Jeans ou dólar?
Para quem vive no Brasil, principalmente quem já tem certa idade,
é obrigatório entender de câmbio. Lembro certa vez no BFB quando um fabricante
de jeans veio conversar comigo, pois tinha uma dívida cambial e estava
preocupado com uma possível maxidesvalorização.
O mercado não era tão sofisticado e não existiam mecanismos
de hedge, como hoje em dia. No banco implementamos o que talvez foi o primeiro
contrato de swap. Tinha uma diferença importante em relação aos contratos
atuais uma vez que, não existia mercados futuros e era proibido ficar vendido
em dólares no mercado a vista. A solução foi indexar as NTN’s cambias, títulos
esses que eram atrelados ao dólar.
Comecei explicando a esse empresário como funcionava essa
operação e quais os riscos envolvidos, haja visto que não era um hedge
perfeito. Depois de ouvir atentamente minha explanação, ele disse: ...“além de
entender de jeans eu tenho que entender disso também?”... Entendi sua angústia,
mas minha resposta foi um sim!
Nos anos 2000 comecei a me envolver com o mercado de câmbio
internacional, e por sorte ou não, tive um resultado muito positivo ao ficar
comprado no euro e seus derivados a 0,87. Daí em diante, não existe nenhum dia onde
não acompanho as principais moedas, e tenho que confessar que, é esse o ativo
de minha preferência. Com um movimento diário de US$ 5 trilhões, é disparado o
de maior liquidez mundial.
Acontece que, depois da crise de 2008, com a interferência
financeira de vários BC’s, esses mercados mudaram. Quem usa fundamentos para
análise está sujeito a grandes erros, não por sua análise, mas que agora o
movimento do câmbio é movido por outras variáveis. Assim, a análise técnica
passa a ser mais útil.
Hoje quero comentar uma correlação, que imagino espúria mas que
acabou acontecendo com as moedas dos países emergentes. Mas antes disso, queria apresentar o gráfico a seguir mostrando a evolução do PIB dos países emergentes.
Se um país tivesse um critério de seleção como numa empresa,
alguém contrataria a Dilma?
As moedas dos países emergentes normalmente são movimentadas
pela expectativa de crescimento e sua balança de pagamentos. Quando a primeira
está bem e a segunda ruim, o mercado tem certa complacência, mas se a primeira
está mal e a segunda também, sai da frente, os estrangeiros vêm babando para
ficarem vendidos até as tampas no câmbio desse país.
O gráfico a seguir mostra algo que realmente é
surpreendente, embora hoje em dia, mais e mais isso venha acontecendo, é a
correlação entre uma cesta de moedas de emergentes contra a bolsa de valores.
Ao invés de ser conduzido por dados econômicos ou a política
monetária, as taxas de câmbio dos mercados emergentes são os mais intimamente
ligados aos movimentos das ações e commodities, desde pelo menos 2013. Quando
caem, é quase certo que o iene irá subir, e vice-versa.
A razão é o FED, me explico, se ele sobe os juros, o dólar
deve subir e a atratividade das bolsas piorar, mesmo que seja porque a economia
está dando sinais de melhora. Eu pessoalmente fico espantado com esse racional,
e o motivo é que não estamos falando que os juros estão a 5% e terão que subir
para 8%. Aqui é se vai subir míseros 0,25% e devagarzinho, como tudo pode ser
tão sensível a esse movimento?
Acredito que o receio do mercado não seja esse que é usado
como racional, mas a possibilidade de elevações muito maiores se a inflação
sair de controle.
Como dizia meu ex-sócio “contra o fluxo não há argumentos” e
essa correlação deverá existir por um tempo. A teoria de diversificação fica
completamente comprometida e não adianta lutar contra, deve-se incorporar por
enquanto essa tendência. Assim recomendo usar ativos líquidos em qualquer
investimento que se faça, uma mudança de ideia deve poder ser executada
rapidamente.
Não podemos esquecer
o tema do Mosca para 2016 “US$ The return?”, pois uma nova alta da
moeda americana vai influenciar o real. No post as-aparências-enganam, tinha definido dois níveis
para uma possível reversão da queda recente: ...” Podemos esperar uma queda até o nível de 93 (1), ou
até 90 (2), para que a partir daí retorne o movimento de alta”...
Do ponto de vista técnico está tudo pronto para que o DXY
reinicie seu movimento de alta. Respeitou o nível de 93 e reverteu, está
buscando ultrapassar o canal de baixa (1). Só é possível afirmar com certeza
acima de 100,5, mas uma aposta com um stop a 94 pode ser bem-vinda, embora seja
mais prudente aguardar o rompimento em (1), com um fechamento semanal acima de
95,5.
A reunião de junho do FED pode ser um triger para acelerar
esse movimento, se houver o aumento de juros que foi aventado na ata publicada
essa semana. Mas como todo bom analista técnico, o que importa o que o FED vai
fazer ou não? Observa os preços e pronto!
O SP500 fechou a 2.052, com alta de 0,60%; o USDBRL a R$ 3,5195, sem variação; o EURUSD a 1,1222, com alta de 0,20%; e o ouro a US$ 1.251, com queda de 0,19%.
Fique ligado!
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