Risco de dívida elevada
Hoje se discute abertamente a situação delicada do
endividamento brasileiro. Em todos os jornais, é consenso que se não houver uma
redução do buraco gerado pela nossa Previdência, é questão de tempo para que
nos tornemos insolventes. O endividamento e sua sustentabilidade é um conceito
que vale para pessoa física, empresas e países.
No post de hoje, vou me basear num documento elaborado sobre
o risco da dívida americana.
A emissão de dívida é normalmente sujeita a um contrato que
será reembolsado no final do seu prazo, juntamente com os juros. Na prática, os
governos e muitas corporações transferem as dívidas para novas obrigações ao
final de seus prazos, mas pelo menos os detentores de bônus têm a oportunidade
de receber seu capital. Portanto, a credibilidade da dívida do governo é
baseada na suposição de que o emissor pode continuar a rolá-la, em vez de
pagá-la.
No entanto, o rompimento de dívidas antigas e a adição
contínua de novas, quase certamente se tornarão um problema para os governos em
todos os lugares. É um problema menor quando a dívida é posta em uso produtivo,
mas isso é raramente, ou nunca, o caso das finanças do governo. Para julgar se
a rolagem da dívida é sustentável e a que custo, precisamos confiar em outras
métricas. O método tradicional é comparar dívida pendente com o PIB, e usando
essa abordagem de dois economistas (Carmen Reinhart e Ken Rogoff) chegaram a
uma regra geral de que, uma vez que a dívida do governo sobre o PIB excedeu
aproximadamente 90%, o crescimento econômico se torna progressivamente
prejudicado.
O artigo de Reinhart-Rogoff foi empiricamente baseado, e
vagamente nos impressiona que a situação atual para os EUA e outras nações com
maior dívida em relação ao PIB é insustentável. A chave para esse raciocínio é
que os níveis crescentes da dívida desviam as poupanças do financiamento do
crescimento econômico e, portanto, a capacidade do governo de atendê-lo devido
ao aumento dos impostos é prejudicada. No nível de 90% ou mais, as taxas médias
de crescimento nos países da amostra caíram 1%. É inteiramente lógico que, um
governo tenha forçado a taxar excessivamente seu setor privado para pagar juros
da dívida, irá restringir o potencial econômico em geral.
Esta análise foi publicada na sequência da crise do Lehman,
quando uma aceleração não orçamentada na taxa de aumento da dívida pública em
todos os lugares, era uma preocupação premente. Os sinais dos mercados
financeiros indicavam que poderíamos estar à beira de uma nova crise de
crédito, em cujo caso, as receitas fiscais cairiam novamente abaixo das
estimativas existentes, e os custos de bem-estar subiriam acima deles.
Portanto, a dívida do governo aumentará inesperadamente, como foi o caso que
fez com que o artigo de Reinhart-Rogoff fosse publicado em 2010.
Olhar para o aumento da dívida pública entre 2007 e 2009,
como Reinhart-Rogoff fez, não foi, como se viu, um período de tempo
suficientemente longo para refletir totalmente as consequências. Todo o período
entre a crise do Lehman e a eleição do Presidente Trump é talvez um melhor
período de tempo, e vemos que a dívida do governo dos EUA entre 2007 e 2016
aumentou 217%.
Acontece que o relatório Reinhart-Rogoff subestimou
gravemente o problema relatando muito cedo. A dívida de 90% em relação ao PIB
foi deixada para trás, uma vez que, a dívida do governo em relação ao PIB em
todo o mundo, está acima de 100%. No caso dos EUA, o total da dívida federal,
incluindo participações intragovernamentais, está atualmente acima de 105% e
subindo.
Isso pressupõe que não há crise de crédito, portanto, para
aqueles de nós que sabem que haverá uma nos próximos dez anos, esses números
são otimistas demais. Assim, devemos olhar para dois resultados possíveis:
primeiro, um melhor caso em que a inflação de preços continua a ser gerenciada
com sucesso, com uma meta de dois por cento, e um segundo caso básico
incorporando uma estimativa dos efeitos do próximo ciclo de crédito no governo.
