Nem operação roubo!



Quando o mercado financeiro tinha sua elite instalada no Rio de Janeiro, eu me deslocava semanalmente para acompanhar a mesa de operações de mercado aberto, que estava sobre minha responsabilidade. Naquela época, para um jovem executivo com relativo poder, ficar alguns dias na cidade maravilhosa era um prazer. Bons tempos!

Isso acontecia no início dos anos 80 onde as operações eram realizadas por telefone - talvez hoje ainda seja, mas seguramente tem muito menos importância que naquela época. Os operadores eram em sua maioria jovens com habilidade emocional e pouca instrução. Era mais importante intuir a posição de sua contraparte no telefone, bem como obter informações se o mercado estava comprado ou vendido, do que saber calcular

Eu tinha uma formação exatamente inversa, bom conhecimento de finanças e pouco de telefone. Posso dizer sem exagero que nós fomos os percursores nessa mudança. Implantamos diversos programas em microcomputadores Apple - com 48k, para auxiliar os operadores na negociação. Criamos o termo “CDB trombada”, que ficou muito conhecido na época. Mas isso é uma história que fica para um outro post.

Certo dia, meu chefe de mesa, ao retornar de um almoço com seus pares, comentou “ o pessoal está reclamando muito, nem operação roubo conseguem fazer”. Notei que, a pessoa que fez o comentário, usou uma força de expressão para enfatizar esse período que nada acontecia. Era comum naquela época ouvir histórias de operações feitas por algumas corretoras cuja contraparte eram normalmente as fundações, cujo objetivo era gerar lucro para seus executivos. Essas eram as operações roubo.

Venho enfatizando recentemente que a volatilidade nos mercados financeiros colapsou, níveis extremante baixos de forma generalizada marcam um momento anormal. Normalmente durante o verão do hemisfério Norte é mais aceitável menos flutuações, porém não nessa época do ano.

A volatilidade no mercado de ações continuou a cair em 2019, um sinal de que alguns investidores estão adotando ativos mais arriscados novamente. O Cboe Volatility Index, um medidor para as oscilações esperadas em ações, caiu 9,4% este mês depois de registrar uma das maiores quedas na história, no começo de 2019.

Este indicador mede a velocidade e a gravidade dos movimentos do mercado de ações e tende a cair quando as ações estão subindo, pois, a demanda por coberturas de hedge para o SP 500, se retraem.  A volatilidade que mede o acompanhamento de moedas, títulos e petróleo também recuou.


Os investidores se voltaram para a venda de opções sobre ações e outros ativos - estratégias de aumento de renda que geralmente lucram quando a volatilidade do mercado permanece baixa.


Eles também apostaram contra o VIX (que a volatilidade permaneceria baixa), que é semelhante a tomar uma posição otimista sobre as ações. Esta é uma aposta lucrativa, mas arriscada, que tende a pagar quando as ações estão subindo, mas pode dar errado se o sentimento mudar.

Os principais índices de ações dos EUA se recuperaram neste ano e estão à beira de novas altas, como o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que o banco central seria paciente com sua trajetória de aumento da taxa de juros, levando alguns a esperar um corte nas taxas este ano.

Os investidores também ficaram mais otimistas em relação à economia dos EUA, depois que as preocupações com sua saúde fizeram com que as ações se transformassem numa liquidação conturbada no final de 2018. Na semana passada, dados recentes mostraram uma recuperação nos gastos de varejo e força no mercado de trabalho do país.

As chamadas apostas de volatilidade curta marcam o último sinal da rapidez com que investidores se voltaram para ativos mais arriscados. A volatilidade do mercado registrou uma das maiores quedas da história no início deste ano, de acordo com a Macro Risk Advisors, e fundos alavancados, como hedge funds, aumentaram as apostas contra o VIX, a partir de abril.

