Decisão sob outra ótica
Estamos presenciando as bolsas de valores atingir novos
recordes todos os dias. Na verdade, quando digo as bolsas, deve ser entendido a
americana e a brasileira, as de outros países ainda não ultrapassaram esse
nível.
Nessas situações, o fator psicológico atua de forma
importante. A sensação é que chegamos tarde e basta comprar para começar a
cair, afinal, se o preço é o máximo, só poderá cair! Os investidores mais
corajosos ultrapassam essa barreira e vão em frente. Aí surge outro sentimento
que é a da ganância aonde o céu é o limite. Ambos não são saudáveis.
Como então proceder? A recomendação que posso dar é usar uma
das duas técnicas mais conhecidas para avaliar ações: Fundamentalista e
Técnica. Vocês que acompanham de longa data o Mosca conhecem minha preferência pela análise técnica, e esse
momento atual, pode ser útil em termos didáticos, para entender suas
diferenças.
Vou começar pela fundamentalista. Eu participo semanalmente
do Comitê de Investimento da Rosenberg. Nesses encontros acontece uma seleção
das informações mundiais publicadas na última semana, acrescida de comentários,
além de discussões sobre mudanças macro, tema esse, bastante presente
ultimamente. Ao final, passo minhas previsões sobre 7 mercados: Juros de 10
anos americanos, SP500, Ouro, Petróleo, Euro, Real e Ibovespa.
Vou me centrar no SP500 onde ocorre uma discórdia de
opiniões entre a visão Fundamentalista e a Técnica. Recebi um dos gráficos que
apontam para uma bolsa “cara”, que público abaixo. Não só esse, como imagino
que o P/L esteja com níveis elevados, bem acima da média histórica.
Mesmo que você não entenda bem a comparação feita por esse
analista, a simples observação leva a conclusão que a bolsa está cara.
Para uma pessoa que usa a análise técnica, essas informações
tem um valor diminuído. A premissa é diferente, pois a Fundamentalista analisa
dados macroeconômicos e microeconômicos, que normalmente não afetam os preços
de forma direta. O que eu quero dizer é que, se é publicado um dado negativo,
porém o mercado está apresentando um movimento de alta consistente, acontece
uma queda temporária. E vice-versa, se a publicação é muito positiva, mas os
investidores estão pessimistas, acontece somente uma alta temporária.
A Análise Técnica parte do mercado para tomar suas decisões,
sendo assim, informações de volumes, posições compradas e vendidas, devem ser
consideradas, porém, o maior fator de decisão são as técnicas adotadas, da
qual, eu uso a de Eliot Wave.
Sendo assim, os fatores comportamentais têm impacto
importante, onde a ganancia e o medo direcionam os investidores. Sem entrar em
detalhes e de uma forma simplista, um mercado está para virar quando, uma
quantidade maior de investidores se posiciona na compra (ou venda). Naturalmente,
ninguém fica contando as ordens nem os detalhes do pregão, até pode ser feito,
mas tem pouca utilidade, pois pode ser um movimento especifico de um dia.
A observação é feita nos preços, lá se busca capturar esses
movimentos de forma mais consistente. Vocês já viram alguns termos que eu uso:
mercado está “cansado”, false break, key
reversal e por aí vai, são indicadores.
Voltando ao SP500, vocês devem lembrar que citei várias
vezes que o mercado estava muito negativo com a bolsa, durante um bom tempo.
Publiquei uma informação aqui, outra acola, sobre isso. Talvez a que resumiu
esse “receio” dos investidores foi a saída de recursos da bolsa. Um artigo
publicado pelo Wall Street Journal dá uma dimensão desses valores.
Os ativos dos fundos de curto prazo cresceram US $ 1 trilhão
nos últimos três anos, atingindo o nível mais alto em cerca de uma década,
segundo dados da Lipper. Uma variedade de fatores está alimentando os fluxos,
desde taxas mais altas do mercado monetário até preocupações com a saúde da
expansão econômica de 10 anos e um mercado de bolsa “envelhecido”.
No entanto, alguns analistas dizem que pilha de dinheiro
mostra que os investidores não tiveram retornos excessivamente exuberantes
apesar dos ganhos de dois dígitos do mercado este ano, tendo, portanto, muito
dinheiro disponível para comprar quando prevalecem os preços mais baixos.
"Ter caixa sempre me faz sentir bem, ao tê-lo e vê-lo à
margem", disse Michael Farr, presidente da empresa Farr, Miller &
Washington, que está com o dobro do caixa como de costume. "Isso mantém as
coisas um pouco mais seguras."