O melhor resultado de inflação de preços controlada é
essencialmente o previsto pelo Escritório de Orçamento do Congresso.
Esse é o nosso melhor caso. Agora vamos supor o resultado
mais provável, nosso caso base, que é onde os efeitos de um ciclo de crédito
desempenham um papel. Isso levará a uma queda nas receitas do Governo Federal e
a um aumento nos gastos totais.
Tomando os dois últimos ciclos (2000-07 e 2007-18), estes
levaram a aumentos da dívida pública de 59% e 239%, respectivamente. Portanto,
está claro que os empréstimos já estão se acelerando rapidamente por um tempo
considerável, devido em grande parte ao efeito desestabilizador de ciclos de
crédito cada vez mais violentos. Se o próximo ciclo de crédito apenas coincidir
com os efeitos sobre as finanças do ciclo de crédito de 2007-18, espera-se que
a dívida pública incluindo as participações intragovernamentais subam para US $
51,4 trilhões até 2028. Isso se compara à previsão implícita da CBO de apenas
US $ 34 trilhões de dívida do governo.
Como a tendência subjacente é que os sucessivos ciclos de
crédito se agravem, o valor de US $ 51,4 trilhões para a dívida do governo
federal torna-se uma cifra base a partir da qual se pode trabalhar. Mas ainda
há incertezas consideráveis, particularmente sobre a forma que será necessária.
É improvável que o caráter do próximo ciclo de crédito
replique o último, o que foi um repentino choque financeiro e sistêmico.
No entanto, seria complacente esperar que um resultado de
inflação de preços relativamente baixos fosse simplesmente repetido em um
momento em que as finanças do governo estão ainda mais drasticamente fora de
controle. A última vez que a ameaça foi sistêmica, recaiu sobre os bancos, mas
da próxima vez as consequências inflacionárias das finanças do governo
provavelmente será o problema dominante.
A explosão na quantidade de dívida do governo que nossa
análise implica tem muitas consequências econômicas. O crescimento da dívida
federal que replica a experiência pós-Lehman deixará o governo dos EUA com uma
relação dívida / PIB de mais de 170%. O CBO considera que o PIB aumentará em
48% até 2028, para US $ 29,803 trilhões, enquanto nosso caso cíclico é para que
a dívida aumente para US $ 51,4 trilhões. Embora ambos os números devam ser
tomados como meramente indicativos, a dívida do governo dos EUA aumentará em
ritmo mais acelerado do que o crescimento do PIB e estrangulará a atividade
econômica.
Se o poder de compra do dólar cair mais rapidamente do que o
implícito na meta de inflação de 2% assumida pela CBO, os juros a pagar sobre a
dívida federal serão, por sua vez, nitidamente mais altos que o esperado,
agravando o problema da dívida. O Governo Federal enfrentará uma armadilha de
dívidas potencialmente terminal da qual não pode escapar.
Embora esse artigo tenha um caráter mais técnico, pode ser
resumido da seguinte forma: Para evitar que a crise de 2008 desembocasse numa
profunda deflação, os governos dos principais países emitiram volumes
substancial de dívida para injetar recursos nas economias, comprando títulos
privados de credito, títulos hipotecários e do governo. Colocaram as taxas de
juros em níveis tão baixos, nunca antes vistos, acreditando que poderiam
estancar um movimento desordenado de quebras de bancos.
A contrapartida foi a elevação substancial da dívida dos governos.
Passados 10 anos, a recuperação econômica, de maneira geral, ficou muito aquém
do imaginado.
Agora que esses bancos centrais – nem todos, gostariam de
normalizar os estoques de títulos em seu poder, e para que possa retornar a uma
situação mais saudável, é importante que o crescimento econômico supere o
crescimento da dívida, pois caso contrário, o numerador que é a dívida sempre
cresce, enquanto o denominador, o PIB, pode não acontecer o mesmo.
