Palavra do especialista



O assunto mais ventilado atualmente é a perplexidade pelos analistas com a alta das bolsas de valores. Qualquer canto que se pesquise, tem algum crítico mostrando um gráfico apontando o extremo que as bolsas se encontram. Mesmo o Mosca já comentou sobre o assunto algumas vezes. Esse é um momento crítico que divide a academia em sua teoria, confrontando os modelos clássicos de teoria financeira e a mais recente teoria comportamental, sendo que essa última prevalece nas argumentações atuais.

O acadêmico mais conhecido na área comportamental é o professor Robert Shiller, economista laureado com o prêmio Nobel em 2013, cujo título é: análise empírica de preços de ativos financeiros. Um último artigo seu, comenta sobre a alta recente das bolsas.

Quanto mais os fundamentos econômicos e os resultados do mercado divergem, mais profundo se torna o mistério, até que se considere possíveis explicações baseadas na psicologia das multidões, na vitalidade das ideias e na dinâmica das epidemias narrativas. Afinal, os movimentos do mercado de ações são motivados principalmente pelas avaliações dos investidores sobre a reação em evolução de outros investidores às notícias, e não às próprias notícias.

Isso ocorre porque a maioria das pessoas não tem como avaliar a importância das notícias econômicas ou científicas. Especialmente quando a desconfiança da mídia é alta, eles tendem a confiar em como as pessoas que conhecem, respondem às notícias. Esse processo de avaliação leva tempo, razão pela qual as bolsas de valores não respondem às notícias repentina e completamente, como sugeriria a teoria convencional. A notícia inicia uma nova tendência nos mercados, mas é suficientemente ambígua, fazendo que a maior parte do dinheiro inteligente tenha dificuldade em lucrar com isso.

Obviamente, é difícil saber o que impulsiona o mercado de ações, mas podemos pelo menos conjecturar ex post, com base nas informações disponíveis.

Existem três fases separadas do quebra-cabeça nos EUA: a alta de 3% no S&P 500 desde o início da crise do coronavírus, em 30 de janeiro a 19 de fevereiro; a queda de 34% dessa data até 23 de março; e a alta de 42% de 23 de março até o presente. Cada uma dessas fases revela uma associação intrigante com as notícias, à medida que a reação defasada do mercado é filtrada pelas reações e histórias dos investidores.

A primeira fase começou quando a Organização Mundial da Saúde declarou o novo coronavírus "uma emergência de saúde pública de interesse internacional" em 30 de janeiro. Nos 20 dias seguintes, o S&P 500 subiu 3%, atingindo um recorde histórico em 19 de fevereiro. Por que os investidores atribuiriam às ações a sua maior valorização já após o anúncio de uma possível tragédia global? As taxas de juros não caíram nesse período. Por que o mercado de ações não "previu" a recessão com uma queda antes do início da crise?

Uma hipótese é que uma pandemia não foi um evento familiar, e a maioria dos investidores no início de fevereiro não estava convencida de que outros investidores e consumidores prestassem atenção a essas coisas, até que viram uma reação maior às notícias e aos preços de mercado. A falta de experiência passada desde a pandemia da influenza de 1918-20, significou que não havia análise estatística do impacto no mercado de tais eventos. O início dos bloqueios no final de janeiro na China recebeu pouca atenção na imprensa mundial. A doença causada pelo novo coronavírus não tinha nome até 11 de fevereiro, quando a OMS o batizou de COVID-19.

Nas semanas anteriores a 19 de fevereiro, a atenção do público a problemas de longa data, como aquecimento global, estagnação secular ou excesso de dívida, estava diminuindo. O julgamento do impeachment do presidente Donald Trump, que terminou em 5 de fevereiro, ainda dominava as discussões nos EUA, e muitos políticos aparentemente ainda consideravam contraproducente despertar alarmes sobre uma nova tragédia hipotética iminente.

A segunda fase começou quando o S&P 500 despencou 34% de 19 de fevereiro a 23 de março, uma queda semelhante à queda do mercado de ações de 1929. No entanto, em 19 de fevereiro, havia apenas um punhado de mortes relatadas pelo COVID-19 fora da China. O que mudou o pensamento dos investidores nesse intervalo não foi apenas uma narrativa, mas uma constelação de narrativas relacionadas.

Algumas das novas notícias eram absurdas. Em 17 de fevereiro, uma corrida as compras de papel higiênico em Hong Kong, foi mencionada pela primeira vez e tornou-se uma história altamente contagiosa, como uma espécie de piada. Obviamente, as notícias sobre a propagação da doença estavam se tornando mais internacionais. A OMS classificou-a de pandemia em 11 de março. As pesquisas na Internet por "pandemia" atingiram o pico na semana de 8 a 14 de março, e as pesquisas de "coronavírus" atingiram o pico na semana de 15 a 21 de março.

Parece que nesta segunda fase, as pessoas estavam tentando aprender o básico sobre esse evento estranho. A maioria das pessoas não conseguiu lidar com isso imediatamente, muito menos imaginar que outras pessoas que pudessem influenciar os preços de mercado, estavam fazendo isso.

