Bolha de patrimônio
Ao me deparar com uma ilustração pela manhã, notei que
bolhas não estão circunscritas a ativos. Na verdade, minha afirmação é
puramente figurativa pois não faz sentido falar em bolhas nesse caso, mas suas
consequências são tão grandes que fica difícil imaginar o que poderá acontecer
para resolver tamanha distorção.
Um artigo publicado pela Bloomberg aponta a enorme
concentração de renda que existe hoje nos EUA. Não que isso seja novidade,
porém os números são chocantes, temerosos.
Prepare-se para se preocupar com algo novo. Durante décadas,
o impulsor global dos mercados centrou-se na política monetária, preocupados
com a estabilidade financeira. Recentemente, a política comercial e os riscos
para a globalização vieram ao radar, juntamente com o que é visto como um
conjunto de riscos binários relativos ao “populismo”. Mais especificamente,
quais são as chances de que os governos existentes sejam derrubados?
O aumento dos impostos não tem sido uma das principais
fontes de preocupação do mercado há duas gerações. Os poucos aumentos de
impostos que foram implementados tendem a ser limitados e específicos, sendo
taxados apenas como a reversão de cortes de impostos anteriores ou vendidos
politicamente como pagamentos para projetos específicos e populares. O apoio
total para uma tributação mais alta, ou para uma maior redistribuição como um
fim em si, tem faltado.
Mas isso não tem sido a norma historicamente, na principal
taxa marginal de imposto de renda no Reino Unido foi de 95% em 1966 . Nos EUA e
no Reino Unido, as taxas marginais mais baixas desfrutadas nos últimos anos têm
sido uma anomalia histórica:
Este gráfico vem do estrategista do Deutsche Bank. Uma alta
taxa de 70 %, proposta pelos democratas jovens no Congresso, ainda estaria
abaixo do nível que se manteve por várias décadas de expansão econômica, após a
segunda guerra mundial.
As principais derrotas para os candidatos políticos de
centro-esquerda são, em parte, a razão para o declínio nas altas taxas
marginais de impostos, mas agora o tópico está de volta à mesa. O gráfico a
seguir, talvez pudesse ser útil para os políticos americanos. Em termos de
renda pós-impostos, os 34 anos até 1980 (quando Ronald Reagan e a agenda de
impostos baixos chegaram) viram virtualmente todo mundo nos EUA dobrar sua
renda, além dos muito ricos. Desde então, quase metade da população não
registrou nenhum crescimento em sua renda, enquanto os mais ricos tiveram um
crescimento extraordinário.
É sempre saudável ver a torta crescer - mas não é sobre isso
que trata essa discussão. Em ambos os intervalos de tempo mostrados acima, o
bolo estava se expandindo. O que a discussão atual está referenciando é como
essa pizza é dividida. É um jogo de soma zero e o ganho de alguém é a perda de
outra pessoa.
Quando Ray Dalio aponta que a torta não está mais sendo
dividida de forma justa, é exatamente a isso que ele está se referindo - uma
pequena porcentagem da população agora está capturando todos os ganhos. Não é
assim que costumava ser.
O que é surpreendente é como as divisões se tornaram
desproporcionais, a concepção que as pessoas têm da alocação real dentro da
sociedade subestima o quão ruim ela é. O gráfico abaixo, via Michael I. Norton
e Dan Ariely, pergunta às pessoas o que elas acreditam deveria ser a
distribuição de renda ideal dos Estados Unidos, e o que eles estimam ser
(média). A linha superior é o que é realmente.
Por mais desigual que a maioria das pessoas acredite que a
distribuição de riqueza nos Estados Unidos é hoje em dia, a realidade está
longe, muito pior do que a estimativa.
Essa generosidade para com os ricos, obviamente, não ajudou
muito os mais pobres. E é difícil afirmar que isso ajudou o crescimento
econômico. O mais intrigante é que o relatório do Deutsche Bank mostra que
grandes variações nas principais taxas marginais tiveram um impacto mínimo no
ônus real da tributação como um todo. O imposto como proporção do produto
interno bruto manteve-se praticamente inalterado antes e depois de Reagan e (a
um nível consideravelmente mais alto) no Reino Unido antes e depois de Margaret
Thatcher:
Não parece que a carga que os impostos impõem ao crescimento
econômico foi aliviada na última geração, mas sim que uma decisão de
distribuição foi tomada para ser mais dura para os pobres e mais generosa para
os ricos.
Embora essa discussão seja aplicada aos EUA, a concentração
de renda é um fenômeno mundial, e principal motivo das radicalizações que temos
assistido ao redor do planeta. Aqui no Brasil, o déficit da previdência é a
bola da vez, mas no fundo o problema é, ou falta de receita ou excesso de
despesa. O ajuste começa com a intenção de cortar as despesas, mas que depois
de um tempo, o governo percebe que é melhor e mais fácil aumentar as receitas.
Os mais ricos que se preparem, ou cedem para transferir
parte de sua riqueza aos pobres, ou uma convulsão é o que se pode esperar. A
política monetária adotada nesses últimos anos, beneficiou de forma exagerada
uma parte pequena da população, propiciando uma valorização estupenda dos
ativos. Essa distorção deve ser acertada em algum momento.
No post na-mosca, fiz os seguintes comentários sobre
os juros de 10 anos: ...” à taxa chegou na mínima de 2,34% muito próxima de um
possível objetivo (azul), conforme aponto no gráfico a seguir” ... ...” para
apostar na alta com mais consistência, só acima de 2,75%, ainda distante do
nível atual de 2,5%” ...
Hoje o mercado deu um salto nos juros de 10 anos de 0,05%.
Parece até brincadeira que para uma variação tão baixa o Mosca classifica como salto. Esse é o resultado da baixa
volatilidade. As repercussões são relativas por esse aspecto, embora em termos
absolutos a mudança é imaterial.
O nível atual de 2,55%, não me permite propor nada que possa
ter um bom risco x retorno. Veja o gráfico a seguir com meus argumentos.
O que eu teria que saber é se, o movimento de queda iniciado
em outubro, terminou ou ainda existe chance de novas mínimas no curto prazo.
Para explicar esse raciocínio, me atenho a mais recente queda iniciada em
fevereiro - anotada no gráfico acima. Para esse intuito, eu diria que o máximo
que se poderia “aceitar” de correção seria 2,60%. Porque uso a palavra aceitável,
porque é o mais provável limite.
Não ultrapassando, não existe garantias que a queda não
possa começar daqui a pouco.
Imagino que não seja muito fácil para que não está
familiarizado com análise técnica, entender todas essas nuances. Se esse for o
seu caso, acho melhor aceitar somente os limites que eu aponto, um voto de
confiança.
Mas o que vocês podem sim inferir é que, por enquanto, não
tenho confiança do próximo movimento. Sendo assim, ficamos de lado como
observadores, esperando melhor definição.
O SP500 fechou a 2.907, com alta de 0,66%; o USDBRL a R$
3,8812, com alta de 0,63%; o EURUSD a € 1,1301, sem alteração; e o ouro a U$
1.290, com queda de 0,18%.
Fique ligado!
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