As opções da China



A China vem sendo ameaçada pelos EUA para que diminua seu superávit comercial. O governo Trump acaba de anunciar elevações nas tarifas sobre o aço, mas não fica por ai, novas medidas prometem seguir o mesmo caminho. O mundo assisti esse movimento nacionalista americano com preocupação temendo que uma guerra comercial se propague entre as nações.

A Gavekal produziu um artigo, do qual compartilho suas principais ideias, onde avalia quais são as alternativas para a China, considerado que seu superávit comercial será bastante afetado.

Dependendo dos preços das commodities, em qualquer ano, a China gasta entre U$ 250 bilhões a U$ 400 bilhões em importações das “cinco grandes” commodities de que precisa para continuar crescendo: petróleo, minério de ferro, carvão, cobre e soja. Antes que ele possa comprar, deve primeiro "ganhar" estes valores. Só então pode vir a comprar o que o país precisa para garantir seu crescimento a longo prazo.


O presidente dos EUA está sinalizando que o maciço excedente da China com os EUA deve encolher drasticamente, o que significa que a China não será capaz de ganhar os dólares americanos de que necessita através do comércio com os EUA. Isso deixa a China num dilema: por um lado, precisa de muito dinheiro, o outro, o presidente dos EUA quer implementar políticas que impeçam a China de ganhar esses dólares. O que a China deveria fazer? Existem várias opções:

1) A China pode optar por ignorar todo o ruído como mera postura política.
Isso seria imprudente da liderança chinesa. Em essência, seria semelhante abraçar a esperança como estratégia.

2) A China pode tentar exercer pressão nos EUA para mudar sua retórica, com o risco de piorar ainda mais uma situação ruim. Isso pode ser feito de diversas maneiras: “atrapalhar” as fusões corporativas, pressão sobre empresas individuais dos EUA, ou talvez até mesmo sinalizando que é possível uma desvalorização do reminbi.

3) A China pode trabalhar para reduzir suas compras de commodities. Isso seria o equivalente a aceitar uma taxa muito mais baixa de crescimento econômico. Obviamente, também provocaria preços mais baixas das commodities. Tal decisão seria muito difícil para o crescimento global, e os mercados emergentes seriam duramente atingidos.

4) Se a China não puder ter acesso a novos dólares americanos pela via comercial, tem que obtê-los vendendo ativos para investidores americanos. Este é uma possibilidade distinta. Claramente, a China continua a abrir seu mercado de capitais para estrangeiros. Mas neste momento esta não é uma boa estratégia para a China, na prática significa vender ativos valorizados a preços subvalorizados. Por que razão investidores estrangeiros estariam interessados?

5) Se os EUA não permitirem que a China ganhe os dólares, eles podem avançar com os planos de cotar os preços das commodities em reminbi. Sempre foi do interesse nacional da China tentar mudar o preço de algumas das suas principais importações de commodities longe do dólar americano. Afinal, por que a China quer permanecer dependente da capacidade e disposição dos bancos americanos para financiar o seu comércio? Esse desejo explica por que nos últimos anos a China começou a internacionalizar sua moeda e abrir seu mercado de títulos domésticos para investidores estrangeiros. Isto também explica o lançamento em março último de um contrato de óleo futuro denominado em reminbi.

As únicas questões restantes são: Será que a recente retórica agressiva de Washington, e os danos que infligiu à OMC, empurram a busca da "desdolarização" da China para a linha de frente? Ou a China recuará para evitar uma resposta ainda mais dura dos EUA? Em resumo, o protecionismo de Donald Trump agora faz a internacionalização do reminbi um imperativo de segurança nacional para a China.

Extrapolando a partir deste último ponto, fica claro que as duas principais questões que confrontam os investidores hoje são:

1)      Quão desestabilizador é o protecionismo de Donald Trump? Essa questão provoca uma grande variedade de respostas. Aqueles de nós baseados no mundo ocidental mais amplo tendem a dispensar a retórica “Trumpiana” como nada além de postura política que terá um mínimo consequências para o crescimento global. Agora, aqueles de nós baseados na Ásia tendem a ficar muito mais preocupados, vendo na mera ameaça do protecionismo uma razão para empresas e formuladores de políticas para mudar os padrões de comportamento que ajudou a gerar tanta prosperidade global ao longo da última geração.

2)      Assumindo que o protecionismo dos EUA é real, o dólar deve subir ou cair? Novamente, esta é uma questão sobre a qual existe pouco consenso. Do meu ponto de vista, tenho dificuldades para aceitar que a decisão de Washington dar ao resto do mundo o dedo do meio, no momento em que seus déficits orçamentários estão explodindo, seria otimista para o dólar. O ponto de partida é que os EUA tem sido a pedra angular do pós-Segunda Guerra Mundial. É por isso que a ordem pós-Guerra Fria foi chamada de “Consenso de Washington”. A recompensa dos EUA por ser a pedra angular, foi ganhar o status de moeda de reserva do mundo, mesmo que o custo de emitir essa moeda, significava estar preparado para executar constante déficits em conta corrente. Agora, se os EUA não estão mais dispostos a gerar déficits em conta corrente, podemos realmente ter certeza de que o dólar vai manter o seu papel como moeda de reserva?

