A gordura está no fim
Ontem o presidente do Fed, Jerome Powell, fez a sua apresentação semestral de política monetária, relatando as condições da economia americana. A
mudança está no ar, ele deu uma grande pista de que não se
pode mais contar com a política explícita de aumentos graduais de juros, por
muito mais tempo. Isso não significa que os aumentos graduais da taxa
terminarão, apenas que o Fed dependerá menos da orientação futura que tem explicitado
ao mercado. Um ritmo mais lento ou mais rápido de altas de juros, uma pausa
prolongada ou até mesmo um corte de taxa são todas as possibilidades neste
momento.
Powell, é bastante diferente de seu antecessor, a professora
Yellen, como carinhosamente o Mosca a apelidou. Com colocações mais diretas e
sem o mesmo conhecimento acadêmico, deixa seu recado de forma mais direta.
Em seu depoimento na terça-feira, Powell acrescentou o
qualificativo "por enquanto" ao reiterar o compromisso do Fed com a
atual política de aumento gradual de juros. Esta adição sinaliza que o Fed está
se preparando para uma mudança em sua orientação de política monetária.
Por que se preparar para uma mudança? As taxas de juros logo
se aproximarão da tendência central, que os formuladores de políticas estimam
ser neutra, atualmente de 2,8% a 3,0%. Mas esse intervalo é apenas uma
estimativa. A verdadeira taxa neutra é inobservável.
Portanto, à medida que as taxas se aproximam dessa faixa, os
formuladores de política precisam avaliar com mais cuidado o estado atual e
esperado da economia, antes de elevar as taxas cegamente. Eles podiam se dar ao
luxo de estar no piloto automático quando os juros estavam longe de serem
neutros; dentro em breve esse não será mais o caso.
É opinião do mercado que, os próximos dois aumentos de taxa parecem muito prováveis neste momento. A economia exibe uma inflação
muito baixa para considerar a aceleração no ritmo de aumento de juros. Assim, a
alta em agosto parece ser mais provável. e retém muito impulso para o Fed
considerar a pausa na reunião de setembro. Além disso, parece que, deveria ter uma
alta em dezembro, mas não em outubro.
Entretanto, em 2019, a orientação se afastará de uma
expectativa implícita de aumentos de 0,25% a cada trimestre. A autoridade
enfatizará cada vez mais o papel dos dados publicados, na definição da política
monetária. Em seu depoimento, Powell forneceu uma pista sobre o que procurar ao
analisar os dados.
Ele observou que o crescimento recente do emprego é “bem
maior do que o número médio de pessoas que entram na força de trabalho a cada
mês”. Não parece que o Fed acredita que atingiu uma taxa neutra, até
que este não seja mais o caso. Consequentemente, para fazer uma pausa
prolongada, o banco central buscará um crescimento do emprego próximo a 100 mil
por mês, um número que eles esperam estabilizar a taxa de desemprego.
Em poucas palavras, é improvável que o Fed acredite ter
atingido uma política neutra, se o mercado de trabalho estiver suficientemente forte
para colocar pressão contínua sobre o desemprego. Como tal, o Fed continuaria a
aumentar as taxas enquanto procura calibrar buscando a neutralidade. Não se
deve subestimar a determinação do Fed sobre este ponto.
Se o ritmo da atividade econômica diminuir de tal forma que
possam prever razoavelmente um crescimento mais lento dos empregos, enquanto a
inflação permanecer contida, provavelmente alterarão para um caminho ainda mais
gradual e desigual. Por exemplo, se as condições levassem o crescimento do
emprego para uma faixa de 125 mil a 150 mil por mês, os formuladores de
políticas ficariam confortáveis em pular a reunião de março, tomando muito
cuidado para dizer que não esperam concluir o processo de normalização da
política monetária. Afinal, o desemprego ainda estaria abaixo de suas
estimativas da taxa natural de desemprego. Devem assim, esperar que alguma
desaceleração adicional da atividade ainda fosse necessária para chegar a esse
ponto – de concluir o ciclo de alta de juros.
Alternativamente, se receberem sinais consistentes de uma
economia superaquecida, que poderia vir na forma de aceleração do crescimento
dos salários ou de um pouco de inflação, o Fed provavelmente aumentará o ritmo
de altas, mudando para elevações em duas reuniões seguidas. Por exemplo, se as
guerras comerciais pesarem mais fortemente sobre a economia dos EUA do que o
esperado, o Fed poderia até cortar as taxas.
A expectativa é que o Fed continue subindo as taxas a um
ritmo de 0,25% por trimestre até que o teor dos dados mude de forma conclusiva
em uma direção ou outra. Powell, no entanto, está telegrafando aos mercados,
que não devem dar isso como garantido. Em outras palavras, o Fed pretende criar
mais neblina em torno das reuniões de política monetária. Os analistas terão
que trabalhar mais para enxergar através dessa fumaça.
