Debaixo da Água



O mundo está ficando aparentemente mais calmo, talvez a única preocupação que ainda paira no ar é o Irã. Com a República Islâmica anunciando que violou os limites de enriquecimento de urânio acordados no acordo nuclear de 2015, a primeira coisa a ter em mente - e muitas vezes é esquecida - é que o Irã só teve uma razão para iniciar um programa nuclear: ameaçar seus vizinhos. Isso foi verdade para o xá Mohammed Reza Pahlavi nos anos 1950, e é verdade no estado teocrático que se seguiu.

Devemos começar a nos preocupar quando o Irã tiver 1 tonelada de urânio enriquecido para 3.67%? Ou podemos permanecer otimistas até começarem o enriquecimento a 20%? Os iranianos provavelmente permanecerão - ou pelo menos darão a impressão de permanecerem - dentro de níveis de enriquecimento que lhes permitam alegar que não estão realmente tentando fabricar armas nucleares. Se dá para confiar ou não deixaremos para a alta espionagem do ocidente acompanhar.

Aqui no Brasil, passados 6 meses da posse de Bolsonaro, cada dia que passa fica mais visível que as principais agendas econômicas não sofrem mais influência de suas ações desastradas. Comemorando a vitória da seleção brasileira na Copa América, estes devem ser seus principais momentos, ficando o resto por conta de sua equipe econômica.

Mas é o risco de uma recessão global, não se contra no ar?

Hoje tivemos uma discussão interessante sobre o momento que vivemos. Luis Paulo Rosenberg, com uma postura pragmática, acredita que esse risco se encontra bastante mitigado, e que os parâmetros usados no passado devem ser encarados com bastante cuidado.

É verdade que a recuperação mundial que sucedeu a grande recessão foi muito inferior ao que se viu no passado, onde a evolução tecnológica pode ser parte da explicação.

Não é sem razão o impulso tecnológico ocorrido depois de 2008. As crises são precedidas por momentos de mudanças. O aumento de produtividade observado nesse período corrobora esse status atual, com uma grande diferença em relação ao passado, os ganhos foram concentrando na mão dos mais ricos ao invés de uma distribuição mais equilibrada.

Colaborou para essa situação o que denominei de efeito China, ou seja, a terceirização da manufatura. Esse movimento foi tão elevado que hoje em dia, a manufatura tem pouca importância em termos econômicos nos países desenvolvidos, embora ainda empregue uma alta quantidade de trabalhadores, relativamente.

E o que dizer do elevado grau de endividamento? É fato que os governos emitiram elevadíssimas quantidade de dívida para evitar uma deflação, para evitar comprometer a saúde financeira das economias ocidentais. Também, você vai encontrar nos livros texto de economia que, a solução para esse endividamento se dá através da alta da inflação, cujo objetivo é correr o valor real dos títulos em poder do público, diminuindo seu peso quando comparado ao PIB.

Essa é a maneira clássica, porém, você não vai encontrar em nenhum livro de economia, que a desvalorização da dívida pode ser alcançada com um nível de inflação mais baixo, desde que, se pratique juros negativos. Notem, o efeito de perda é o mesmo.

Para exemplificar imaginem que um governo emitiu dívida a 2% a.a. e a inflação subiu para 4% a.a., a perda nesse caso é de 2% a.a. Na situação atual, a inflação nos países desenvolvidos se encontra em 1,5% a.a. e os juros – 0,5% a.a. A perda real é em ambos os casos idêntica.

Mas tudo isso é tão controverso que, mesmo com um efeito análogo nos dois casos, as pessoas percebem o segundo como uma perda enorme, o mesmo não acontecendo no primeiro. Figurativamente, é como querer respirar debaixo da agua. Melhor seria uma inflaçãozinha básica ao invés de juros negativos.

Não é à toa que os rendimentos propiciados pelos títulos de renda fixa suplantaram a da bolsa americana. E veja, isso não ocorreu nos últimos meses ou ano, e sim, nos últimos 20 anos.




Se vocês me perguntassem alguns anos atrás, se essa situação de ganhos poderia perdurar, eu diria que não, pois estaria implícito que os juros nunca poderiam ficar negativos. Hoje em dia é um pouco diferente. Como os juros americanos ainda são elevados (!), se comparados aos europeus e japoneses, tudo é possível!

- David, você está querendo dizer que, é um bom negócio investir num título com juro negativo?
Não, o que eu busquei desenvolver é que, sua perda investindo num título desses pode ser igual a uma situação “clássica”. Mas entendo, não é nada intuitivo.

Voltando a publicação dos dados de emprego na sexta-feira, a expectativa de queda do juro pelo Fed, passou de duas para uma nos próximos 60 dias. Notem que a queda é esperada para a próxima reunião a ser realizada no final deste mês, mostrando que o mercado não abre mão dessa ideia.




No post boas-fotos-com-poucos-resultados, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “não ouve nenhuma alteração nas conclusões sobre o que foi postado na semana passada” .... Com uma leve queda em relação à semana anterior, a mesma projeção de queda continua.

O leitor poderia se perguntar o por que não sugiro um trade de venda. Para explicar, exponho as duas possibilidades que essa correção em curso pode ocasionar. No gráfico a seguir, se encontram essas hipóteses.




·         Triângulo – A trajetória traçada em verde, visualiza a alternativa de uma correção já bem conhecida dos leitores. Como se pode notar, haveria uma alta antes da última queda.

·         Zig – Zag – Neste caso, as cotações estariam rumo ao nível de R$ 3,50, antes que uma reversão deve-se acontecer.

Notem que no primeiro caso, o potencial de ganho se resumiria a 1,3% (R$ 3,80 para R$ 3,75), com uma perda potencial mais elevada, sujeita ao nível do stoploss. No segundo caso, o resultado seria mais interessante com um ganho potencial de 8,5% (R$ 3,80 para R$ 3,50).

Como em correções nunca se sabe qual o formato que prevalece, os dois movimentos são equiprováveis.

Por mais que o Mosca tenha uma opinião sobre o dólar, as condições de preço não sugerem a colocação de um trade, nesse momento. Vamos aguardar observando esse mercado sem posições.

O SP500 fechou a 2.975, com queda de 0,48%; o USDBRL a R$ 3,8075, com queda de 0,38%; o EURUSD a 1,1210, com queda de 0,12%; e o ouro a U$ 1.393, com queda de 0,41%.

Fique ligado!

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