Tiro com bala de festim
Uma das formas clássicas de se enfrentar uma desaceleração econômica
é o uso da taxa câmbio. Para o leitor que não está familiarizado com essa
técnica vou explicar de forma simplificada. Suponha que o Brasil exporte somente
um produto e seu preço fixado em moeda local é de R$ 100. Considerando uma taxa
de câmbio em dólares de R$ 2,50, esse produto é oferecido nos EUA à U$ 40.
Para incentivar essa economia, o governo promove uma
desvalorização do real de 20%, fazendo com que a nova cotação seja de R$ 3,00.
Nesse caso, o produto exportado passa a valer em dólares U$ 33,33, ou seja, uma
queda de 20% que poderá atrair novos compradores, ou substituir importações de
outros países.
Na verdade, as cosias não são tão simples assim, pois essa
desvalorização desejada pelo governo, num pais com câmbio livre, poderá não
acontecer dessa forma, pois se esse país tem um fluxo de dólares positivos, o câmbio
sofre naturalmente uma pressão valorização. Se esse produto é uma commoditie,
cujo preço é determinado pelo mercado internacional, o produtor que imagina sua
margem aumentada pelo câmbio mais depreciado, vai sofrer pressão do importador
para que reduza seu preço. Eles acompanham o mercado de moedas e sabem fazer
conta!
Mas é indiscutível que uma depreciação cambial tem um
incentivo para o país que operacionaliza. Não vou entrar neste momento, nas
outras consequências que uma desvalorização acarreta.
As principais economias em todo o mundo parecem cobiçar uma
moeda mais fraca à medida que aumentam os riscos para o crescimento. Isso torna
a engenharia de desvalorizar o dólar, euro ou outra moeda, mais difícil.
O presidente Donald Trump repetidamente criticou o Federal
Reserve para reduzir as taxas e reclamou que o dólar americano é muito forte.
Mas ele tem concorrência. Pode não mencionar a taxa de câmbio explicitamente,
mas o Banco Central Europeu está preparado para afrouxar a política, pesando
sobre a moeda comum.
O presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, disse que o
banco "continuará persistentemente com um poderoso afrouxamento
monetário" para aumentar a inflação. Na China, o banco central parece
preparado para acelerar os estímulos a fim de reativar o crescimento.
Graças à flexibilização monetária sincronizada, quaisquer
movimentos simultâneos para enfraquecer as moedas podem anular-se mutuamente -
fazendo com que as políticas adotadas sejam uma perda de tempo.
Em 2010, quando os principais bancos centrais estavam
imprimindo dinheiro e cortando taxas, fazendo com que suas taxas de câmbio
caíssem, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega a rotulou de “guerra cambial”.
A diferença é que naquela época o dólar estava caindo e outros países tentaram
alcançá-lo.
Agora, o dólar está entre as moedas mais sobrevalorizadas do
G-10, de acordo com um modelo do BIS sobre taxas de câmbio reais efetivas.
Um desejo entre os formuladores de políticas, a de expandir
seu kit de ferramentas para estimular o crescimento é compreensível. O Fundo
Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo sua previsão de crescimento
para 2019 repetidamente, já que as tensões comerciais e geopolíticas ameaçaram
amortecer a economia mundial. Os principais bancos centrais, incluindo os da
Suíça e da Austrália, seguem uma política de taxas baixas.
"Se os EUA quiserem um dólar mais fraco agora, vão ter
problemas para conseguir isso apenas com o uso da política monetária",
disse Kit Juckes, estrategista da Societe Generale. “A política do Fed não é
mais o condutor do dólar - o crescimento é. Um corte na taxa pelo Fed não irá
valorizar o euro, se a perspectiva de crescimento na Europa for fraca. ”
Quaisquer desvalorizações competitivas são naturalmente
carregadas de tensões políticas, enquanto as baixas taxas de juros prolongadas
ameaçam as bolhas de ativos e a repressão financeira.
Os mercados esperam que o Fed anuncie um corte de 0,25
pontos nas taxas de juros na semana que vem. Apesar disso, o euro desvalorizou
1,7% em relação ao dólar neste trimestre, e está 2,5% abaixo este ano.