À medida que a crise do mercado de ações prosseguia, histórias vívidas pareciam dificuldades e perturbações nos negócios causadas pelo bloqueio. Por exemplo, algumas pessoas na China em lockdown foram induzidas a procurar peixinhos e vermes para comer. Na Itália, houve histórias de trabalhadores médicos em hospitais sobrecarregados, sendo forçados a escolher quais pacientes receberiam tratamento. Narrativas sobre a Grande Depressão da década de 1930 floresceram.

O início da terceira fase, quando o S&P 500 começou sua alta de 40%, foi marcado por notícias genuínas sobre política fiscal e monetária. Em 23 de março, depois que as taxas de juros já eram praticamente nulas, o Federal Reserve anunciou um programa agressivo para estabelecer linhas de crédito inovadoras. Quatro dias depois, Trump assinou a Lei de Ajuda, Alívio e Segurança Econômica (CARES), de US $ 2 trilhões, prometendo estímulos fiscais agressivos.

Ambas as medidas, e ações semelhantes em outros países, foram descritas como análogas às ações tomadas para combater a Grande Recessão de 2008-09, seguida por um aumento gradual, mas finalmente enorme, dos preços das ações. O S&P 500 subiu cinco vezes da sua mínima em 09 de março de 2009, para 19 de fevereiro de 2020. A maioria das pessoas não tem ideia do que está no plano do Fed ou na Lei CARES, mas os investidores conheciam um exemplo recente quando essas medidas aparentemente funcionavam.

Histórias de colapsos menores, mas ainda significativos do mercado de ações, e fortes recuperações, algumas delas a partir de 2018, foram amplamente lembradas. Falar de arrependimentos por não ter comprado na base, então, ou em 2009, pode ter deixado a impressão de que o mercado havia caído o suficiente em 2020. Nesse ponto, a FOMO (medo de perder o bonde) se firmou, reforçando a crença dos investidores de que era seguro voltar.

Nas três fases do mercado de ações COVID-19, os efeitos de notícias genuínas são aparentes. Mas os movimentos de preços não são necessariamente uma resposta lógica e rápida a ele. De fato, eles raramente são.

No final de junho comentei sobre a onda de compras de ações por intermédio de uma corretora americana chamada de Robin-Hood. Temos observado que o setor de tecnologia tem tido a preferência dos investidores, e até imaginei que parte dessa demanda teria vindo desse segmento. Um levantamento das ações detidas pelos clientes dessa instituição mostra que não seriam eles que estariam por traz dessa alta, pois como a tabela abaixo revela, estão interessados em ações “baratas”. Sendo assim, que estaria por trás das ações Tech?


A lógica desenvolvida por Robert Shiller, para identificar os motivos que fizeram os indivíduos mergulharem na bolsa de valores, não são os que mais se observa nos comentários dos analistas, ou pelo menos, não consideram esse como prevalecente. Seguindo nessa lógica, os detentores de ações que venderam suas posições para os indivíduos, estão no momento com caixa e sem entender direito o que está acontecendo. Como os preços estão acima de seus preços de venda, e se em algum momento, os receios diminuírem (menos mortes; melhores resultados das empresas; ou a iminência de uma vacina), uma segunda onda de compras poderá ocorrer, sem que o mundo tenha se livrado da Covid-19.

Não quero de maneira nenhuma justificar os motivos para que se entre na bolsa, mas os dados técnicos indicam mais altas no futuro.

No post stoploss-no-covid-19, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “venda de dólar a R$ 5, 41 com stoploss a R$ 5,47. Como essa opção foi montada em uma janela de 1 hora, está sujeito a chuvas e trovoadas, razão de um stoploss bem curto” ...

Como mencionei acima, um ajuste fino é necessário. Vou realizar uma pequena modificação nas premissas do trade. O preço de venda passa a ser R$ 5,45 com o stoploss a R$ 5,50. O objetivo está marcado no gráfico a seguir, já de nova “roupagem”.

Caso minhas premissas se concretizem, o primeiro objetivo seria no intervalo entre R$ 4,82 e R$ 4,72 (mais provável), e o próximo por volta de R$ 4,47.

Quando se trabalha com janelas pequenas, os parâmetros podem ser revistos, no caso, isso ocorrerá caso o dólar ultrapasse R$ 5,50. Mesmo isso acontecendo, não fica eliminado a visão de queda dólar ainda a ser cumprido. O que acontece nesse caso é que, a retração aconteceria num nível um pouco mais elevado.

Uma observação em relação a política monetária no Brasil, em situações recessivas ocorridas no passado com impacto no câmbio, está diferente agora. A inflação alta foi um constrangimento à flexibilização da política monetária na última recessão do Brasil. Desta vez, o núcleo da inflação está realmente baixo. O pass trough do dólar, elevará a inflação a talvez 130bps no terceiro trimestre, mas a demanda com queda forte puxa na direção oposta. Parece que não veremos uma inflação verdadeiramente alta.




O SP500 fechou a 3.155, com queda de 0,94%; o USDBRL a R$ 5,4030, com alta de 1,49%; o EURUSD a 1,1346, com alta de 0,42%; e o ouro a U$ 1.800, com alta de 0,31%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Caro amigo, acho sua análise boa mas retiraria da alta as FAAMG para melhor exame dos 70% que compõe o índice.
    Abraço
    chede

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