Sem torcida
Se tem algo que um investidor precisa aprender em sua vida profissional,
é separar a realidade da “torcida”. Inúmeras vezes estive posicionado em algum
mercado, onde as cotações foram contra minha posição. A primeira reação é
imaginar que o mercado está errado, basta esperar que você sairá ganhando. Nada
poderia ser mais arrogante, pois mesmo que seja esse o caso, na melhor das
melhores hipóteses, você errou o momento. Na grande maioria desses casos, você é
que está errado.
Outras vezes, se usa o argumento que, comprou para o longo prazo,
e que não se importa com que acontece no mercado no curto prazo. Aqui merece
uma ressalva, se realmente você tinha um horizonte tão extenso, e não mudou
apenas porque está com prejuízo, deveria observar se aconteceu algum fato que
mudou em relação as suas ideias inicias, e aí sim, decidir se mantem ou realiza
o prejuízo. Na grande maioria o argumento de longo prazo aparece a posteriori.
Quando comecei a usar análise técnica, me habituei a aceitar
os erros, embora seja difícil, ainda é até hoje. Mas, se você segue à risca as
regras, e não entra em nenhuma posição com o stoploss já pré-definido, já é um
grande passo. Neste caso, as situações acima não acontecem, você delega ao
mercado, a decisão de eventualmente sair da posição ruim.
Se tem alguma regra que eu posso passar de minha experiência
aos leitores é nunca operar sem um stoploss. Tomando essa precaução, vai
garantir que pelo menos neste ponto, não vai quebrar. Lógico que o tamanho da
posição é fundamental também.
Dito tudo isso, e dado o grande momento de indecisão vivido
nos mercados, temos que acompanhar os números da economia, sem viés, com
abertura.
Nesta sexta-feira, será publicado os dados de emprego nos
EUA, e como mencionei no post de ontem, os membros do Fed dão muito peso a essa
variável. Kashkari, Presidente do Fed de Minneapolis, mencionou que, caso os
resultados de desemprego decepcionem por um trimestre, seria suficiente para
propor um corte de juros.
Como de costume, é publicado o ADP na quarta-feira que
antecede a publicação oficial. Esse número é uma informação que permite uma
projeção do resultado de desemprego.
Após o baixo resultado do ADP do mês passado, que antecipou
explicações de todo tipo: "deve ser um ponto fora da curva devido ao
tempo, fechamento do governo, ou qualquer outra coisa", as expectativas
para aquele mês eram mais fracas.
No entanto, apesar do aparente surgimento de “melhoras” em
todo o mundo, a ADP desapontou, acrescentando apenas 129 mil empregos em março
(bem abaixo do esperado em 175 mil). Este é o crescimento mais fraco do emprego
desde setembro de 2017.
Outro dia fiquei surpreso, com a recuperação da projeção do
PIB, elaborada pelo Fed de Atalanta, o GDPnow. Se vocês se recordam, no início
de março, este indicador estava por volta de 0,5%, a principal razão da
retração era o tempo ruim e também o fechamento do governo, na disputa que
Trump travou como Congresso, para financiar o muro com o México. Agora se
encontra mais próximo de 2%, o que seria ótimo, dado essas condições
anteriores.
Hoje vou expor o terceiro cenário que a Gavekal aponta para
a economia mundial.
Cenário # 3: O freio, é o vento contra de um setor
específico
Como mostra o gráfico abaixo, na China (como em vários
outros países), as vendas de automóveis e vendas de smartphones foram decepcionantes.
Uma pergunta para os investidores é se esta fraqueza é cíclica (mas por que
seria em um momento de baixas taxas de juros e baixa taxa de desemprego?), ou
estrutural. Há algumas evidências para o último. Quando se trata de carros,
parece que em alguns países, a geração Milenium não está mais obtendo carta de
motorista, na mesma quantidade que os seus pais (optando por usar os
aplicativos). Enquanto isso, motoristas mais velhos podem estar postergando as compras
por medo de que os carros de hoje se tornem tão valiosos quanto um Ford Pinto (o
automóvel voador), quando uma nova geração de carros elétricos / híbridos /
autônomos será lançado nos próximos anos.
