Profundezas em finanças
Antes de escrever o post de hoje, avaliei se o seu conteúdo
não poderia ser muito avançado aos meus leitores. Não que não tivessem capacidade
de entender, mas por se tratar de um assunto técnico. Por outro
lado, depois de cinco anos postando todos os dias, achei que seria a hora de testar.
Uma das medidas para avaliar se uma economia projeta
crescimento ou não, é através da curva de juros, que nada mais é que um gráfico
que contém os níveis de juros conforme seu vencimento. Graficamente existem
quatro cenários: Normal, invertida, flat e “corcunda”, conforme a figura
abaixo.
Normal: Como o
próprio nome diz, acontece em situações normais de crescimento, onde se é
esperado que a remuneração seja mais elevada conforme o prazo aumenta.
Flat: Essas
situações podem acontecer quando os juros no curto prazo estão elevados por que: ou o BC quis reduzir os riscos de inflação, ou porque a atividade econômica estava
acima do desejado. Ao normalizar esse cenário, espera-se que as taxas de juros curtas
caiam a um nível mais normal. Desta forma, os juros longos e curtos são
semelhantes, a curva torna-se flat.
“Corcunda”: Esta
forma, onde os juros de médio prazo são superiores ao de curto e longo prazo acontecem por situações mercadológicas, como um excessivo vencimento de títulos
no médio prazo, ou algum outro motivo, não existindo um fator econômico que
justifique.
Invertida: Esse é
o caso clássico de se antever uma recessão, pois só faz sentido um investidor
comprar um título longo, se acreditar que os juros curtos irão cair
significativamente. Fica implícito que, a autoridade monetária irá reduzir
sensivelmente os juros de curto prazo.
O mercado americano usa para avaliar esses cenários, a
diferença de juros entre os vencimentos de 2 anos e 10 anos, o que eles
denominam – 2/10 spread .
O juro de curto prazo é muito sensível aos movimentos do
FED, se ele pretende subir os juros, esses títulos reagem imediatamente, se
pretendem diminuir acontece o inverso. O mesmo não se sucede com os juros de 10
anos que são dirigidos por outras variáveis como: projeção da inflação, oferta
e demanda desses títulos, crescimento da economia entre outros.
Existem estudos mostrando que todas as vezes que esse spread
fica negativo a economia entra em recessão mais a frente, assim muitos
analistas acompanham de perto essa variável.
Agora vamos a situação que vivemos hoje, ontem foi publicado
as minutas da última reunião do FED realizada em abril. Nesse documento está
explicito que alguns diretores do FED querem subir os juros já na próxima
reunião de junho. Essa revelação pegou o mercado de surpresa, pois a probabilidade desse evento estava em apenas 34%. Imediatamente após a
publicação, passou para 67%.
Todos sabem que os juros encontram-se artificialmente
baixos, o objetivo do FED é incentivar a demanda. Acontece que o mercado tem
dúvidas de como seria essa normalização para atingir o nível almejado de 3,5%.
Um título de 2 anos pode ser muito curto para atingir esse
objetivo de taxa, porém um de 10 anos não. Numa situação como hoje, a curva de
juros deveria ser a normal e o spread
2/10 estar subindo, porém não é o que vem ocorrendo.
No gráfico abaixo, a linha vermelha é relativa ao juro de 10
anos, enquanto a rosa, o de 2 anos. A área em branco indica a diferença entre
ambos.
A título de ilustração observem que:
- No período de 2007, a curva estava flat, pois o mercado esperava que o FED
baixasse o juro para enfrentar a crise;
- Entre 2009 - 2011, o mercado imaginava que o FED começaria
a subir os juros, nesse momento a curva estava normal.
- Em 2012 a autoridade monetária implementou o QE3, pois a
economia começou a cambalear, o spread caiu novamente, e jogou-se à frente o
início do aperto monetário.
- Já, no início de 2014, o spread voltou a subir.
Até 2014, acredito que com um pouco de distorção aqui, um
pouco acolá, nada de muito dramático aconteceu na curva de juros.
Porém algo muito estranho sucedeu a partir daí. O spread
diminuiu da forma mais rara, com o juro de 2 anos subindo e o de 10 anos
caindo.
Eu até consigo imaginar uma situação onde isso pudesse ocorrer,
se, por exemplo, os juros do FED funds
– CDI americano, estivessem em 3%, os juros de 10 anos em 6%. Neste caso, imaginando que o FED subisse os
juros para conter uma pequena alta de inflação ou atividade mais aquecida, a curva estaria correta.
Mas com o FED funds
a 0,25% a.a., e os juros de 10 anos a 1,75% a.a., em conjunto com o FED pretendendo subir os juros para 3,5% a.a., sou levado a concluir que, quem compra
um título de 10 anos é louco!
A explicação dada pelos analistas, para essa distorção em sua
essência é que, quem está comprando esses títulos mais longos são os estrangeiros, em busca de algum juro positivo, haja visto que, uma grande maioria dos bonds
tem juros negativos ao redor do mundo.
O Wall Street Journal publicou um simulador que calcula
quais seriam os prejuízos num eventual ajuste dos juros nos títulos longos. Eu selecionei uma alta de 2% a.a. O gráfico aponta qual seria o impacto no preço dos
vários títulos soberanos que circulam no mercado global.
Um pouco complicado? Entendo que seja, mas vamos ver quais
são as conclusões que podemos tirar:
1)
A curva de juros está assim porque o
mercado aposta que o FED vai parar de subir os juros, ou até reduzir logo
adiante. Se isso ocorrer, os bonds longos são uma boa opção de investimento, mesmo pagando esses míseros 1,8% a.a.
2)
A curva está totalmente distorcida pela compra
desesperada dos estrangeiros, mas algum dia retornarão os juros, a um nível
mais “correto”. Neste caso, deve-se levar em conta o prejuízo calculado acima.
- David, e onde você
se enquadra?
Não tenho viés nenhum, fico só observando! Não é para menos
que venho enfatizando a indefinição nesse ativo!
No post depressão-pós-impeachment, eu fiz os seguintes comentários
sobre os juros de 10 anos: ...”compraria os juros – acreditando que subirão. Mas minha
convicção é baixíssima, só com um revolver para tirar isso da minha boca. O
motivo da compra é puramente técnico...” Minha recomendação básica é: ...” Numa
tendência de alta, acima de 2% a.a. daria a primeira indicação, porém é acima
de 2,20% - 2,30%, onde ficará mais forte o sinal. Caso contrário, na queda, o
nível de 1,65% a.a. rompido, oferecerá o sinal para novas quedas”...
Quem seguiu minha recomendação está ganhando alguns
“trocos”, mas continuo sem nenhum segurança se a tendência de baixa dos juros
já reverteu. Pelo contrário, tracei um triângulo que pode estar se formando,
onde o sentido mais provável é para baixo.
Se você comprou os juros, recomendo um stoploss no preço de
entrada, dedo no gatilho!
Para todos os outros não vamos fazer nada até que o mercado decida para onde quer ir. Assim, os níveis acima são nossos guias de
entrada.
O SP500 fechou a 2040, com queda de 0,37%; o USDBRL a R$ 3,5167, com queda de 0,15%; o EURUSD a 1,1200, com queda de 0,13%; e o ouro a US$ 1.254, com queda de 0,31%, esse nível ativou nosso stoploss.
Fique ligado!
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