Inflação 0%



O IPCA do mês de junho ficou em 0,01%, é isso mesmo, não foi um erro de digitação. Gosto da precisão dessas publicações, pois em nenhuma parte do mundo, seria apresentado desta forma, com duas casas decimais. A taxa anual sofreu uma queda abrupta, ocasionada pela eliminação do efeito da greve dos caminhoneiros, passando de 4,66% para 3,37%.

O destaque na queda ficou para a desaceleração do grupo Habitação (0,98% para 0,07%), com efeito da queda da cobrança extra pelo regime de bandeiras tarifárias (de amarela para verde em junho). Além disso, o grupo Transporte (0,07% para -0,31%) contou com a deflação do subgrupo de combustíveis. Já o grupo Alimentação e Bebidas perdeu o ímpeto deflacionários (-0,56% para -0,39%).

Notem na tabela abaixo como as taxas da quase totalidade dos subitens se encontram abaixo de 4%, com exceção dos Não-comercializáveis. Os leitores do Mosca já conhecem minha preferência de análise dos preços livres e do índice de difusão, ambos sob total controle.


Olhando para o futuro, os dois movimentos que exerceram pressão relevante sobre a inflação no começo de 2019, registram deflação nas últimas leituras: alimentos in natura e os combustíveis. Além disso, junho contou com a queda do preço da tarifa de energia elétrica.

Os próximos meses devem voltar a ter taxas mensais mais elevadas. Os alimentos in natura devem seguir acelerando nos próximos meses, enquanto os combustíveis devem deixar o campo deflacionário. Além disso, o item energia elétrica deve exercer pressão relevante nos próximos meses, haja vista a volta da cobrança de tarifa extra pelo sistema de bandeiras e o reajuste ordinário da ENEL SP.

Essas altas tem um caráter benigno da inflação haja visto a sua temporariedade. A Rosenberg projeta o IPCA de 3,8% em 2019 e de 3,9% em 2020 (quarto ano consecutivo abaixo da meta do Banco Central).



As taxas de juros espelhadas nos mercados futuros vêm caindo sistematicamente, atingindo patamares historicamente baixos, senão mínimos históricos. Nas taxas de curto prazo se encontra precificado uma queda da SELIC, a acontecer no segundo semestre, em 0,75%, permanecendo estável para 2020. Acabou a moleza na aposta pré-fixada, o mercado abriu os olhos!

Já os títulos indexados ao IPCA, nos vencimentos entre 5 a 10 anos, ao redor de IPCA + 3% a.a. Mesmo o longínquo vencimento em 2050, a taxa se encontra em IPCA + 3,7% a.a. Acabou a moleza aqui também.

Um exercício simplista, unicamente para efeitos de calcular o nível de rendimento que se poderá obter investindo em renda fixa, e considerando uma inflação de 3,5% a.a., e alíquota de IR de 15% (investimentos com prazo superior a 2 anos), é de se esperar o seguinte rendimento líquido:

Pré-fixado: 4,88% a.a.
IPCA: 5,61% a.a.

Isso se esses títulos não oscilarem nesse período o que é bem improvável. Está na hora para quem está integralmente investido em renda fixa considerar investimentos em ativos mais arriscados, porém com um retorno esperado mais elevado.

Ao se deparar com esses resultados pífios, o leitor pode ser levado a pensar: como era bom quando o PT estava no governo! Hahaha ...

Queria chamar a atenção para um movimento “estranho” que vem ocorrendo no mercado internacional com títulos de países emergentes. O investidor estrangeiro pode investir em renda fixa com ou sem risco de moeda. Normalmente, as taxas obtidas são superiores em moeda local quando comparadas com as emissões em dólares. O motivo parece bastante intuitivo, pois essa margem deve cobrir o risco cambial existente.

Porém não é o que está acontecendo ultimamente, como se pode verificar no gráfico abaixo, agora são iguais. Uma conclusão superficial e imediata poderia levar a crer que, os investidores esperam uma desvalorização do dólar frente a essas moedas. Por outro lado, o dólar se encontra numa posição fortalecida em relação as moedas do G-10. Além do mais, se essa fosse a visão do mercado a aposta deveria se dar no mercado de câmbio e não de títulos cuja liquidez é muito inferior.


Vou dar meu chute (chute mesmo!), o desespero para obter algum rendimento é tão grande, e considerando que os juros dos títulos de mercados emergentes são “gordos” quando comparado com os dos países desenvolvidos, que para obter esse rendimento, resolveram assumir o risco do câmbio.  Esse efeito não é tão absurdo quando o investidor em questão vive num país onde as taxas de juros são negativas. O motivo se deve ao fato de a conversão futura para sua moeda base, mitiga parte dessa diferença. Mais uma distorção da atualidade!

No post boas-fotos-com-poucos-resultados, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “... “O gráfico a seguir é longo prazo e aponta para o nível de 110 mil por dois critérios, o que lhe dá maior credibilidade. Caso ultrapasse, o novo nível que surge é 135 mil” ...


Naquele momento tinha dúvidas sobre a continuidade do movimento onde apresentei duas possibilidades oriundas dos movimentos de curtíssimo prazo. Acabou prevalecendo a opção mais benigna com o rompimento do nível de 102.000.

Ao observar meus gráficos pela manhã, e como comentei anteriormente, por dois critérios o nível de 109.000/ 110.000 aparecem, vejam a seguir.




Caso esse nível seja ultrapassado, no curto prazo se poderia esperar o atingimento de 120.000, e num horizonte de médio prazo de 135.000.

O que fazer? Sempre existem 2 formas de administrar uma posição ganhadora: a primeira é ir atualizando o stoploss e deixando o mercado te tirar fora da posição; a segunda é liquidar a posição quando chega no nível apontado como mais provável.

- David, qual caminho você vai seguir?
Primeiro vou atualizar o stoploss para 102.500, depois vou esperar que o mercado atinja o nível de 109.000/110.000, aí vou decidir o que fazer. Um passo de cada vez, e prudência para não colocar no bolso um lucro que não existe ainda.

Os argumentos que tracei inicialmente neste post, ainda terá efeito por um longo período, a mudança de uma situação confortável de rendimento para outra mais arriscada é feita de forma lenta. Por outro lado. O volume que poderia migrar para a ações é muito grande, o que poderá dar sustentação a bolsa brasileira no longo prazo.

O SP500 fechou a 2.993, com alta de 0,45%; o USDBRL a R$ 3,7539, com queda de 1,20%; o EURUSD a 1,1251, com alta de 0,41%; e o ouro a U$ 1.417, com alta de 1,41%.

Fique ligado!

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