Outro fator que o artigo chama a atenção é sobre a inflação,
pois caso a mesma saia de controle, os juros tenderam a subir, agravando ainda
mais essa situação.
Porém, existe algumas exceções ao critério estabelecido por Reinhart-Rogoff,
onde o Japão é o caso mais gritante. Com uma dívida sobre o PIB ao redor de
250%, existente a mais de uma década, sua dívida consegue ser rolada com taxas
absurdamente baixas. Veja a estrutura abaixo.
Qual seria o motivo? Credibilidade! Os investidores
japoneses, principais detentores desses títulos, acreditam que a inflação se
manterá em níveis baixos o que evitaria o governo de dar um calote no futuro.
“Vai ter confiança assim na Cochinchina”, como diz o velho ditado, ou será no
Japão?
Mas certamente esse percentual jamais poderia acontecer no
Brasil, com uma moeda não conversível, histórico de inflação elevada, alguns
calotes na dívida, o nível de 90% estabelecido passa a ser de importância, caso
não ocorra a reforma da Previdência.
No post o-fed-não-da-nada, fiz os seguintes comentários
sobre o SP500: ...”
no curto prazo, o índice se aproxima de uma área importante que poderá dar mais
informações. No gráfico a seguir, abre-se duas possibilidades: em verde – uma
reversão no intervalo de 2.700 – 2.730, em azul – continuidade do movimento de
alta até uma nova área compreendida entre 2.800 – 2.820” ...
A bolsa americana subiu todos os dias depois dessa
publicação, e está “encostada” no limite superior do primeiro intervalo. Ontem
o fechamento foi 2.737. Já me antecipando a pergunta do meu amigo, se eu vou
vender o SP500 caso atinja a área de 2.800, ainda não sei, vou esperar chegar
lá, pois como eu mencionei no post citado acima, pode ser que estamos iniciando
um novo ciclo de alta, que ultrapassaria a máxima de 2.940.
Como anotado acima, ao nível entre 2.800 e 2.830 existe uma
alta probabilidade de acontecer uma queda, que levaria o SP500 entre 2.660 e
2.500. Importante frisar que mesmo assim, as duas possibilidades de mais longo
prazo, permanecem abertas.
Complicado? Bastante! Mas são esses sinais confusos que se
podem extrair deste mercado no momento, sendo assim, sugiro que se caminhe
passo a passo, sem grandes prejulgamentos.
Estou pacientemente acompanhando a bolsa americana sem
envolver os leitores em algum trade. Para os profissionais, algumas estratégias
são possíveis. Porém, além de ser necessário ajustes rápidos, não é objetivo do
Mosca.
Continuando no gráfico, a região compreendida entre 2.830 a
2.940, o cenário do “Macro Triangulo” vai perdendo força conforme o preço sobe,
até que, se ultrapassar o nível de 2.940, uma compra será certamente sugerida.
Por enquanto, fique de olho no Mosca para qualquer sugestão de entrada neste mercado.
O SP500 fechou a 2.731, com queda de 0,22%; o USDBRL a R$
3,6982, com alta de 0,78%; o EURUSD a € 1,1651, com queda de 0,45%; e o ouro
a U$ 1.306, com queda de 0,61%.
Fique ligado!
A dívida americana é realmente muito grande. Mas há de se considerar a enorme quantidade de riqueza acumulada pela população americana. Fora o fato de haver muito espaço tanto para corte de gastos (e serão cortados) quanto para aumento de impostos.
ResponderExcluirConcordo parcialmente com seus comentários. Sobre a riqueza é verdade desde que, os ativos não caiam de preço; em relação ao corte de gastos e aumento de impostos, não notei nenhum movimento neste sentido.
ResponderExcluirO que é devastador quando o nível da dívida é elevado, é a rapidez como os detentores perdem a credibilidade. Nessas situações, é provável um ciclo vicioso, com queda abrupta da moeda.