A volatilidade morreu?
Às vezes me pergunto se a volatilidade que os mercados vivem
atualmente veio para ficar ou em algum momento retornam aos padrões antigos.
Tenho séria dificuldade em aceitar que ela morreu. Quando menciono a volta, não
quero dizer que não haverá períodos mais voláteis, isso sou capaz de garantir
que irá acontecer.
Os motivos para tamanha complacência ainda não são
conclusivos, e nem sei se serão. Na visão do Mosca acredito que, o volume de liquidez injetado pelos bancos
centrais, levou a essa tamanha distorção. Para exemplificar meu raciocínio,
imaginem um compartimento com pouca agua, com qualquer movimento mais brusco
cria uma agitação. Se essa quantidade de agua no compartimento aumentar, com o
mesmo estimulo, a oscilação será menor. Mas não pretendo explicar as teorias de
Mecânica dos Fluidos, pois já foi um grande sufoco ser aprovado na época da
faculdade.
Antes de comentar um artigo publicado pela Bloomberg sobre
esse assunto, gostaria de comentar uma passagem da minha vida profissional. O
mercado de ouro nos anos 80 era usado como proteção para posições em moeda
estrangeira, além da especulação. Naquele momento, as cotações seguiam os
preços do metal em Nova York em conjunto com a cotação do dólar paralelo, haja
visto que as operações efetuadas no câmbio comercial eram restritas.
Num belo dia, quando era o responsável pela tesouraria do
grupo BFB, decidi fazer uma posição em ouro, estava tranquilo. Ao entrar numa
reunião, essa posição era ganhadora em 10%, já considerado os custos de
carregamento, o CDI da época, que não era bem elevado. Essa reunião demorou
mais ou menos 1 hora. Saindo da reunião, e fui rapidamente ao terminal (na
época nem celular existia!), à fim de verificar a quanto andava o lucro. Não acreditei,
o lucro de 10% virou um prejuízo de 10%. Nesse dia aprendi que só existe lucro
quando se termina uma posição, antes disso é só uma referência.
A baixa volatilidade parece uma coisa boa nos mercados. E
pode ser, a menos que esteja mascarando ou ignorando problemas. “A volatilidade
raramente aumenta pouco a pouco, tende a aumentar quando a narrativa de alta do
ciclo final sai dos trilhos ”, segundo Peter Cecchini, da Cantor Fitzgerald LP.
As oscilações de preços estão excepcionalmente deprimidas entre
os ativos agora, com os principais bancos centrais exibindo relativa clareza de
política, sinais de que o estímulo da China está funcionando e crescimento
econômico global que parece estar diminuindo em vez de cair. O índice MOVE da
volatilidade dos títulos do Tesouro, o Índice de Volatilidade Global do
JPMorgan, o índice de volatilidade Cboe , entre muitos outros, se encontram em
níveis extremante baixos.
Segundo Andrew Sheets, do Morgan Stanley, um dos
estrategistas que avisa, a calma não durará.
"Se o Fed continuar com a política acomodada e os dados
enfraquecerem, a volatilidade aumentará". “Se os dados forem mais robustos
e os bancos centrais estiverem efetivamente dizendo que não vamos apertar
diante da melhoria, isso não elevaria muito mais os comportamentos de risco?
Isso seria volátil também”.
Em fevereiro passado foi um exemplo de um movimento que
pegou os mercados de surpresa. O VIX ficou excepcionalmente baixo ao longo de
2017, levando os investidores a uma falsa sensação de complacência. Quando a
volatilidade explodiu durante um colapso - o VIX disparou para fechar o dia 5
de fevereiro em 37 - deixou alguns produtos de baixa volatilidade quebrados.
Potenciais gatilhos para oscilações de preços incluem
fatores como o agravamento das relações comerciais globais, um retorno às altas
de juros pelo Federal Reserve, uma desaceleração econômica ou um choque
geopolítico.
A liquidez também é citada como preocupação para O Morgan
Stanley, JPMorgan e Societe Generale, que afirmam que a baixa liquidez irá
piorar a volatilidade quando os sinais de problemas começarem a surgir.
Então, há a questão sobre o que fazer com essa quase
inexistência de volatilidade.
Todd Salamone, da Schaeffer’s Investment Research, aponta
para a posição vendida líquida nos futuros VIX, a maior desde 2017, como o
maior risco atual para os otimistas com as ações.
