Reserva de valor
No mundo atual, se você procura garantir a preservação de capital,
como deveria se posicionar? Como os bancos
centrais hoje em dia, aprenderam a emitir moeda, muita moeda, quando existe uma
ameaça econômica, como se proteger? Um trabalho feito pela Gavekal aborda esse
assunto.
Para funcionar adequadamente, qualquer sistema econômico
deve ter um ou mais reservas confiáveis de valor, para que os participantes
possam levar o tempo em seus cálculos. Nas últimas décadas, o mundo ofereceu
aos investidores três principais reservas de valor:
1) Ouro, a mais antiga reserva de valor.
2) Títulos do Tesouro dos EUA de vencimento longo, supostamente
a reserva mais segura.
3) O SP 500, representando um portfólio bem
diversificado de alta qualidade de ações, a reserva de valor mais eficiente a
longo prazo.
Então, com todas as incertezas do mundo hoje, qual desses
três ativos os investidores devem possuir para preservar o valor de sua
riqueza? Podemos descartar rapidamente os títulos dos EUA ou quaisquer títulos
emitidos pelos governos do mundo ocidental. Como os formuladores de políticas
decidiram claramente proceder à eutanásia do locatário, destruindo o valor do
capital investidos em mercados de títulos do Governo, já não são uma reserva de
valor. Qualquer análise do valor presente é irrelevante, pois o custo do
capital é manipulado. Portanto, a escolha do investidor é entre ouro e o
SP 500.
Se comprar ouro, os retornos serão iguais aos ganhos de
capital que ocorrer quando o preço do ouro sobe. Se comprar o SP 500 e
segurá-lo indefinidamente, digamos colocar as ações numa custódia para que não
possam ser vendidas, os retornos serão iguais aos dividendos recebidos a cada
ano. Portanto, se os mercados são eficientes, segue-se que, deve haver algum
tipo de arbitragem entre o preço do ouro e o SP 500 dividendos. Com
certeza, existe. Como mostra o gráfico a seguir, nos últimos 100 anos, o valor
dos dividendos do SP 500 não subiu quando medido em ouro, e sempre
convergiu para um grama de ouro. E crucialmente para os investidores, é
exatamente onde está o valor hoje, significando que, atualmente, não existe
argumento relativo à valorização do ouro em detrimento do SP500, ou
vice-versa.
Se hoje não há argumento de reversão à média, que tal um
argumento de momento? Como sabemos, se reinvestir constantemente nossos
dividendos, o SP 500 superam o ouro a longo prazo em uma base de retorno
total, dado que o ouro não gera renda. Mas nos últimos 100 anos, houve pelo
menos 30 anos em que o ouro superou o SP 500 em uma base de retorno total.
E como o gráfico abaixo mostra, esses anos corresponderam a períodos de
deflação pesada (*) ou inflação maciça.
(*) Nota do Mosca
– Em períodos deflacionários o ouro suplanta as ações porque cai menos. Mas
se a medida for em termos nominais, nada suplanta a moeda física.
Notavelmente, todo mercado "extremamente negativo"
tem um declínio do pico ao vale de mais de 50%, nos últimos 100 anos, ocorreram
durante os períodos sombreados em azul (embora nem todos os períodos sombreados
em azul coincidam com um mercado “extremamente negativo”). E como os mercados
acabaram de entrar em uma nova área em zona azul, estou inclinado a aceitar e
sinalizar seriamente como um sinal de problemas iminentes, tanto para o mercado
de títulos dos EUA ou o dólar americano.
Se eu estivesse administrando dinheiro, sendo o dólar
americano a moeda de referência, consideraria altamente irresponsável não
possuir ouro atualmente. Investidores otimistas deveriam deter talvez 30% de
suas carteiras no metal. Pessimistas, que acreditam que nossos bancos centrais
estão sendo administrados por um bando de incompetentes com formação excessiva,
deve manter 100% de ouro!
Isso pode parecer extremo, mas considere que o ouro é em
essência, uma posição contra os bancos centrais. E raramente na história tem
sido tão óbvio que os investidores devem estar “vendidos” nos bancos centrais,
uma vez que parecem tão inclinados em degradar o valor de suas moedas, com o
argumento de que o mundo está sofrendo de excesso de poupança. Na realidade, é
claro, o mundo ocidental está sofrendo com um excesso de gastos do governo.
Considero essa colocação da Gavekal, por parte de um de seus
fundadores, Charles Gave, chocante. Notem que, não está sugerindo alocar um
pedaço do portfólio em ouro, pois, na menor das hipóteses sugere 30%, que mesmo
assim, é bem elevada. No caso extremo de 100%, nem se fala.
Agindo dessa forma, o retorno de um portfólio com essas
características, ficaria extremamente dependente do ganho de capital obtido pelo
ouro, podendo até ser negativo. Fica a impressão que, por não concordar com a
política dos bancos centrais, lhe dá segurança que, em algum momento essa conta
deverá ser paga. No caso, significaria uma desvalorização importante do dólar
que causaria inflação.
A título de comparação, o gráfico a seguir, elaborado pela
empresa de pesquisa Arbor, calcula que existe uma probabilidade ínfima de 4%,
para que a inflação esteja acima de 2,5% a.a., daqui a 5 anos. Naturalmente,
como sempre digo, eles podem mudar de opinião amanhã, como eu mudo de camisa, e
a Gavekal estar certa na sua sugestão, mas eu não teria coragem de indicar esses
percentuais para um portfolio.
Probabilidade de inflação
No post queríamos-acreditar, fiz os seguintes comentários
sobre o ouro: “... “Do ponto de vista técnico, um
alta superior a U$ 1. 770 poderia indicar a continuação do movimento de alta,
por outro lado, uma queda abaixo de U$ 1.650 poderia abrir a oportunidade de
uma posição comprada, só não saberia dizer ainda em qual nível” ...
Ontem foi noticiado em diversos veículos, que o ouro tinha atingido
a marca de U$ 1.800, com um certo destaque. Não sei em qual mercado essa marca
foi atingida (futuro?), pois, no meu sistema a máxima foi a U$ 1.785. Mas, pouco
importa. Hoje está em leve queda, indicando que tinha muita gente com o dedo no
gatilho.
Nada mudou do último post onde frisei: ... “Percebo que esse assunto é muito ventilado nos
relatórios, quase existindo um consenso que o ouro deveria ter uma performance
positiva. Mas infelizmente o gráfico não mostra desta forma, pelo menos ainda”
... Mesmo a queda de hoje não indica nada, pode ser um momento de
realização. Para que surja algum sinal mais claro, que uma correção poderia
estar em andamento, o nível de U$ 1.745 deveria ser rompido como primeiro
patamar. Porém, U$ 1.670 é o divisor de águas, pois abaixo, podemos ter uma
oportunidade de entrada em condições melhores de risco.
Agora, se o relatório da Gavekal for seguido pelo mercado,
meu Deus! Não saberia nem dizer qual seria o nível que o ouro atingiria. Nem
vou me dar ao luxo de calcular qual seria o montante de títulos de renda fixa e
compará-lo com o total de ouro, conta essa, que indicaria um preço teórico de equilíbrio.
A ordem de grandeza dos títulos é na casa das dezenas de trilhões, enquanto por
exemplo, os principais bancos centrais detêm U$ 1,8 trilhão de ouro.
O SP500 fechou a 3.115, com alta de 0,50%; o USDBRL a R$
5,3134, com queda de 2,79%; o EURUSD a € 1,1252, com alta de 0,19%; e o ouro a U$
1.770, com queda de 0,57%.
Fique ligado!
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