Os investidores disseram que as reservas crescentes de caixa
refletem várias preocupações que se tornaram predominantes entre os gestores
nos últimos meses, como as crises na guerra comercial com a China, e os dados
irregulares dos EUA, que provocaram momentos de volatilidade nos mercados.
Muitos estão preocupados com o fato de os preços das ações
terem subido para níveis insustentáveis em relação aos ganhos das empresas,
em um momento em que a economia dos EUA está desacelerando e os ganhos
corporativos estão tendendo a diminuir. Uma métrica popular lançada pelo
economista Robert Shiller, ganhador do Prêmio Nobel, mostra que as avaliações
permanecem próximas das máximas de duas décadas, apesar de terem recuado de
suas alturas no início de 2018.
Sandy Villere, gerente de portfólio do Villere Balanced Fund
de US $ 2 bilhões, mantém 17% de seu portfólio em dinheiro, acima dos 10%
comuns. Villere acredita que as avaliações se esticaram e prefere esperar por
uma queda antes de entrar novamente.
É importante notar que, esse excesso de caixa corresponde a
valores dos indivíduos, bem como de gestores de fundos. Se a bolsa continuar
subindo, os mesmos serão pressionados a entrar ou aumentar as posições.
- David, você está
insinuando que ao usar análise técnica não se perde dinheiro?
De jeito nenhum! O que se pode afirmar é que não se quebra,
e se usar as técnicas de forma diligente, a probabilidade maior é de ganho.
No Brasil a situação é ainda mais marcante, no post procura-se-uma-porta-de-entrada, forneci uma fotografia da Industria de
Fundos brasileira. Lá, enfatizei o enorme montante atrelado a renda fixa, e
esse, indexado ao CDI. A migração está acontecendo, os jornais publicam
matérias com frequência neste sentido.
A assunção de risco não é linear. Eu costumo dizer que o
espectro de risco é como uma pirâmide, onde os investidores de um segmento
sobem para o próximo, e normalmente não pulam de escala. Sendo assim, o equilíbrio
é lento e deve demorar.
Dado que, durante décadas, era melhor investir no CDI,
existem poucos ativos de risco disponível. Eu penso que é possível que aconteça
uma bolha nos ativos brasileiros. Vamos acompanhar.
Antes de terminar esse assunto, o leitor pode se perguntar, qual
a garantia que não se entre num movimento descabido de alta, uma bolha. É
possível que isso aconteça, mas a teoria de Elliot Wave vai fornecendo
paramentos, alertando que está perigoso. Mas sem dúvida a melhor garantia é o
stoploss, ele te permite navegar quando o mercado entra em máximas históricas,
ou numa explosão de preços.
No post quem-tira-mais, fiz os seguintes comentários
sobre o Ibovespa: ... “dois cenários diferentes, que podem acarretar reversões em níveis
distintos. O primeiro se encontra muito próximo a 109.000/110.000, e o segundo
por volta de 120.000 “ ... ... “o mercado vai no seu sentido, um “obstáculo”
calculado surge a frente, segundo a análise técnica. De antemão, não se pode
saber se nesse ponto haverá a reversão, e nem tampouco qual sua extensão” ...
Completando o tema de hoje, notem que o critério de alerta é
sempre um nível calculado pela AT (vou usar esse acrônimo daqui em diante para
me referir a análise técnica). Diferente da AF (análise fundamentalista) que
usa outras métricas. Uma reversão pode ocorrer num mercado por muitos motivos e
nem sempre por razões da AF. Por outro lado, na AT cada vez que o mercado se
aproxima de um determinado nível, o analista tem que voltar suas atenções para
verificar se vai ultrapassar ou não.
No caso do Ibovespa, venho enfatizando que o nível ao redor
de 109/100 mil pontos é importante. No gráfico semanal a seguir, em se passando
o nível atual, o índice aponta para 120 mil.
Segundo meu critério de análise, quando houver uma reversão
deve ser extensa, é necessário cuidado. Por enquanto não existe indicação.
É importante frisar que, se o índice ultrapassar os 110 mil,
não significa que necessariamente haverá uma reversão a 120 mil, nem que vai
chegar lá, apenas que esse ponto é um bom candidato.
O SP500 fechou a 3.074, com queda de 0,12%; o USDBRL a R$
3,9929, com queda de 0,55%; o EURUSD a € 1,1072, com queda de 0,49%; e o ouro
a U$ 1.484, com queda de 1,63%.
Fique ligado!
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