Intruso estraga a festa



Há poucas horas do esperado discurso que Jerome Powell fez na abertura do Simpósio de Jackson Hole, a China resolveu contra-atacar. Esse evento é tradicionalmente realizado no final das férias do Hemisfério Norte onde reúne os principais presidentes de bancos centrais dos países desenvolvidos.

Esse ano, sem a presença de Mario Draghi e Haruiko Kiroda, o foco se voltou ao dirigente americano, onde já teria bastante dificuldade de explicar suas razões para seguir as quedas de juros implícitas nos mercados futuros.  Agora, depois das novas tarifas impostas pelos chineses, tem pouco tempo para eventualmente alterar seu discurso.

Hu Xijing, do Global Times, avisou que a China anunciaria tarifas retaliatórias sobre certos produtos dos EUA, acrescentando que "a China tem munição para revidar", foi precisamente o que aconteceu quando o Ministério das Finanças da China, depois de uma hora do anuncio de Hu, divulgou que imporia tarifas retaliatórias sobre outros US $ 75 bilhões em mercadorias norte-americanas, com taxas entre 5 e 10%, sendo as tarifas definidas em dois lotes, uma à meia-noite de primeiro de setembro e outra à meia-noite de 15 de dezembro.

Além disso, a China disse que retomaria as tarifas de 25% sobre automóveis dos EUA, afirmando que "a adoção chinesa de medidas tarifárias é um movimento forçado para lidar com o unilateralismo e o protecionismo comercial dos EUA".

O impacto nos mercados foi instantâneo, as bolsas ao redor do mundo caíram, mais acentuadamente na Europa que nos EUA, neste primeiro instante, em função da alíquota nos automóveis.

Essa é a primeira vez que a China resolve agir preventivamente, querendo dar mostras que também pode tomar medidas restritivas as exportações americanas. O motivo é que suas exportações embora sejam importantes em relação ao seu PIB podem ser canalizadas a outros mercados.

 Na verdade, o grande prejudicado em termos de comércio exterior é o México que depende fortemente das exportações. Além do mais, o seu principal produto de exportação, os automóveis, vem também sofrendo retração por fatores estruturais.

Mas sem dúvida o que deve dar maior confiança aos governantes chineses são os seus dados cambias. O saldo de sua conta corrente vem se recuperando em 2019, depois de ter entrado no negativo em 2018, ocasionado majoritariamente por elevação no saldo comercial. Notem que os saldos negativos em sua maioria se referem a commodities usadas na indústria.


Faltando menos de uma hora, Jerome Powell tem pouco tempo para eventualmente alterar seu discurso. Os dados publicados recentemente não apontam para uma fraqueza externada pelo mercado. Ao contrário, o índice de Supresa publicado pelo Citibank mostra uma melhora substancial em relação as expectativas dos analistas. 

A mais recente estimativa do PIB para este trimestre projetada pelo Fed de Atlanta, o GDPnow, encontra-se ao redor de 2,3% se aproximando das projeções da média dos 10 analistas mais otimistas.

Até aqui, esse relatório foi escrito na parte da manhã como de costume. No decorrer do dia iremos saber o impacto real dessas medidas e principalmente a reação do Presidente Trump, que pode estar escrevendo seu Tweet agora. Essa disputa está mais parecendo o jogo de batalha naval em que cada um dos oponentes deseja destruir o submarino inimigo, pois os destroieres já se foram.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que a economia dos EUA está em um lugar favorável, mas enfrenta "riscos significativos", reforçando apostas para outro corte de juros no mês que vem, embora as declarações não tenham conseguido aplacar o presidente Donald Trump.
  
"A incerteza na política comercial parece estar desempenhando um papel na desaceleração global e na fraca produção e gastos de capital nos Estados Unidos". "Vamos agir de forma apropriada para sustentar a expansão, com um mercado de trabalho forte e a inflação próxima de seu objetivo simétrico de 2%", disse o presidente do Fed.

Porém o mercado se voltou aos Tweets postado por Donald Trump que azedaram o dia de vez. Com uma postura raivosa, como numa briga entre inimigos, sugeriu a empresários americanos que fechem suas fábricas na China e as levem para os EUA.

"Nosso país perdeu, estupidamente, trilhões de dólares com a China por muitos anos", escreveu Trump em uma série de tweets. “Eles roubaram nossa Propriedade Intelectual a uma taxa de centenas de bilhões de dólares por ano e querem continuar. Eu não vou deixar isso acontecer! Não precisamos da China e, francamente, estaria muito melhor sem eles. "

O movimento feito hoje pela China parece que define uma postura mais incisiva desse país. Até agora, os chineses buscavam algum acordo mesmo que, acreditassem cada vez menos, que essa era a intenção americana. Bateu o stoploss e agora devem considerar que esse é um processo sem volta, sendo assim, buscam “cobrar” pelos seus interesses. Parece que caminhamos para o cenário de desglobalização, nova palavra da moda!

No post ao-invés-de-cara-ou-coroa, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ... “estando ameaçado agora o nível de 1,35%. O gráfico a seguir, com janela diária, aponta os pontos onde se deve observar a possibilidade de uma reversão” ...


Pouco evolução ocorreu na última semana, que pudesse indicar alguma mudança ou continuidade. Do ponto de vista técnico, existe algumas interpretações que indicariam uma eventual mudança de direção, mas sem muita convicção. Deste modo, vou usar níveis que precisariam ser atingidos, a fim de que essa possibilidade ganhe mais consistência.


Anotei acima que, caso os juros ultrapassem o nível de 1,8% - 1,9%, aumentam as chances de uma mínimo ter sido atingido, abaixo desses níveis e principalmente até 1,7%, more of the same, o mais provável é que a mínima de 1,45% possa ser ameaçada novamente.

- David, Hahaha ... só você pode acreditar que os juros irão subir até quase 2%!
Amigo, não tire palavras da minha boca, ou melhor, da minha mão. Eu não disse que acredito nessa hipótese, mas se por acaso acontecer, indicará uma mudança, por enquanto tudo continua como está.


O SP500 fechou a 2.847, com queda de 2,59%; o USDBRL a R$ 4,1177, com alta de 1,17%; o EURUSD a 1,1134, com alta de 0,51%; e o ouro a U$ 1.526, com alta de 1,87%.

Fique ligado!

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