Distorções por todos os lados
Uma distorção é causada pela ação de um agente de mercado
com suficiente poder de alterar a lógica prevalecente. Um exemplo que me vem à
memória é o caso da prata quando a família Hunt, a mais rica da época,
tentou deixar o mercado em corner. Seu objetivo era se proteger da emissão
desvairada de dólares pelo governo americano. Eu anexei o link hunt-brothers-and-silver-story, caso
queriam saber em detalhes esse acontecimento. Em resumo, levaram os preços
da prata de US$ 5 para mais de US$ 55, num curto espaço de tempo, distorcendo
completamente esse mercado, temporariamente.
Grifei a palavra temporariamente, porque quem quer que seja, que busque distorcer um mercado de forma artificial, ou ilógica, em algum momento os preços voltam a situação de equilíbrio.
Hoje em dia, o que mais observo são distorções ocasionadas
pelas ações dos bancos centrais. Cada um agindo em seu território criam aberrações que impactam outros mercados, dado a grande integração
financeira. Preparei uma série de fatos para justificar meu ponto de vista.
Vamos começar com o Japão, que talvez seja o precursor nessa área de
intervenções, pela estagnação que reina nesse país por décadas. Vejam o
gráfico a seguir.
Vou explicar o que os fundos locais e internacionais estão
fazendo para gerar juro superior aos dos títulos em dólares. A linha azul
representa a taxa de juros dos títulos japoneses de 3 meses, que atualmente
encontra-se em -0,24% a.a. A linha rosa, representando os títulos de 3 meses
americanos, estão apontados como comparativo de retorno +0,30% a.a. Assim, é
esse o retorno para um investidor que quer investir no curto prazo em dólares.
Porém, existe uma forma desse retorno aumentar
significativamente com a seguinte operação: 1) comprar os títulos japoneses
que rendem em yen -0,24%; 2) Em seguida vender futuro a moeda japonesa contra a
americana, transformando esse rendimento futuro em dólares; 3) A distorção no
mercado futuro de moedas é tão elevada que permite se chegar a um rendimento total
de 1,25% a.a. em dólares, tamanho é o desconto no mercado de câmbio. Esse mesmo
tipo de distorção existe para operações feitas em euros.
O ECB compra títulos privados em seu programa segundo um
critério definido. Para atender essa demanda, algumas empresas que se enquadram
nesses critérios emitiram bonds com colocação privada direta à autoridade monetária.
O gráfico a seguir mostra a diferença de performance que existe agora entre os
títulos elegíveis dos que não são.
E o volume não é pouca coisa, veja abaixo a evolução dos
volumes de títulos detidos pelo ECB no tempo.
Outro país de menor importância global que estabeleceu um
piso para a cotação de sua moeda contra o euro, foi a Suíça. Algumas vezes o
banco central foi obrigado a intervir no mercado, vendendo francos suíços e
comprando euros. Para sustentar essas emissões fez injeção de moeda, ocasionado
uma elevação de sua base monetária, que já excede a marca de 1,00 trilhão de
francos suíços, o equivalente a 80% do seu PIB. Só em termos comparativos a
americana é de 21% PIB.
O Deutsche Bank publicou um relatório, baseado em um estudo
acadêmico, onde concluem que os juros reais americanos podem chegar 1% a.a.,
vagarosamente, desde que o seu PIB não caia abaixo de 2% a.a. Caso isso não
aconteça, e o PIB fiquei abaixo desse patamar, é provável que os juros reais se
mantenham no patamar atual de 0%. Em termos nominais acrescenta-se a inflação.
Resumindo, se pode esperar juros muito baixos por muito tempo, no máximo 3%
a.a.
Mas como chegamos nesse ponto de tamanha letargia? Quem
tiver a resposta ganha o prêmio Nobel na moleza, além de faturar uma grana
preta. Na opinião do Mosca sem direito
a esses prêmios, é uma conjunção dos seguintes pontos: fatores demográficos em
diversos países; globalização da mão de obra; tecnologia, e excesso de consumo
das últimas décadas através de dívidas.
- Boa David, merece um
café! Hahaha...
Enquanto as bolsas americanas estão subindo à passos de
tartaruga, vamos manter nossa posição inalterada. Com relação aos juros de 10
anos, vou cancelar a proposta de trade de vender os juros a 1,45% old-r-us e inverter de ponta de forma muito oportunista.
- Hahaha..., só quero
ver os motivos!
Como citei acima, é muito oportunista, e não vou ter
vergonha nenhuma de mudar de ponta, caso esteja errado.
No post precisão-milimétrica, fiz os seguintes
comentários com as razões que me fariam manter a mesma sugestão de trade, ou
seja, aposta que os juros iriam cair: ...”Vou
manter a mesma orientação, desde que, o nível de
1,63% não seja ultrapassado, onde aí sim, seria cancelada essa ordem” ... ...”
Disciplina, espere o mercado te dar motivos técnicos suficientes para entrar
num trade. Já é difícil ganhar assim, imagine sem critério! ”...
O real motivo de minha mudança de posição está explicado no
gráfico abaixo.
Triângulo! Se vocês lembram, mencionei algumas vezes que
formações de triângulos indicam indecisão do mercado e que, em 2/3 dos casos,
tendem a romper na direção do movimento anterior, que nesse caso é de alta – em
verde.
Tenho consciência que esse é um trade contra a direção de
queda que está em curso, e que do mesmo jeito que existe uma probabilidade de alta,
existe também 1/3 de queda. Mas decidi arriscar, agora só depende do mercado. Let’s the market speak!
O SP500 fechou a 2.186, com alta de 0,20%; o USDBRL a R$ 2,2325, com alta de 0,99%; o EURUSD a 1,1303, com queda de 0,12%; e o ouro a US$ 1.338, sem alteração.
Fique ligado!
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