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Esse foi a legenda de um analista financeiro que acompanho, elencando
o número de locais que estarão fechados a partir de agora em Nova York.
Curiosamente a área financeira consegue trabalhar de forma bastante razoável a distância.
Uma razão é que os bancos têm rotinas de emergência já estabelecidas.
Se está tudo fechando por que não fechar a bolsa? Esse é um
assunto que está sendo conversado entre os analistas. Essa decisão não é nada
trivial, porém eu já passei situações na minha vida profissional onde isso
acabou acontecendo. Vou fazer um breve relato.
Em 1989 o mega investidor Nagi Nahas fez posições no mercado
de ações enormes de forma alavancada. Nesse ano eu retornava ao Banco Francês e
Brasileiro com a responsabilidade da tesouraria e da corretora de valores. Como
ele era um investidor com muito carisma convencia os mais desavisados que suas
operações não tinham risco.
Imediatamente pedi para verificar se existia algum risco na
minha área, e notei uma operação com opções. Eu tinha um risco indireto pelas posições
do banco, que poderiam ser afetadas caso ele tivesse problemas. Essas posições
era no que se denomina financiamento do índice Ibovespa, que consiste em
comprar a carteira do Ibovespa e vender o contrato futuro, almejando uma
operação financeira, que a princípio não deveria ter risco.
Aquela operação de opções me incomodava pois eu sabia de seu
risco. Ele tomou um empréstimo bancário para financiar o prêmio, dizendo que a
opção era uma garantia. Indo mais a fundo, descobri que tinha uma agência do
banco que além dessa operação estava financiando ações a vista.
Levei a diretoria que não queria assumir o risco das opções
e disse que o cliente precisava zerar. Como existiam interesses comerciais,
resolveram fazer uma reunião com a corretora que representava Nagi Nahas, onde
eu participei. Ao sair da reunião fiquei convencido que iria dar uma
ca#a&a! Além de tirar dos meus livros essas operações, decidi proteger o financiamento
do índice trocando algumas ações por opções (eu sei que é o assunto é um pouco técnico).
Em junho deste ano, eu estava em Los Angeles de férias. Num determinado
dia houve um pequeno tremor, posso dizer que é bem desagradável, não sabia o
que fazer. Passados ½ hora recebo um telefonema do escritório (lembro que nem
celular existia). De cara imaginei, puxa o pessoal está preocupado comigo, mas
ao atender meu colaborador disse “O Nagi quebrou e a bolsa fechou”. Não me
lembro bem, mas permaneceu fechada por poucos dias e depois abriu novamente.
Naquela época a Bovespa estabelecia um limite de baixa de
10%, semelhante ao de hoje, só que não reabria durante do dia. Os contratos
futuros da BMF eram negociados em outro local. Para essa emergência, decidiram
algo que era impensável, depois da abertura dessa bolsa - BMF, se os contratos
permanecessem no limite de baixa, 1/3 das posições seriam liquidas compulsoriamente
nesse preço.
O que acabou acontecendo, a bolsa ficou 3 dias em limite de
baixa, e só começou a negociar no dia seguinte. Mesmo trocando parte da
carteira por opções, ainda perdemos dinheiro, pois as ações que renasceram
foram vendidas a preços 30% abaixo, enquanto o índice futuro, que protegia a
carteira, foi liquidado em preços acima.
Pedi para os advogados verificar se a BMF tinha o direito de
fazer esse esquema de liquidação, e parece que naquelas entre linhas lhe permitia
em situações excepcionais. A partir desse dia eu coloquei um limite de crédito
para as operações na BMF!
Mas porque a BMF fez isso? Queria beneficiar a turma que
estava comprada? Naturalmente não, o motivo é que se não fizesse a bolsa quebrava,
pois, as garantias não seriam suficientes. Outra lição: a bolsa não quebra,
quem paga a conta são os investidores, mesmo que isso signifique fazer algo heterodoxo.
Voltando a situação atual, por um lado seria saudável a bolsa
fechar por um tempo. Se isso fosse anunciado, subiria de imediato, pois os
vendidos não ficariam expostos sem poder sair, por outro lado, se a situação piorar,
pode ser que as garantias existentes não sejam suficientes nesse outro momento.
Assim, acredito que é difícil imaginar que as bolsas possam fechar.
O Fed resolveu abrir as comportas ontem, não sei se haverá helicópteros
suficientes para todo esse dinheiro! O volume potencial para as próximas
semanas é de U$ 5,4 trilhões. Antes dessa medida, notem o gráfico a seguir que,
o volume de títulos em sua posição, é o maior já registrado antes que iniciasse
o resgate em 2018. Essa atitude também foi seguida pelo ECB que ao invés de
baixar os juros preferiu usar dos helicópteros.
Tenho um certo receio dessas intervenções caso as economias
voltem a funcionar daqui algum tempo. Alguém disse inflação?
Vejam a seguir um quadro com os impactos no PIB dos países, em
função da queda dos preços do petróleo. Na esquerda, Rússia e Arábia Saudita,
no meio a torcida do Corinthians, e a direita Índia e China. Hummm .....
No post rumo-ao-desconhecido, fiz os seguintes comentários
sobre os juros de 10 anos: ... “No gráfico a seguir
aponto qual o novo objetivo de 0,10% a.a., caso não acontecer uma reversão” ...
Depois de
atingir a mínima de 0,3%, os juros estão num processo de recuperação, fugindo
um pouco o ritual que prevalecia até então que indicava juros e bolsa americana
para baixo. Em todo caso, acredito que se trata de uma correção em andamento.
Desta forma, vou propor um trade acreditando na queda de juros se as cotações
atingirem 1, 05% a.a., com stoploss a 1,20% a.a., com objetivo entre 0,10% e
0,0%.
Eu já mais
imaginei que fosse sugerir uma operação como essas de apostar que o juro de 10
anos vai para 0%. Isso só foi possível agora pelo uso das ferramentas de
análise técnica, pois a colocação de um stoploss permite corrigir, caso eu
esteja errado.
Outro ponto
fundamental que se deve usar nesse momento é avaliar o tamanho da posição, pois
os stoploss são maiores em função da dimensão dos movimentos. Nesse caso específico,
o stoploss provocaria uma perda de 1,0% o que é razoável dentro dos padrões que
operamos. Mas essa ressalva vale para outras posições que vocês detêm.
Gostaria de
citar uma curiosidade que ocorre no mercado de bonds mercado. Em 2019, passaram
se vários meses discutindo se a economia americana estaria apontando para uma
recessão. O indicador mais comentado, que antecipava esse momento, era a
diferença de juros entre os títulos de 10 anos e os curtos (de 3 meses ou 2
anos), conforme se pode verificar no gráfico a seguir. O motivo naquele momento
era a guerra comercial entre EUA e China. A partir de outubro, esse diferencial
saiu do negativo, em seguida voltou a cair até fevereiro, ficando apenas alguns
dias abaixo de zero.
Quando o Fed
cortou os juros na semana passada, o mercado continuou apostando que um novo
corte de no mínimo 50 pontos, deveria acontecer essa semana. Desde então, o
diferencial começou a subir firme. Agora, se minha previsão dos juros de 10
anos estiver correta, ou esse diferencial volta a cair, ou o Fed vai praticar
taxas negativas. Façam suas apostas!
O SP500 fechou
a 2.711, com alta de 9,29%; o USDBRL a R$ 4,8580, com alta de 1,40%; o EURUSD a
€ 1,1105, com queda de 0,70%; e o ouro a U$ 1.529, com queda de 3,01%.
Fique ligado!
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