeda suíça, resolveram jogar a toalha, e realizar o prejuízo em suas posições. Isso pode ser o início de uma onda de alta mais duradoura. A título de informação, a cotação era de 1,80 antes da crise de 2008.




Mas o SNB terá de reagir em breve, primeiro que a autoridade monetária não deve querer permanecer amarrada ao mercado, segundo que a não fazer nada, deixando sua moeda desvalorizar, corre o risco de alta na inflação, o que não deve estar em seus planos.

Mas se resolver teimar e deixar o mercado pagar um custo elevado, a cotação poderá ir as alturas, pois quem vai comprar franco suíço nesse novo cenário, com juros negativos e inflação podendo subir?

O que se pode esperar é a venda desses ativos por parte do SNB, para em seguida intervir no câmbio. Essa ação será tão rápida quanto for a alta do EURCHF. Ao vender os ativos, não vejo grande problema nos títulos governamentais, afinal essas quantias não são absurdas, mas para as ações não se pode dizer o mesmo, veja a seguir algumas de suas posições.

 
O objetivo do post hoje e alertar para uma mudança importante de fluxo que pode estar começando, onde o caso Suíço não seria nada alarmante. Mas e se o BOJ tiver que fazer o mesmo? Vejam que grifei a palavra tiver pois nenhum banco central poderá assistir esse movimento de braços cruzados.

Olho vivo daqui em diante, não se pode ficar focado somente no FED. A onda de helicópteros de alguns anos acabou, agora estão todos à venda, e talvez ao mesmo tempo sem que haja uma coordenação. Quem vai querer comprar helicópteros? Se os helicópteros forem retirados, os preços dos ativos detidos pelos bancos centrais poderão cair em busca de novos compradores.

Dado a extensão do post não haverá publicação da análise técnica. Também não vai fazer muita diferença, pois os ativos não apresentam nada que mereça destaque. Como havia mencionado, amanhã será publicado os dados de emprego, e caso o resultado seja muito diferente do esperado, poderemos ter mais ação.

O SP500 fechou a 2.472, com queda de 0,22%; o USDBRL a R$ 3,1123, com queda de 0,23%; o EURUSD a 1,1868, com alta de 0,12%; e o ouro a U$ 1.268, com alta de 0,16%.

Fique ligado!

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