A bolsa ia cair? #SP500

 


Mais uma vez observamos os analistas mudarem de opinião sem que suas teses sejam eliminadas, pois os riscos ainda existem. Hoje observei a boa quantidade de artigos “justificando” por que a bolsa americana está subindo, alguns mais envergonhados e outros na maior cara de pau, como poderão ver a seguir.

Essa situação me faz lembrar de um alto executivo financeiro de banco, que nunca errava. Certa vez, ele me fez um relato de como tinha entrado na bolsa no momento certo, o bumbum da Mosca. Passados alguns dias, a bolsa reverteu feio a alta, estava louco para encontrá-lo. Num desses eventos me acerquei dele e perguntei:

- Nossa, você deve ter tido um prejuízo grande, estava tão animado e a bolsa reverteu repentinamente.

Sua resposta:

- Você não vai acreditar, eu “senti” que as coisas não estavam indo bem e saí de toda minha posição.

Isso por si só já era suficiente, mas complementou:

- Não só eu zerei, mas fui para a posição vendida. Estou ganhando uma nota.

Seguramente, se ele fosse um comentarista, estaria se vangloriando de sua esperteza financeira, mas eu queria ver sua planilha de resultados publicada! Hahaha ...

Vejamos alguns comentários.

Aaron Brown relatou na Bloomberg sobre um indicador técnico denominado de RSI 1 – Índice de Força Relativa, que se encontra agora cima de 70.

1 Como um indicador de impulso, o índice de força relativa compara a força de um título em dias em que os preços sobem com sua força em dias em que os preços caem.

O RSI usa um cálculo de duas partes que começa com a seguinte fórmula:

RSIstep one=100[100/(1+(Average loss/Average gain))]

O número padrão de períodos usados para calcular o valor RSI inicial é 14.

O mercado de ações tem o que os investidores gostam de chamar de momentum [ímpeto]. Isso é claramente visto no que é conhecido como o Índice de Força Relativa, que subiu cerca de 77%, a máxima desde setembro de 2020. Leituras acima de 70 geralmente indicam que um ativo está sobrecomprado, e leituras abaixo de 30 sugerem que algo está sobrevendido. Então, essa métrica está recebendo muita atenção no momento, mas o que ela realmente significa? Talvez não seja o que você pode pensar.


Desde que o analista técnico J. Welles Wilder Jr. apresentou o RSI em 1978, houve 40 sinais de compra, com o retorno total médio do S&P 500 no mês subsequente em 1,3% e desvio padrão de 3,9%, contra um retorno mensal médio geral de 0,9% e desvio padrão de 4,7%. Assim, você obtém um retorno médio um pouco maior, com um pouco menos de risco. Alternativamente, houve 41 sinais de venda, após os quais o S&P teve um retorno médio mensal de 0,7% com um desvio padrão de 5,3%.

O valor atual do RSI se deve aos ganhos totais de 3,2 vezes as perdas nas últimas semanas. Isso diz aos investidores duas coisas: (1) que o mercado está subindo e provavelmente continuará subindo por algum tempo, e (2) que o RSI deve reverter para 53% ou mais, o que exigirá uma queda ou um período sustentado de retornos diários majoritariamente negativos. Em média, o S&P 500 deve cair cerca de 20% acumulado assim como o RSI, então se o RSI perder 25%, passando de 76,1% para mais normais 51,1%, o S&P 500 terá que cair 5%. Esta é mais uma conclusão da matemática do que da economia. É claro que o S&P 500 pode subir bastante - mais de 5% - antes de começar a cair. Mas quanto mais sobe antes de começar a diminuir, maior é o RSI e maior a queda que se segue.

Nitidamente, Brown quer deixar implícito que subiu muito e que deveria cair, mas lógico, sem se comprometer.

John Authers busca argumentos para a alta na Bloomberg, porém já deixa seu recado de início no título “O medo de ficar de fora pode impulsionar essa debandada até que uma recessão a interrompa”. Notem que não deixa dúvida de que haverá uma recessão. Seu contexto versa sobre a liquidez.

Como aponta Torsten Slok, da Apollo Management, há uma correlação notável entre a flexibilização quantitativa líquida (compras de títulos) do Fed desde o início da pandemia, em março de 2020:




Se você acha que isso parece familiar, parece mesmo. O rali após a crise financeira global atingir o fundo do poço em março de 2009 tem sido descrito como o mais odiado da história. Os preços dos ativos subiram mesmo com o crescimento econômico abaixo do esperado e o aumento da desigualdade levando grande parte da população à distração. A correlação entre o tamanho do balanço do Fed (a quantidade de títulos que ele comprou) e o S&P 500 foi surpreendentemente próxima:




A correlação não prova causalidade, é claro. Mas o que está acontecendo agora lembra muito outro momento em que a bolsa ganhou e continuou subindo, apesar de todos os indícios de problemas na economia.