O “medidor de medo” de Wall Street caiu de cerca de 36 em dezembro para 17.8 em menos de um mês, uma das quedas mais rápidas da história, de acordo com a Macro Risk Advisors. Essa empresa calculou o tempo que o VIX demorou a cair tanto depois de ter subido acima de 20. O caso recente está em quarto lugar entre os cinco primeiros.

Alguns analistas disseram que o rápido retorno da calma mostra como investidores entusiasmados devem ter se posicionado para apostar na baixa volatilidade, que segundo eles, pode ajudar a controlar as oscilações. Assim que o VIX salta para um certo nível e começa a baixar, os investidores correm para apostar.

Embora isso possa ser um negócio lucrativo, alguns analistas alertaram que isso pode ser incrivelmente arriscado. A agitação entre os investidores do mercado de ações pode aumentar a turbulência, abrindo rapidamente um buraco no portfólio de um investidor. Foi o que aconteceu em vários momentos em 2018.

As apostas curtas ou pessimistas contra os futuros VIX por fundos alavancados superam as otimistas em cerca de 3 para 1. As posições vendidas líquidas atingiram recentemente o nível mais alto desde o início de outubro, antes de as ações começarem a cair em direção ao pior trimestre em pelo menos sete anos.

Na verdade, a única coisa que sobra nesses momentos de baixa volatilidade para os traders se posicionarem é vender esses contratos apostando que essa tendência continua. Mas podem estar certos, se essa situação prevalecer por muito tempo, nem esses contratos serão atrativos, pois os prêmios tenderem a diminuir, com menos apostas contrárias para sustentar esses preços.

Assim como comentei no início, os mercados internacionais não apresentam grandes oportunidades de posicionamento, e como por lá, imagino que o Compliance é diligente, nem operação roubo existe! Hahaha ...

No post a-volatilidade-morreu, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” acredito que essa correção deva seguir até ~ 88 mil. Depois vamos acompanhar com prudência, pois poderá revertera a partir daí” ...


Nesse post surgiu uma discussão com o meu amigo se deveria ter vendido a 97.000
... “- David, arrependido? Poderia ter faturado 10% “ ...
... “ Isso é pergunta que se faça? Lógico que ex post todo mundo fica arrependido de não ter feito um trade que se sucedeu da maneira que imaginava. Mas seu cálculo ainda é muito prematuro, leia novamente o começo desse post. Lucro só quando realizado! ” ...

E o destino fez com que minha desconfiança acontecesse, com o Ibovespa atualmente ao redor de 96.000, a operação de venda, observada de hoje, já não inspiraria o comentário. Mas a volta do índice a esse nível altera minha hipótese? Não até o momento.
Como minha premissa é que, a bolsa está numa correção, e como já é de conhecimento dos leitores, nessas situações não se tem como fazer afirmações seguras da trajetória, pois, na melhor das hipóteses só se consegue traçar os níveis.

Com a recuperação dos últimos 5 dias, posso imaginar que um triangulo esteja se formando, desde que, o nível de 98.000 não seja ultrapassado.


Será isso, ou uma outra configuração mais complexa? Só saberemos a resposta quando esse movimento terminar, aí vai ficar claro. Podemos ser levados a pensar “lógico que deveria ser esse, porque não pensei antes”. Se você gosta de se enganar e sofrer, pense assim. Existem mais de uma dezena de tipos de correção, e nunca se sabe antes qual deles irá prevalecer.

O objetivo do Mosca não é ser adivinho, mas sim se posicionar em locais que oferecem um bom risco x retorno, e no caso do Ibovespa, esse nível é de 88.000. Até lá, somente a observação do mercado pode fazer com que eu mude de ideia. Let’s the market speak!

O SP500 fechou a 2.933, com alta de 0,88% - Alta Histórica!; o USDBRL a R$ 3,9106, com queda de 0,55%; o EURUSD a 1,1220, com queda de 0,32%; e o ouro a U$ 1.271, com queda de 0,24%.

Fique ligado!

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