O mercado também esperava ouvir o que Powell diria sobre a
curva de juros do Tesouro. E ele soletrou seu pensamento em termos
caracteristicamente simples: “Se você elevar as taxas de curto prazo acima das taxas de
longo prazo, talvez sua política seja mais rígida do que você imagina. Ou é
apertada, de qualquer maneira”
Logo após essa observação, o spread entre os juros de 2 anos
e 10 anos atingiu uma queda ao nível de 24 pontos. Em outras palavras, a
conclusão foi que o Fed vai continuar elevando gradualmente as taxas de juros
até que algo se rompa. E esse algo poderia muito bem ser a curva de juros.
O comentário de Powell sugere que, enquanto o banco central
vê uma taxa de juros em 2.875% como mais ou menos neutra no longo prazo, como é
sugerido por seu "gráfico de pontos", e se o rendimento dos juros de 10
anos permanecer num intervalo em torno de 2,85%, então talvez os formuladores
de políticas tenham de fazer uma pausa para repensar.
Esta é a grande questão que os bancos centrais e os
investidores enfrentam. Ninguém sabe exatamente como deve ser o aperto após
anos de estímulo monetário sem precedentes.
Parece que Powell se contenta em continuar aumentando a taxa
de referência do Fed e espera que os rendimentos do Tesouro de longo prazo
eventualmente aumentem em paralelo.
Até o final de 2018 não parece que deveria ter grandes
mudanças, mas a política monetária tem efeitos que se manifestam no futuro,
assim, as declarações de Powell são no sentido de preparar os mercados. Se a
inflação permanecer ao redor dos níveis atuais, com um se bem duvidoso
por todas as pressões que podem alterar essa tendência, os juros daqui a pouco
estarão sem a gordura, a que perdurou nestes últimos 10 anos. É natural que em
algum momento o ciclo deve terminar.
Mas tem uma boa notícia no horizonte, a volatilidade vai
voltar a esse mercado, afinal, como comentei na última sexta-feira, não é
possível que os juros de 10 anos fiquem contidos durante 15 dias dentro de um
intervalo de 5 pontos!
No post o-buraco-é-mais-embaixo, fiz os seguintes
comentários sobre o Ibovespa: ...” O gráfico a seguir aponta para o movimento esperado no
curto prazo. Caso a bolsa se recupere para 73,5 mil - 75 mil, e depois tombe
abaixo dos 69.000, provavelmente mudarei minha recomendação de alta para baixa.
Caso o índice continue a subir e principalmente acima de 80 mil pontos
ficaremos felizes, existe uma luz ao final do túnel”...
Como podem observar a seguir, o Ibovespa teve uma
performance muito boa desde que ultrapassou o nível de 75 mil. Mas como
comentei acima, é imperativo que ultrapasse o nível de 80 mil para que se possa
ter uma esperança da continuidade da alta no longo prazo.
Destaquei em cinza o intervalo que deveria nos dar mais
confiança da alta, entre 79 mil e 80 mil, e é nessa proximidade que se encontra
agora a 77,8 mil. Talvez, esse primeiro impulso de recuperação foi originado
pelo pessoal que estava vendido na bolsa, e olha, devia ter bastante gente,
pois o sentimento em relação Brasil era bem negativo. Agora, que essa “limpeza”
foi feita, são necessários fatores adicionais.
O primeiro fator, que acredito seja primordial, seria o
SP500 retornar ao seu movimento de alta. No post recessão-em-2019 comentei que, para que isso se concretizasse era necessário que o índice
superasse o nível de 2.820 e principalmente 2.872. A conferir! No campo
interno, a maior preocupação são as eleições, que continuam muito
incertas. Mas a decisão se o Ibovespa vai subir ou cair deve acontecer antes de
qualquer definição nesse campo. Assim, acredito que o primeiro fator passará a
ser mais dominante.
Se a bolsa americana ganhar a direção da alta, acredito que
isso poderá impulsionar a bolsa brasileira. Ou seja, neste momento estaríamos
dependentes desse desenrolar. Como essa é uma dúvida de segundo grau,
provavelmente se eu propuser um trade, será no SP500 ao invés do
Ibovespa. I’m sorry! O compromisso é
com o bolso e não a torcida para que tudo dê certo por aqui.
O SP500 fechou a
2.815, com alta de 0,22%; o USDBRL a R$ 3,8505, com queda de 0,35%; o EURUSD a €
1,1641, com queda de 0,16%, e o ouro a U$ 1.227, sem variação.
Fique ligado!
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