Bitcoin: da escassez para sem valor

Quando eu trabalhava no Banco Francês e Brasileiro, no início dos anos 80, um banco concorrente se destacava pela sua agressividade. Com operações arriscadas, principalmente no mercado financeiro era tido com um titã da época.

Numa determinada ocasião, o Banco Multiplic, resolveu montar uma posição vendida em LTN, títulos emitidos pelo tesouro, pois acreditava que as taxas de juros iriam subir. Naquela época, não existia mercados futuros nem de derivativos, para se fazer alguma aposta era necessário se posicionar no mercado a vista. Esse banco, escolheu um determinado vencimento, e buscou alugar dos bancos.

Para o leitor que não está familiarizado com esse tipo de operação, faço uma pequena explanação: Um Banco A decide comprar com o seu caixa uma posição de LTN pois acredita que a taxa SELIC será menor que a taxa recebida nesse título. O Banco B, que acredita o inverso, entrava em contato com a mesa desse banco e pedia emprestado esse papel mediante alguma garantia. Antes do vencimento, o Banco B se comprometia a devolver esses títulos, e para tanto, pagava uma taxa de aluguel. O Banco A tinha um lucro extra pois ganhava o rendimento da LTN mais o aluguel pago. Já o Banco B, assim que recebia esse papel alugado, vendia no mercado a vista, e com os recursos obtidos aplicava na taxa SELIC. Sua aposta é que a taxa SELIC menos o pagamento do aluguel será superior ao rendimento desse papel.

O que acabou acontecendo no caso acima, o Banco Central ao perceber o movimento do Multiplic, o que era fácil naquela época, pois havia meia dúzia de bancos ativos, resolveu entesourar todos os papéis desse vencimento que o Multiplic estava vendendo.

A taxa SELIC até acabou subindo, ou seja, o Banco Multiplic estava certo em sua aposta. Mas, tinha um pequeno detalhe, para terminar a operação teria que devolver esses papeis alugados. Quando decidiu sair a mercado para recomprar, só existia disponível um valor ínfimo. Para terminar, o Banco Multiplic teve que pedir pinico ao Banco Central, a uma taxa absurdamente baixa, ou seja, levou um grande prejuízo. O interessante nesse caso, é que não servia outro vencimento, tinha que ser exatamente aquele contratado. Ele foi “squeezado”, como se diz na gíria de mercado.

Porque quis citar essa passagem? Para enfatizar o conceito de escassez e fazer uma analogia com o bitcoin.

Em 2017 o bitcoin teve seu momento de auge, era noticia diária em todos os meios de comunicação, seus preços subiam sem parar. Quem estava promovendo esse impulso dizia que essa seria a moeda do futuro pois tinha algumas características que à diferenciava das moedas emitidas pelos países: volume limitado em circulação; não tinha interferência de nenhum Banco Central; era transferida eletronicamente de forma segura; além do mais, caiu no gosto dos jovens. Assim se criou a percepção de escassez.

Mas como diz o Mosca dinheiro não é capim. E os ganhos estratosféricos foram dando lugar a perdas diárias e continuas. A percepção de que esse movimento poderia ser uma bolha, fez com que vários adeptos abandonassem suas posições, além de vários casos de fraude reportados, machucaram sua credibilidade.

No post bitcoin-piramide-digital, descrevi as razões pela qual acreditava que o bitcoin era um típico movimento de pirâmide. Isso ainda não se concretizou exatamente, pois seria desejável que seu preço atingisse a cotação de U$ 4,0/ U$ 2,0 mil, equivalente a 10% / 20% de seu valor máximo. Não ainda!

No auge, se dizia que o bitcoin seria aceito na maioria das transações comercias e por esse motivo, poderia ser considerado como uma moeda. No post citado acima, dou minhas razões do porque eu não acreditava que seria possível. O gráfico a seguir parece dar indicações que dificilmente esse é o caso.


No início de junho, depois de atingir a cotação de U$ 5,8 mil, a mínima desde que começou o movimento de queda em 2018, começou um processo de recuperação, que apontei no gráfico abaixo em verde. Mas depois de atingir a casa dos U$ 8,3 mil recuou novamente negociando agora a U$ 7,0 mil.


Do ponto de vista técnico, parece que essa pequena esperança iniciada em junho último foi um voo de galinha, como se diz na gíria de mercado, e é provável que novas quedas devam ocorrer mais adiante.

Posso estar muito enganado mas parece que o bitcoin é um ativo que passou de escasso para sem valor. Contendo ainda adeptos, por razões obvias de estarem posicionados. Sua única saída seria o início de nova onda. Não vou ficar especulando como isso poderia ocorrer, mas quanto mais passar o tempo, mais indivíduos devem abandonar o barco e poucas adesões. Notem no gráfico acima, na parte inferior, se encontra o volume transacionado diariamente. A queda é expressiva

Para quem tem bitcoin, sugiro que se questione, qual é a sua utilidade. Hoje, não existe inflação em quase nenhum pais desenvolvido, os juros estão começando a subir, o dólar ainda é considerado a melhor moeda para efeito de troca, e as bolsas estão subindo. O que você pretende fazer com os seus bitcoins? Não serve nem material para fazer uma joia para esposa!

No post as-distorções-no-setor-de-tecnologia, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” No gráfico a seguir, com uma visão de médio prazo, se observa que a bolsa está buscando romper o nível aonde um movimento de alta poderá estar iniciando. Para tanto, é necessário que 2.870 seja ultrapassado” ...


Depois de uma queda por conta dos resultados do Facebook, além de todo o tiroteio que o Presidente Trump tem desferido ao redor do mundo, sobre a imposição de tarifas, o SP500 está bastante próximo de seu recorde histórico a 2.870.

Vou calcular quais seriam os objetivos considerando que o nível de 2.870 seja ultrapassado.  Veja a seguir.


O primeiro nível seria 3.250, uma alta de 13% dos níveis atuais, e caso seja ultrapassado, o próximo ponto seria 3.650, uma alta nada desprezível de 27%. Naturalmente, tudo isso não seria para amanhã, mas sim, daqui alguns bons meses. Mas não vá contabilizando os lucros, o SP500 precisa vencer a barreira dos 2.873 para ser mais preciso, sem recuo. Para frente e para o alto!

Desemprego nas mínimas, bolsa nas alturas, inflação baixa, só um louco não votaria no Trump nas próximas eleições. Pois é, na vida além da competência e preciso sorte, e esse maluco parece que tem!

O SP500 fechou a 2.858, com alta de 0,28%; o USDBRL a R$ 3,7672, com alta de 0,83%; o EURUSD a 1,1596, com alta de 0,37%; e o ouro a U$ 1.209, com alta de 0,29%.

Fique ligado!

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