Fantasmas do passado
O embate entre o EUA e a China continuou na noite de ontem, depois
de um dia com quedas nas bolsas e alta do dólar, principalmente frente as
moedas emergentes, aonde se inclui o real.
Ontem, após o fechamento do mercado, o tesouro americano,
entenda-se Donald Trump, rotulou a China de manipuladora de moeda. O presidente
Trump, que como candidato repetidamente ameaçou designar a China como um
manipulador de moeda, considerou a desvalorização como um tiro deliberado nos
EUA. “A China sempre usou a manipulação cambial para roubar nossos negócios e
fábricas, afetar nossos empregos, deprimir os salários de nossos trabalhadores
e prejudicar os preços dos nossos agricultores ”, escreveu Trump em um tweet na
segunda-feira. "Não mais!"
O Tesouro utiliza três critérios para aplicar essa
designação: intervir ativamente em seus mercados de câmbio, ter grandes
superávits comerciais com os EUA e ter grandes superávits em conta corrente.
Na Ásia, os mercados continuaram seu movimento de queda até
que a China, dentro da sua atuação diária no mercado cambial, indicou que não
deixaria sua moeda declinar de forma desordenada. O risco mais óbvio é também o
menos provável: que a China repita o erro de sua desvalorização em 2015, o que
levou a apostas pesadas contra a moeda e levou meses para ficar sob controle.
É improvável que a China precise queimar novamente centenas
de bilhões de dólares em reservas para combater os especuladores, porque ela aumentou
muito o controle cambial para lidar com os problemas de 2015. Em vez disso, a
queda da moeda faz parte da batalha tarifária dos EUA.
No passado, o PBOC interveio na moeda para punir os
especuladores, de modo que poderia manter o yuan estável por um tempo ou até mesmo
empurrá-lo de volta para a cotação de 7, temporariamente. Mas, mesmo uma reação
natural às novas tarifas, deveria ser uma moeda mais fraca, e seria fácil
permitir que o mercado puxasse o yuan ainda mais baixo em relação ao dólar,
prejudicando qualquer um que competisse com as exportações chinesas.
Em termos puramente econômicos, um yuan um pouco mais fraco
não é tão importante, porque o dólar mais forte estava arrastando a moeda chinesa
com ele; a queda do yuan na segunda-feira só levou de volta para onde estava em
janeiro contra o euro. Mas se isso for um precursor de um grande
enfraquecimento, poderá impulsionar o superávit comercial da China, que vinha
caindo há quatro anos, transformando a China novamente em um entrave
deflacionário sobre a economia mundial. Ao mesmo tempo, grandes exportadores
para a China terão mais dificuldade em fazer vendas, já que os preços em yuan
serão mais altos.
O gráfico a seguir aponta para detalhes que fogem aos
padrões acompanhados pelo mercado. No lado esquerdo está a cotação do yuan
frente ao dólar enquanto do lado direito a moeda chinesa frente ao euro. Notem
que a partir de 2016, o movimento não guarda nem um tipo de correlação. O
motivo se deve ao fato do PBOC “administrar” a cotação do yuan, mais próxima ao
que acontece com o dólar, embora não seja esse o argumento que os chineses
usam, pois dizem levar em conta uma cesta de moedas.
No lado comercial, já faz algum tempo que os EUA não é seu
principal parceiro nas suas exportações, a Europa ocupa agora a dianteira.
Imagino que nos últimos meses esse diferencial deve ter aumentado ainda mais.
Se por um lado, ao se vincular ao dólar permite um melhor
posicionamento perante os investidores estrangeiros e suas reservas, cuja maior
parcela se encontra na moeda americana, por outro lado, quando o dólar se
fortalece vis-à-vis as outras moedas, o yuan vai junto, fazendo seus produtos
menos competitivos nos outros mercados.
O sonho dos chineses é tornar o yuan uma moeda forte para
ser usada nos contratos com o exterior, desta forma, cria menos impacto aos
exportadores chineses e uma maior estabilidade. Mas uma condição necessária
para que isso aconteça algum dia é tornar sua moeda conversível, e tudo
caminhava neste sentido até que o Trump jogou agua no chope.
A rotulação da China como manipuladora de moeda é algo
antigo, desde que a China decidiu competir nos mercados mundiais vendendo
produtos de sua fabricação, tem usado essa sistemática no câmbio. Porém, somente
agora os EUA formalizaram essa demanda. Analisando as condições explicitadas,
para considerar um país de manipular sua moeda, a China se enquadra em todas.
Esse processo é levado a burocracia do FMI.
O recuo da China na última noite, ao indicar para o mercado
que não tem intenção de deixar sua moeda cair de forma descontrolada, tem como
intenção evitar repercussões negativas por parte dos investidores, bem como não
escancarar sua intenção de deixar o yuan desvalorizar, para compensar o aumento
de tarifas. Provavelmente, o fará de maneira suave. Agora se o Trump não gostar
é problema dele, não acredito que ele tem muito o que fazer para conte-los, pois,
os EUA teria que vender dólares para contrabalançar. Faria isso comprando yuan?
Com cada escalada, fica mais difícil para ambos os lados
recuarem. Ainda há tempo para encontrar um compromisso para salvar as
aparências do comércio e estabilizar os mercados. Mas os investidores estão
certos em pensar que a probabilidade de um acordo EUA-China está caindo, e há
um perigo crescente de que estamos entrando em uma era de desglobalização, que
afetará os preços das ações de muitas das multinacionais de hoje.
No post high-gear, fiz os seguintes comentários sobre o
Ibovespa: ... “No
gráfico abaixo de curto prazo, marquei o intervalo até onde essa pequena queda
deveria reverter o curso, visando o objetivo de 109.000. Abaixo desse nível, ao
redor de 100.000, vou ficar mais propenso a acreditar que a correção mais
extensa notada acima poderá acontecer” ...
A bolsa brasileira tocou nos 100.000 ontem, fechando um
pouco acima desse nível. Hoje, se recupera em conjunto com o mercado
internacional. Uma característica positiva é que, desde da máxima atingida em
julho, o Ibovespa vem traçando um movimento típico de correção (em azul). Nestas
circunstancias, uma posição comprada pode ser uma boa alternativa, nunca
perdendo de vista que estamos próximo a um nível, onde poderá ocorrer uma
retração mais expressiva.
Não estou convencido que o movimento no exterior já se
esgotou, é possível que novas quedas acontecessem nos próximos dias. Sendo assim, prefiro ficar sem posições no
momento, ou talvez arriscar uma compra no nível de 98.000, com um stoploss
bastante apertado a 96.000.
O SP500 fechou a 2.881, com alta de 1,30%; o USDBRL a R$
3,9538, com queda de 0,61%; o EURUSD a € 1,1197, sem variação; e o ouro a U$
1.472, com alta de 0,63%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário