De quanto estamos falando?
As vezes se começa uma discussão, no mundo dos negócios, sem
se saber exatamente qual o tamanho do problema. Esse resultado pode ser tão pequeno
que não vale a discussão, ou tão grande que coloca a empresa em risco. No caso
da guerra comercial, que a cada dia se alastra, seria importante saber quais
são os desequilíbrios entre os países. De que numero estamos falando?
O FMI publicou um relatório e chegou a duas conclusões:
O excesso de desequilíbrio permanece geralmente inalterado,
cada vez mais concentrado nas economias avançadas. Sua persistência está
alimentando as tensões comerciais entre os países.
A configuração dos desequilíbrios não representa um perigo
iminente. No entanto, se não for resolvido, poderá ameaçar a estabilidade
global no futuro.
O FMI divulgou suas últimas avaliações dos saldos das contas
correntes para as 30 maiores economias. Buscam responder à difícil e frequentemente
controversa questão: de quanto os superávits e déficits da conta corrente são
apropriados ou quando eles sinalizam riscos.
Para começar, os superávits e déficits em si não precisam
ser problemáticos e podem ser apropriados e benéficos. Por exemplo, as
economias jovens e de rápido crescimento precisam investir para crescer - por
isso, muitas vezes utilizam recursos externos importando mais do que exportam e
tomam empréstimos para cobrir o déficit implícito. Em contraste, os países
ricos e envelhecidos podem precisar economizar para se preparar para quando os
trabalhadores se aposentarem - portanto, eles geram superávits e emprestam para
países deficitários.
Os saldos das contas correntes podem, no entanto, tornar-se
excessivos, isto é, maiores do que o garantido pelos fundamentos da economia e
pelas políticas econômicas apropriadas. Desequilíbrios externos excessivos -
tanto déficits quanto superávits - apresentam riscos para países individuais e
para a economia global.
Após o estreitamento da crise financeira global, os
superávits e déficits da conta corrente global permaneceram relativamente
inalterados nos últimos cinco anos em cerca de 3,5% do PIB global. A análise
indica que cerca de 40% a 50% desses saldos globais são excessivos e estão cada
vez mais concentrados nas economias avançadas.
Saldos em conta corrente acima do desejável prevalecem no
norte da Europa - em países como Alemanha, Holanda e Suécia - bem como em
partes da Ásia - em economias como China, Coréia e Cingapura. Balanços abaixo
do desejável permanecem amplamente concentrados nos Estados Unidos e no Reino
Unido.
A persistência de desequilíbrios globais e a crescente
percepção de um campo desigual para o comércio estão alimentando o sentimento
protecionista. Esses impulsos são equivocados. Uma escalada de políticas
protecionistas prejudicaria principalmente o crescimento doméstico e global,
sem grande efeito sobre os desequilíbrios em conta corrente, como também
constata do relatório deste ano.
Embora a configuração atual dos desequilíbrios globais
excessivos não represente um perigo iminente, porém, as projeções sob as
políticas planejadas, apontam que os desequilíbrios crescerão no médio prazo,
acabando por representar um risco para a estabilidade global.
A expansão fiscal planejada nos Estados Unidos provavelmente
aumentará o déficit em conta corrente do país - com superávits maiores no resto
do mundo - e resultará em um ritmo mais acelerado de normalização da política
monetária dos EUA. O consequente aperto das condições financeiras globais pode
ser prejudicial para as economias emergentes e em desenvolvimento,
especialmente as mais vulneráveis que já sofreram alguma pressão.
Ao mesmo tempo, ações limitadas por parte dos países
superavitários para enfrentar seus desequilíbrios sugerem que seus superávits
se manterão. Em um contexto de contínua concentração de déficits nos países
devedores e superávits sustentados nos países credores, as posições de estoque
de ativos estrangeiros líquidos continuarão divergindo, aumentando a
probabilidade de ajustes destrutivos de preços das moedas e ativos nos países
endividados. Tais desenvolvimentos diminuiriam o crescimento global,
prejudicando também as economias excedentes.
Devido ao risco de que os empréstimos estrangeiros se
esgotem, os países com déficit enfrentam maior pressão para equilibrar suas
contas internacionais do que os países com superávit para equilibrar os seus.
Mas quando o ajuste vem, os países devedores e credores perdem.
É por isso que os países superavitários e deficitários devem
trabalhar juntos para reduzir o excesso de desequilíbrios globais de maneira a
apoiar o crescimento e a estabilidade globais.
Na conjuntura atual, em que muitos países estão próximos do
pleno emprego e têm espaço de manobra mais limitado em seus orçamentos
públicos, os governos precisam calibrar cuidadosamente suas políticas para
alcançar objetivos internos e externos e, ao mesmo tempo, reconstruir os
colchões monetários e fiscais.
Finalmente, todos os países devem trabalhar no sentido de
revitalizar os esforços de liberalização comercial enquanto modernizam o
sistema multilateral de comércio - por exemplo, para promover o comércio de
serviços, onde os ganhos com a liberalização do comércio podem ser
substanciais. Tais esforços podem ter pequenos efeitos sobre o excesso de
desequilíbrios em conta corrente, mas podem ter grandes efeitos positivos sobre
a produtividade e o bem-estar, reduzindo o risco de que os desequilíbrios da conta
corrente desencadeiem respostas protecionistas contraproducentes.