Tudo isso parece estranho, já que os bancos centrais tendem a surpreender em uma direção hawkish nos últimos tempos, com o Reserve Bank of Australia e o Banco do Canadá achando necessário retomar a alta depois de terem "pausado" os aumentos de juros. O próprio Fed agora parece pensar que outros dois aumentos de juros estão chegando este ano, se o resumo das projeções econômicas da semana passada for um guia.

Mas os bancos centrais podem aumentar os juros enquanto expandem a liquidez por outros meios, como fizeram após a crise bancária há três meses. A liquidez proporcionada aos bancos, através de maior facilidade para tomar empréstimos dos bancos centrais, foi direcionada para ativos de risco, como mostra o primeiro gráfico acima. Enquanto isso, os bancos não estão com problemas tão profundos quanto parecia inicialmente, e não parece haver nenhuma corrida séria aos depósitos. A própria posição do Fed é que ele pode salvaguardar consistentemente a estabilidade financeira com uma ferramenta, liberando liquidez no sistema, enquanto combate à inflação com outra ferramenta, taxas de juros mais altas.

John Authers engoliu goela abaixo essa explicação, mas está longe de ficar convencido de que é duradoura.

Talvez a mais interessante seja do estrategista do Morgan Stanley, Michael Wilson que previu a queda do ano passado quando a maioria estava na outra ponta, e que nos últimos meses vinha orientando seus clientes a aproveitar a alta para diminuir suas posições em ações pois projetava que o SP500 iria para 3.500. Ontem publicou uma nota com o seguinte teor:

“Dada a nossa visão fundamental sobre o crescimento, achamos difícil aceitar a empolgação atual”, escreveu Wilson em nota na terça-feira. “Se o crescimento do segundo semestre voltar a acelerar conforme o esperado, a narrativa otimista usada para apoiar os preços das ações será comprovadamente correta. Caso contrário, muitos investidores podem ter um despertar amargo, devido ao grande alcance do risco que estamos vendo.”

Parece aquela frase que já ouvi do tipo: se a bolsa não cair, vai subir! O que vocês entendem dessa declaração, jogou a toalha ou colocou na sua mão para jogar?

Talvez o único analista que merece alguma credibilidade é Jim Reid, do Deutsche Bank, que publicou no início do ano que o SP500 subiria até 4.500 por agora mesmo, tendo uma visão de que a economia americana vai sofrer uma recessão. Me recordo que indaguei quando notei esse número — pois como seria isso possível? —, e ele me respondeu em dezembro de 2022:

Binky acha que com uma recessão durando dois trimestres, o declínio no terceiro trimestre será forte e depois os mercados vão reagir para cima como fazem normalmente no final da recessão.

Na visão do crédito, nossos modelos indicam que a recessão poderia ser um pouco mais longa e profunda...

Espero que isso faça sentido...

 



 Vamos ver se ele acerta no segundo semestre! Segundo suas previsões, a bolsa iria capotar daqui em diante, para 3.250! será?

 Mas qual a visão do Mosca? Na minha humilde opinião, o mercado estava posicionado para um cenário horrível de alta inflação, juros subindo e economia desacelerando, impactando o balanço das empresas. Tudo isso acabou não acontecendo, pelo menos por enquanto, com exceção dos juros, que subiram mais do que o previsto.

Para terminar meus comentários fundamentalistas – é, também posso dar palpites! Hahaha .... quero enfatizar que, se por acaso a economia americana não entrar em recessão e continuar crescendo saudavelmente (o que pode ser difícil de imaginar com juros tão elevados), a estrutura de taxa de juros está muito errada, pois a diferença entre os títulos de 10 anos menos o de 2 anos está nas mínimas, esperando pela recessão ocorrer. Isso pode machucar bem os mercados.





No post virou-torcida fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “eliminei a contagem que vinha adotando, tomando daqui em diante a opção que chamei de mais agressiva. Nesse cenário o movimento em curso deveria atingir entre 4.380/4,390 completando a onda I, para em seguida entrar numa correção na onda II que levaria a bolsa entre 4.280/4.240 a ser mais bem calculado no futuro” ...




Ontem acabei trabalhando nos gráficos da bolsa americana. Tudo indica que a correção terminou em outubro do ano passado e entramos num novo ciclo de alta que levaria o SP500 acima das máximas que ocorreram no final de 2021. Quero enfatizar que não é certeza absoluta e sim o mais provável, pois somente quando ultrapassar 4.778 poderemos relaxar.

Se eu estiver certo, ficará muito difícil identificar as ondas em janelas menores, pois é assim que ocorre nas ondas 3. No curto prazo, parece que uma correção está em andamento, cujo objetivo poderia se situar entre 4.330 ou mais abaixo 4.270. Somente nos próximos dias poderei identificar melhor.




Aonde essa correção não poderia ir: está anotado como stop loss a 4 186. Caso ocorra, vou ter que refazer minhas hipóteses. Como primeiro objetivo de alta, seria 4.786.

O SP500 fechou a 4.388, com queda de 0,47%; o USDBRL a R$ 4,7924, com alta de 0,32%; o EURUSD a 1,0912, sem variação; e o ouro a U$ 1.936, com queda de 0,70%.

Fique ligado!

Comentários