Eu não avisei!
Enquanto os mercados financeiros encontram-se numa moda
frenética de apostar qual será o próximo pais cujos bonds ficarão com taxas
negativas, oriundo do receio cada vez mais forte, que uma recessão está nas
cartas, os resultados ainda não indicam esse temor da forma mais realista.
Depois que a Europa e o Japão, estes sim, com graves
problemas em suas economias, têm a maior parte de seus títulos com juros
negativos, parece que os investidores escolheram os EUA com a nova presa. Não
quero dizer que isso não poderá acontecer, mas o posicionamento do mercado está
cegamente voltado neste sentido, o que poderá colocar o Fed numa situação
desconfortável.
O mandato do Fed se resume a duas variáveis: emprego e
inflação, a atividade econômica é secundária. Naturalmente, outras variáveis
podem influenciar o futuro desses dois indicadores, e hoje em dia com a
globalização, o que acontece no exterior pode impactar. Mas no final do dia é
sobre os dois que será avaliada a sua performance.
Em relação a inflação, ontem foi publicado o CPI do mês de
julho, cuja alta de 0,3%, foi a maior desde 2016, em 12 meses a elevação foi de
1,8%, se encontrando abaixo do objetivo do Fed. O índice que exclui gasolina e
alimentos, também subiu 0,3%, e em 12 meses 2,2%.
Economistas viram algumas evidências nos dados de
terça-feira de que um mercado de trabalho restrito e as tarifas impostas pela
administração Trump em muitos bens importados estão começando a elevar a
inflação. O aumento nos preços do consumidor central excedeu a previsão dos
economistas em um décimo de ponto percentual.
Considerando um período mais curto de 3 meses, a inflação
continua em sua trajetória ascendente. Com essa métrica o resultado é de 2,8%.
O Mosca vem acompanhando esse indicador
e como se pode notar, não parece haver nenhum arrefecimento.
E por último, quero trazer uma projeção feita pelo Nomura
que indica níveis crescentes de inflação, que atingiriam 2,4% a.a. no 1º
trimestre de 2020.
Não gostaria que o leitor interpretasse minhas colocações
como se houvesse uma alarmante alta da inflação, mas sim, como nessa situação,
onde a inflação está subindo, o Fed pode se sentir confortável cortando os
juros. Seria ilógico e imprudente pelos padrões normais de política monetária.
Em relação a outra variável, o emprego, que esse sim, é
atrasado em relação a atividade econômica, também não se pode observar nenhuma
folga. Os EUA continuam em pleno emprego, e as empresas estão reportando estar
cada vez mais difícil encontrar funcionários com o nível de qualificação
necessária.
O mercado já colocou como certo que o Fed irá reduzir os
juros na próxima reunião em setembro. Não acredito que a autoridade monetária
vai ter o guts de peitar o mercado, e
provavelmente irá reduzir os juros.
Vocês devem se recordar que na última reunião houveram 2
dissidentes que não concordavam com a redução, e pode ser que esse número
cresça na próxima reunião, levando os agentes a perceber que, por enquanto, o
Fed não deveria entrar na onda do mercado indicando mais cortes. Caso isso
aconteça, irá chacoalhar as apostas que predominam nos mercados, a de que, nem
o chão é limite para a queda de juros.
Mas vamos supor que nem isso aconteça e os membros decidam
manter a tendência de queda de juros, isso vai originar um maior desacordo
dentro do Fed, que já é elevado como se pode verificar no gráfico de
dissidência abaixo. E caso algum
descontrole acontecer no futuro, porque a inflação ficaria em níveis desconfortáveis,
os dissidentes repetirão a frase que todo pai disse a seu filho “ eu não
avisei! ”
No post alem-do-retorno-passado, fiz os seguintes
comentários sobre o euro: ... “O euro mais parece um doente terminal que não consegue
melhorar, mas que continua sobrevivendo” ... Acredito que essa afirmação não
poderia ser mais verdade. Numa trajetória levemente declinante, segue de forma
lenta com as características técnicas de um ativo em queda.
Nestes últimos 360 dias, o euro ficou restrito a um “funil”
descendente, onde a cada nova queda, seu mínimo era inferior ao anterior
(laranja,) e a cada alta abaixo da anterior (azul). Essa configuração indica
que continuará em queda até que essa dinâmica seja quebrada. Por outro lado, o
fato de afunilar indica que o movimento está “cansado” e que o mais provável é
que ocorra um rompimento no sentido inverso ao que vem ocorrendo, que nesse
caso é de alta.
No mês de junho, o Mosca
sugeriu um trade de compra que acabou se mostrando improdutivo, depois disso,
resolvi permanecer como observador. Por outro lado, não vejo um trade de venda
com um bom risco x retorno. Sendo assim, público de tempos em tempos uma
atualização e tenho a impressão que meus argumentos se tornam repetitivos.
O euro teria tudo para estar caindo pelas tabelas, com a Europa
a beira de uma recessão e o BCE pronto para cortar mais os juros, somente o
diferencial entre os juros dos EUA e do euro diminuíram, mais pela queda mais
acentuada dos americanos, conforme se nota no gráfico a seguir, que compara a
diferença de juros entre os dois vis-à-vis o euro.
Fora isso, não sou compelido a fazer nada no momento. Esse
lero lero pode demorar algum tempo, ou não. Eu não sei, só sei que não tem
nenhum atrativo no momento.
O SP500 fechou a 2.840, com queda de 2,93%; o USDBRL a R$
4,04, com alta de 1,92%; o EURUSD a € 1,1133, com queda de 0,34%; e o ouro
a U$ 1.513, com alta de 0,85%.
Fique ligado!
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