Nem o câmbio impacta mais a inflação
Há dois anos eu estava preparando a reunião de um cliente, onde iria sugerir uma mudança importante em seu portfólio. Talvez vocês já me
conheçam o suficiente para saber que não sou aquele tipo de pessoa que sugere portfolios
mais “equilibrados”. Se um ativo na minha opinião não vai render quero ter
zero! Qual seria minha proposta: liquidar todos os investimentos atrelados ao
CDI e alocar em ativos indexados ao IPCA de preferência isentos de IR.
A taxa do CDI se encontrava em 9% a.a. e a dos títulos em
IPCA por volta de 5% a.a., enquanto os títulos pré-fixados ao redor de 10% a.a.
Esse cliente tinha muita experiência como empresário, porém pouca experiência
em finanças. Levando isso em consideração minha sugestão por pré-fixado não
poderia ser muito elevada.
Ao analisar os potencias riscos combinado ao seu perfil,
pensei onde poderia dar errado minha sugestão. Uma análise clássica nesse
sentido teria como resposta a elevação da inflação. Mas sinceramente nem passou
pela minha cabeça, considerava muito baixa essa hipótese. Mas de repente
pensei: e se tiver deflação? Como poderia eu explicar que um papel indexado ao
IPCA com um juro de 5% a.a. poderia render por exemplo 3% em termos nominais,
caso houvesse uma deflação de 2% a.a.?
Senti um frio na barriga. Considerava essa hipótese possível. Conversei
com alguns colegas do mercado e todos sem exceção me disseram ser “impossível”
isso ocorrer.
Segui em frente e fizemos essa migração com tranquilidade.
Combinei com ele que, dali em diante qualquer oferta de debentures indexadas ao CDI, mesmo
pagando 110% do CDI liquido não iriamos nem estudar. Foi uma ótima decisão, e
ainda encaixe alguns pré-fixados que embutiam um risco mais elevado.
Ontem fomos surpreendidos pela publicação da menor taxa de
inflação para o IPCA de setembro, com uma deflação de – 0,04%, levando a taxa
de 12 meses para 2,85%. Os preços livres em 12 meses (2,90%) também se
encontram abaixo de 3%, enquanto o índice de difusão com uma pequena queda para
56%.
Se perguntássemos a 10 economistas qual seria o efeito de
uma desvalorização do real de 10%, depois de 90 dias, na inflação, 11 responderiam
que o impacto é de alta. O leitor pode se perguntar porque 11, foi um erro?
Não, é porque estou certo que um deles diria que a chance é de 200%! Hahaha
.... Pois bem, o impacto não só foi zero como o índice teve queda.
Na verdade, a classe (economistas) pode ficar brava com Mosca, pois não mencionei que temos ainda uma grande capacidade ociosa. A alta do câmbio foi absorvida
pela queda de margens nos produtos que sofrem impacto do dólar. Talvez se
estivéssemos no pico do ciclo de acordo com a ilustração abaixo, o efeito seria
diferente, e poderia haver algum impacto.
Comparando aquele momento em que sugeri a carteira a meu
cliente, será que deveria temer agora a deflação? Pode ser, porém algumas considerações
diferem: A primeira é de que estamos entrando num momento onde a economia está
crescendo pouco, mas está crescendo e acredito que daqui a 12 meses estará bem
melhor que hoje; segundo que as taxas dos outros títulos se encontram em níveis
bem diferentes.
CDI: 5,5% a.a.: com uma queda prevista para os próximos
meses entre 4,75%/4,5%, nível sugerido
pelo Mosca no início deste ano.
IPCA: IPCA + 3% a.a. – Para títulos de vencimento ao redor
de 5 anos.
Pré-fixado: 6,5% a.a. para uma LTN de vencimento 2025.
Nada parece muito evidente agora, mas se realmente
experimentarmos um período deflacionário, ou mesmo níveis de inflação ao redor
de 2% a.a., o pré-fixado ainda oferece prêmio, menor que no passado, mais não é
uma má opção.
O gráfico a seguir mostra qual será o impacto da reforma da
Previdência no estoque da dívida brasileira. Essa situação torna os
investimentos mais seguros e menos propensos a manipulação da inflação por
parte do governo.
A inflação americana medida pelo CPI manteve-se estável
levando o nível em 12 meses para 1,7%. Se excluído os itens mais voláteis como
gasolina e alimentos a inflação permaneceu em 2,4% a.a. Essa publicação não
oferece nenhuma novidade, sendo neutro em relação as
expectativas do Fed para a próxima reunião.
No post é um-fantasma-ou-uma-sombra, fiz os seguintes comentários
sobre o SP 500: ...
“Para que o movimento de alta mantenha seu curso, existem alguns níveis que
precisam conter essa onda de queda. O primeiro se encontra agora sob teste a
2.890 (1), na figura abaixo um possível triângulo poderia estar se formando.
Caso não suporte, o próximo se localizaria em 2.820 (2). Abaixo desse ponto, a
tese de alta vai ficar mais fraca mais ainda válida se o nível de 2.728 (3) não
for rompido” ...
Desde essa última publicação a bolsa respeitou o nível (2)
apontado acima.
Como o Mosca enxerga
os panoramas para os próximos meses? Vou representar a seguir dois cenários
básicos, inicialmente um de alta subdividido em 2 objetivos e um de baixa.
ALTA
Nesse caso, o primeiro objetivo seria ao redor de 3.250 (↑
10%) ou 3.475 (↑ 18%), onde esse último é mais provável. Na segunda opção
o objetivo seria a 3.850 (↑ 31%).
Estávamos comprados nesse ativo e fomos stopados,
porém assim que uma indicação ficar mais clara, devemos entrar novamente com
uma sugestão de compra.
BAIXA
Um triângulo mais raro estaria em curso e na eminencia de
uma queda expressiva que atingiria 2.050 (↓ 30%). Esse triângulo ainda
teria idas e vindas antes de um novo movimento de alta se iniciasse, algo mais
para final de 2020 ou começo de 2021.
- David, isso virou
Cassino: + 30% / - 30%!
Sempre existem maneiras diferentes de se analisar graficamente
os mercados, algumas vezes opções menos profundas e outras mais profundas, como
esse caso. Por essa razão todo cuidado é pouco, e mais um motivo para respeitar
o stoploss. O que você deveria me perguntar é qual dos casos é mais provável. Mesmo assim
vou responder: o primeiro, até que o nível de 2.820 não seja ultrapassado.
O SP500 fechou a 2.938, com alta de 0,64%; o USDBRL a R$
4,1090, com alta de 0,37%; o EURUSD a € 1,1007, com alta de 0,48%; e o ouro a
U$ 1.494, com queda de 0,73.
Fique ligado!
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