Essa é a cartilha clássica de como enfrentar desequilíbrios
na conta corrente global. Porém, com o maior país deficitário sendo os EUA, e a
concentração dos superávits em poucos outros, passa a ser um prato cheio para
governantes como Trump, ameaçar esses outros com sanções e tarifas.
Uma consequência muito maior e de mais longo prazo, foi
levantada num estudo feito pelo Gavekal. Vou procurar resumir seus principais
pontos.
Desde o lançamento do plano Marshall nos anos 70, o dólar
passou a ocupar a posição de reserva global. Mas isso tem vantagens e
desvantagens, a maior vantagem é o monopólio na emissão de dividia com um custo
mais baixo, o que ocasiona a sobrevalorização de sua moeda (desvantagem).
O status de uma moeda de reserva implica que esse país tem
que manter um déficit em conta corrente, consequência da sobre valorização de
sua moeda. Isso implica a destruição de seu setor de produção de bens e
produtos, fazendo com que a economia tende para a produção de alta tecnologia e
armamentos, além de todos os tipos de serviços especialmente os financeiros.
Observando sobre esses aspectos econômicos, a política de
Trump é totalmente incompatível com a ideia de manter o dólar como reserva
global. O principal motivo é que, para incentivar a sua indústria manufatureira
a moeda não poderia estar sobrevalorizada. Uma depreciação do dólar deveria
eliminar os superávits de outros países. Como isso não vai acontecer de forma
natural, a imposição de tarifas, tem a função de diminuir a rentabilidade das
empresas que exportam para os EUA.
Esses impostos tem um efeito implícito de desvalorização do
dólar, pois resulta na redução equivalente nos preços relativos, entre os
produtos produzidos nos EUA relativos aos importados. O que se pode esperar com
essa política é que o dólar lentamente perca valor e talvez enfraqueça a um
nível onde a indústria americana será novamente competitiva.
Essa mudança estrutural terá consequências importantes em
diversos segmentos do mercado financeiro, onde os países endividados em dólares
deverão ser os mais prejudicados, pela falta de liquidez, consequência da
diminuição do déficit americano.
Nesse cenário aonde a hegemonia do dólar será colocada em
cheque, mesmo porque, o Presidente Trump jamais pensou nessas consequências. Nota-se
o esforço da China em desdolarizar a Ásia e o petróleo, oferecendo o yuan como
um candidato potencial para substituir o dólar.
Porém isso pode demorar tanto tempo que o Trump nem será
lembrado como o culpado de tamanha besteira, talvez seja aplaudido por trazer
de volta a produção de bens para os EUA. Diferentemente dos Chineses que não
estão preocupados com os próximos quatro anos, mas como os próximos 30!
No post a-gordura-esta-no-fim fiz os seguintes
comentários sobre o Ibovespa: ...” Destaquei em cinza o intervalo que deveria nos dar mais
confiança da alta, entre 79 mil e 80 mil” ... ...” O primeiro fator, que
acredito seja primordial, seria o SP500 retornar ao seu movimento de alta” ...
…” Se a bolsa americana ganhar a direção da alta, acredito que isso poderá
impulsionar a bolsa brasileira. Ou seja, neste momento estaríamos dependentes
desse desenrolar. Como essa é uma dúvida de segundo grau, provavelmente se eu
propuser um trade, será no SP500 ao invés do Ibovespa” ...
Para os leitores que não tem aceso as bolsas internacionais não
devem ficar chateados com a colocação que fiz acima. Para esses tenho uma boa
notícia, se o Ibovespa ultrapassar os 80 mil pontos, e principalmente 82.201, e
bem provável que não vou considerar mais o cenário de queda estrutural, como
comentei no post: ...” Caso a bolsa se recupere para 73,5 mil - 75 mil, e depois tombe
abaixo dos 69.000, provavelmente mudarei minha recomendação de alta para baixa”
.... Posso até me aventurar numa compra.
Mas por enquanto tudo isso é torcida, pois num país cujo
candidato a Presidente, Ciro Gomes, diz que ele precisa ser eleito para
libertar o Lula, e pôr o Judiciário na “caixinha”, tudo é possível. Na minha
opinião, o maior risco que corremos em relação aos candidatos e esse sujeito
destemperado, autoritário e machista. Ah, e o melhor, diz que com tranquilidade
reduz o déficit público em 2 anos através de aumento de tributos. Prefiro, nem
comentar, essa ideia de jerico. É triste saber que, alguns analistas consideram
que ele tem chance de ir ao segundo turno. Espero que estejam errados.
O SP500 fechou a 2.846, com alta de 0,91%; o USDBRL a R$
3,6983, com queda de 1,30%; o EURUSD a € 1,1733, com alta de 0,43%; e o ouro a
U$ 1.231, com alta de 0,62%.
Fique ligado!
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