É improvável que os EUA intervenham no mercado cambial
vendendo dólares, em parte porque corre o risco de desencadear contramedidas de
outras autoridades monetárias. A opção seria, a do Fed reduzir as taxas de
forma mais agressiva para esse fim. Mas a extensão da fraqueza do dólar será
limitada porque outros bancos centrais estão se tornando mais expansionistas, o
que tornaria sem efeito a medida do Fed.
A política monetária na situação atual se torna inócua nas
taxas de câmbio, pois se todos os países agissem de maneira coordenada e na
mesma medida (essa ideia só vale para efeitos de raciocínio), o efeito seria
zero, a taxa de câmbio permaneceria a mesma. É como o tiro num alvo com bala de
festim.
No Brasil foi publicado o IPCA -15 de julho em 0,09% (que precisão!),
levando a taxa anual para 3,27%, muito abaixo da meta do BCB. Ao invés de
buscar as explicações dos itens que contribuíram para a alta e para a baixa, o
que sempre deve acontecer numa economia aberta, peço aos leitores que se
atentem as variações mensais na coluna abaixo, e notem a variação nos diversos
subitens. O mais elevado são os Serviços 0,37%, 4,5% em bases anuais, e o mais
baixo Alimentação no Domicilio Subjacente (0,19%), (2,26%) em bases anuais. Ambos
muito bem comportados.
A Rosenberg projeta uma modesta aceleração no IPCA no
segundo semestre de 2019, oriundo da elevação do preço da energia, em função da
recente restrição hídrica, terminado o ano em 3,9%. Para 2020, a princípio
repete o mesmo nível, embora algumas alterações no cálculo do IPCA poderão ter
um efeito negativo na taxa anual entre -0,20% a – 0,40%.
Na próxima semana, tanto o BCB como o Fed têm reuniões
agendadas para definição da política monetária. Para ambos bancos centrais são
esperados uma queda da taxa de juros. Existe dúvida qual a magnitude da queda,
se 0,25% ou 0,50%. Na tabelinha abaixo qual par você opta?
Se o BCB não baixar os juros em 0,50% não sei quando poderia ser!
No post a-moleza-acabou, fiz os seguintes comentários
sobre o euro: ...
“depois de rompido a reta anotada no gráfico em cinza, sua cotação voltou ao
marasmo dos últimos meses. Para que nosso trade tenha chance de sucesso, é
necessário que o nível de € 1,145 seja ultrapassado. Antes disso, tudo é
possível” ...
Hoje pela manhã nosso trade foi estopado a €
1,12 com uma pequena perda. Daqui em diante fica o nível ao redor de €
1,11 como um novo teste para saber se continua a queda daí em diante ou uma
nova tentativa de alta aconteça.
A moeda única se encontra contida num intervalo de
negociação entre € 1,15 a € 1,11 desde outubro do ano passado.
Até março ficou mais na parte superior do retângulo, enquanto que depois disso,
na parte inferior da mesma figura.
Em análise técnica, quando um ativo negocia num intervalo
contido por duas retas (em cinza) que afunila, é esperado com maior chance que
rompa no sentido contrário ao do movimento que se sucede (no caso esse
movimento é de queda). Tudo indica que o euro irá testar a área anotada em
verde €
1,11 - €
1,106.
Esse intervalo passa a ser importante no curto prazo, pois
poderá seguir o que se espera, ou continuar caindo.
As apostas do Mosca no
euro têm sido no sentido do mais provável, porém até o momento não foi
bem-sucedida. No momento não vou fazer nada, somente observar sem ficar p@#o
com a moeda única, pois de nada adianta.
Há um bom tempo venho dizendo que o euro é um ativo que tem
decepcionado os traders que atuam nesse mercado. Mas tenho esperanças que em
algum momento o euro vai ganhar tração e no longo prazo deverá subir. Porém,
enquanto isso não acontecer, deverá continuar como um destruidor de lucro.
O SP500 fechou a 3.005, com alta de 0,68%; o USDBRL a R$
3,7757, com alta de 0,95%. Existia um trade de venda do dólar em aberto a R$ 3,94 que fica cancelado; o EURUSD a € 1,1145, com queda de 0,55%; e o ouro
a U$ 1.416, com queda de 0,62%.
Fique ligado!
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