"A euforia precisa ser mais difundida antes que esse
risco entre em jogo, mas a história ensinou a ter quase certeza de que esses
especuladores serão pegos de surpresa quando a volatilidade eventualmente
surgir”.
Ainda há muitas recomendações para continuar aproveitando o
ambiente atual.
"Enquanto a política do banco central permanecer
acomodatícia mesmo com o crescimento melhorando, a volatilidade econômica e de
mercado deve permanecer baixa, apoiando a expansão múltipla e mais ganhos de
capital", escreveu Dennis Debusschere, estrategista da Evercore ISI.
Mas a história sugere que esperar que as coisas fiquem
calmas para sempre, pode ser uma tarefa tola. O Morgan Stanley vê o ano de 2007
como uma situação preventiva para quem vê o mundo das baixas oscilações de
preços como um tempo para a complacência - naquele ano, existia com hoje, uma
curva de juros muito estável e baixa volatilidade implícita.
Como se pode notar diversos analistas consideram o momento
perigoso para se ter exposição nos mercados, enquanto outros não acreditam num
rompimento abrupto. Na verdade, nenhum deles pode sabre o que vai acontecer.
Nem tampouco o Mosca.
Minha dúvida é mais existencial, considerando que os bancos
centrais não pretendem retirar a liquidez que foi injetada na última década, a
volatilidade voltará aos padrões “normais”? Tenho dificuldade de aceitar, haja
visto que, no meu ponto de vista, este seria um motivo importante que justifica
o estado atual.
Agora, parece que existe uma situação onde a volatilidade se
elevaria, e está associada a uma mudança de postura por parte da autoridade
monetária. Isso aconteceria se a inflação subisse para níveis superiores aos
objetivos por eles estabelecidos. Esse é o triger, na opinião do Mosca. Uma recessão poderia ser outro
momento de acompanhamento, embora nesse caso, a injeção de liquidez se
intensificaria.
No post você-confia-em-previsões-dos-economistas,
coloquei naquele momento duas possibilidades que me fizeram retroceder de uma
sugestão de venda. Passado uma semana, parece que um dos cenários se tornou o
preferível. ... “
Em vermelho se encontra a configuração de uma correção clássica dentro da
teoria de Elliot Wave, onde estaria próximo (ou já acontecendo) o início da
onda C (em laranja). Com essa premissa, a de um zig zag (não é a única!), o
mercado teria atingido meu nível de venda antes estabelecido. A confirmação se
daria com mais ênfase abaixo de 94 mil” ...
O nível atual se encontra ao redor de 93 mil e como poderão
ver a seguir, acredito que essa correção deva seguir até ~ 88 mil. Depois vamos
acompanhar com prudência, pois poderá revertera a partir daí.
Minha segurança nesse nível é reforçada quando observo uma
congruência nesse patamar, num gráfico de mais longo prazo. Naturalmente que
não posso colocar a mão no fogo, mas é um indicador importante.
Como se pode notar acima, sob essa métrica diferente, também
aponta para o nível de 88 mil como sendo uma base para reversão. Preciso enfatizar
que é uma das possibilidades, pois a próxima estaria ao redor de 80 mil. Caso
isso aconteça, vou ter que refazer minhas premissas. Mas por enquanto, trabalho
com essa correção atingindo 88 mil.
- David, arrependido?
Poderia ter faturado 10%.
Isso é pergunta que se faça? Lógico que ex post todo mundo fica arrependido de não ter feito um trade que
se sucedeu da maneira que imaginava. Mas seu cálculo ainda é muito prematuro,
leia novamente o começo desse post. Lucro só quando realizado!
Mas estava na ponta certa, veja o que anotei no post
mencionado acima: ....” Minha preferência será baseada em dois
argumentos” ... ...” até o momento, o que se observa, o mais provável é o
caso de queda, segundo que existe uma tendência de querer “estar certo”,
sendo assim, o meu primeiro call, me traria um certo conforto” ... Agora,
tudo isso é passado. Nessas situações, deve se evitar entrar no mercado a
qualquer preço, só porque perdeu a oportunidade original. Aceite que cometeu um
erro, e vai em frente. Provavelmente, nosso próximo trade será de compra.
O SP500 fechou a 2.907, sem variação; o USDBRL a R$ 3,9016,
com alta de 0,75%; o EURUSD a € 1,1282, com queda de 0,22%; e o ouro
a U$ 1.276, com queda de 0,89%.
Fique ligado!
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