Enquanto isso, no lado do smartphone, a falta de novos
recursos significa que os modelos mais recentes são essencialmente os mesmos
dos smartphones de três anos. Claro, as câmeras são melhores, e as telas exibem
cores mais agudas, mas como os números de vendas indicam, essas melhorias incrementais
não são suficientes para persuadir os consumidores. Em suma, estamos vivendo em
um mundo onde (i) a indústria automobilística está lutando com alguns ventos
contrários significativos que poderiam durar anos e (ii) o setor de tecnologia não
trouxe um novo produto imprescindível por muitos anos. Dado o tamanho e a
importância dessas duas indústrias, talvez suas respectivas desacelerações
ajudam a explicar a desaceleração global desdobrada.
As consequências do cenário # 3: Olhando para o
desempenho do preço da ação do setor automotivo amplo, e o desempenho do preço
das ações das empresas na indústria de hardware de tecnologia (principalmente
na Ásia), parece haver alguma verdade ao argumento “ventos setoriais”. Mas
então, se ambos, os automóveis e tecnologia, estão lutando, por que as ações do
setor de semicondutores (como medido pelo o índice SOX) está testando as altas
de todos os tempos? Se alguém acredita que “Dr. DRAM ”tem suplantado o “Dr.
Cobre ”em nossa nova economia baseada em conhecimento, a recente recuperação
acentuada nas ações de semicondutores pode ser vista como encorajadora (e iria
reforçar o caso para o cenário # 1).
A visão da Gavekal do cenário 3: não há dúvida de que
a indústria automobilística está enfrentando um momento desafiador. E também
pode haver pouca dúvida de que a indústria de tecnologia carece de um novo
produto imprescindível (isso foi sublinhado pelo lançamento da Apple esta
semana de um cartão de crédito!). Esta combinação pode ser letal para o
crescimento em certos de países (Alemanha? Japão? Coreia do Sul?). Tome a
Alemanha: um velho ditado nos diz que a economia alemã é um banquinho com três
pernas: bancos regionais, indústria automobilística e indústria química. Mas o
que acontece se a indústria química se tornar não competitiva – porque o preço
do gás natural dos EUA é agora menos da metade do preço do gás natural russo na
Alemanha (veja o gráfico a seguir) - e, ao mesmo tempo, a indústria
automobilística atinge uma desagradável queda de velocidade? Os bancos alemães
terão capital suficiente para ajudar seus clientes industriais? Claramente, o
fato de que os bancos alemães estão sendo empurrada por Berlim para uma fusão
entre o Deutsche Bank e o Commerzbank, responde a esta pergunta.
Hoje será a vez do euro, não que eu tenha muita novidade
sobre a moeda única. No post fatores-de-mercado, fiz os seguintes comentários
sobre o euro: ...”
é necessário um break agora abaixo de € 1,117 para entrar na venda do euro, ou
aguardar um nível um pouco superior para atuar na mesma direção” ... ...” O
momento se aproxima e dentro em breve vamos saber se o euro vai romper o
triângulo marcado no gráfico abaixo, para um lado ou para outro” ...
Desde essa última postagem, o euro tentou romper para cima e
para baixo, o triângulo mencionado acima, mantendo sua situação como
indefinida. Não teria nada a adicionar, apenas que, está difícil o rompimento
para baixo, talvez em função do excesso de posições vendidas. Um outro relatório
mostra que os investidores pessoas físicas estão apostando numa alta, conforme
gráfico a seguir.
Notem no gráfico a seguir que, a moeda única se encontra
contida nos últimos 5 meses num intervalo muito estreito, entre €
1,145 e €
1,12, equivalente a 2,3%. É muito pouco.
O momento de definição se aproxima e antevejo 2
possibilidades: a primeira com o rompimento para cima do triângulo, uma descompressão
das posições, levaria o euro para a região de € 1,15 a €
1,17 (cinza no gráfico); e a segunda, com a efetivação da queda, levando a
moeda única ao redor de € 1,105 (vermelho no gráfico).
Antes que meu amigo se manifeste, neste caso o euro pode
subir ou cair, sem que eu tenha nenhuma preferência. Agora, pode zoar! Hahaha
...
O SP500 fechou a 2.873, com alta de 0,23%; o USDBRL a R$
3,8761, com alta de 0,61%; o EURUSD a € 1,1237, com alta de 0,30%; e o ouro a
U$ 1.290, com queda de 0,20%.
Fique ligado!
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