Frequentemente, comparamos as moedas de reserva ao sistema operacional dos computadores: uma vez que a maioria dos usuários adotou um determinado sistema (Microsoft Windows para PCs, o dólar dos EUA para comércio e liquidação das commodities), então é muito difícil para qualquer novo participante do mercado desafiar esse sistema. Um aspirante a um novo sistema não pode ser apenas marginalmente melhor; precisa ser maciçamente melhor para substituir o incumbente.

Por qualquer medida objetiva, o reminbi está muito longe de ser "maciçamente melhor ”do que o dólar americano. Então, a única maneira que o reminbi pode dar passos para o status de moeda de reserva é se os EUA saírem de seu caminho para minar o dólar americano. Cada vez mais parece que é exatamente isso que está acontecendo hoje. Imagine por um segundo se a Microsoft saísse e dissesse: "Não queremos mais vender o Windows para a China", ou se a Bloomberg anunciar: “De agora em diante, não vamos mais vender nossos terminais para fundos". Claramente, o valor dessas empresas iria despencar imediatamente. Apenas o "efeito de rede" do qual essas empresas derivam é tão grande, que parte de seu valor intrínseco seria massivamente prejudicado.

Hoje, os EUA estão efetivamente dizendo ao resto do mundo: "Não queremos dar mais dólares ”. Para sua surpresa, a maioria das pessoas vê essa declaração como inerentemente otimista para o dólar. Sua suposição é que as pessoas não têm escolha senão usar o dólar, e que as ações comerciais dos EUA irão desencadear uma escassez maciça. No entanto, visto da Ásia, esta declaração induz a uma visão baixista para o dólar. Se alguma coisa vai acontecer, será o afastamento do dólar como a única moeda comercial e de reserva da região. Uma vez que essa mudança ocorra, revertê-la será quase impossível.

No post emergentes-sem-descanso, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” Eu apontei em verde no gráfico acima, o argumento técnico para essa venda. O shape é de uma correção, para os entendidos em Elliot Wave, uma onda b” ... ...” a área apontada em vermelho, entre R$ 3,91 a R$ 3,97, passa a ser crucial” ...


O próximo gráfico atualizado apresenta o que eu estava esperando, no cenário com maior chance. Na última sexta-feira, um pouco antes do jogo do Brasil, o dólar iniciou um movimento de queda mais acentuado. O interessante nesse caso, é que nessas situações, os investidores ficam de olho na TV e não no terminal de computador. Será que teve a mãozinha de alguém?  Na abertura hoje, as cotações continuam em queda, em relação ao fechamento de sexta-feira, o que deve afastar essa hipótese.


No gráfico acima tracei o que espero nos próximos dias para o dólar. Caso atinja o nível ao redor de R$ 3,65, devemos observar, mas seguramente sem posição, pois tecnicamente ainda estaria “faltando” uma nova alta.

Com a desclassificação da Copa do Mundo, para nós brasileiros, o foco deverá se voltar para as eleições, além das tramoias do PT, buscando tirar o Lula da cadeia. Todos nós acompanhamos com um misto de perplexidade e raiva os acontecimentos do último domingo, às vezes parece que estou vivendo um pesadelo tamanha a cara de pau de alguns membros importantes desse país.

Essas atitudes de Gerson, de querer ser mais esperto, ainda está enraizada entre nós. Mais surpreendentes são declarações de pessoas esclarecidas acreditando que essa jogada era legal.

O PT ainda tem esperanças de ter Lula como candidato nessas eleições. Acredito ser muito arriscado eles ficarem batendo nessa tecla. Agora se forem bem-sucedidos, e Lula se tornar candidato, acho que o ambiente interno ficara insustentável. Não descarto conflitos nesse caso, afinal, uma parte significativa da população não admite essa hipótese. Espero realmente que não aconteça.

O SP500 fechou a 2.793, com alta de 0,35%; o USDBRL a R$ 3,798, com queda de 1,86%; o EURUSD a 1,1747, sem variação; e o ouro a U$ 1.255, com queda de 0,14%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Eu concordo com suas afirmações em relação ao dólar e a moeda chinesa, mas me questiono o quanto de fato a economia chinesa é viável a longo prazo. Quando olho pra China só consigo enxergar uma grande bolha.
    Uma outra questão é falta de segurança institucional. A China é uma ditadura, não há judiciário independente, imprensa livre, controle sobre os atos do executivo. Nem as estatísticas chinesas são confiáveis. Como esse país pode ter uma moeda que ameacaria o dólar?
    Há uns 10 anos eu achava que o Euro rivalizaria com o dólar como moeda de reserva. Mas o projeto do Euro é cada vez mais cambaleante.
    Hoje eu não vejo um mínimo de ameaça ao domínio do dólar.

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