Decisão sob pressão



Durante minha vida profissional passei alguns momentos onde presenciei decisões erradas, quando se está sob pressão. Algumas ocorrem quando a busca é pelo retorno ocasionada por novas condições do mercado. Sob pressão, a opção é feita de forma irracional sem considerar os riscos.

Uma delas se deu quando estava na Planibanc. Naquele momento estava claro que a compra de papeis pré-fixados propiciaria um bom retorno. Acontece que, essa era uma percepção da maior parte dos bancos, sendo assim, nenhum banco de qualidade estava disposto a vender esses papeis. O único que se dispunha a isso era o Bamerindus que já apresentava sinais de fraqueza, mesmo assim, resolvemos comprar.

O pré fixado se mostrou uma boa decisão, porém, depois de algum tempo, os boatos sobre a saúde financeira desse banco começaram a se disseminar. Aquela posição foi feita para financiamento no mercado aberto onde esse título servia como lastro. Já muito preocupados, resolvemos buscar alguma instituição para que pudéssemos nos desfazer desses títulos. Ninguém se dispunha, somente o próprio Bamerindus a uma taxa muito pior que a que havíamos adquirido (mesmo tendo ocorrido a queda nas taxas de juros no mercado). Não teve jeito, vendemos realizando o prejuízo. Depois de algum tempo o banco sofreu intervenção do Banco Central.

Mais recentemente, um outro segmento acabou adotando algo análogo. Isso se deu nos fundos de pensão americanos (valido para outros países) conforme reportado pelo Wall Street Journal. Para quem não conhece a estrutura dessas entidades, a logica se baseia no recebimento das mensalidades dos participantes, que investidos em ativos financeiros, devem cobrir as pensões dos aposentados. Esse setor sofreu duas mudanças estruturais que modificam seus modelos originais de equilíbrio: o aumento da longevidade, e a queda das taxas de juros.

Os sistemas de aposentadoria dos governos estaduais e municipais americanos enfrentam a difícil tarefa de tentar preencher as lacunas de financiamento enquanto protegem contra perdas de investimento. As duas últimas semanas de queda dos rendimentos dos títulos e aumento da volatilidade do mercado de ações tornaram esse trabalho ainda mais complicado.

Os fundos de pensão vêm acumulando há anos ações na bolsa para tentar reduzir os déficits, depois que uma queda durante a última década, nos rendimentos dos títulos, cortou os retornos que eles poderiam esperar de suas carteiras de renda fixa. Hoje, as ações representam quase 60% dos ativos dos fundos de pensão, um recorde dos últimos 13 anos. Os retornos do mercado altista do decêndio ajudaram a mitigar a elevada perda da última recessão.

O índice de fundos agregados dos planos de pensão corporativos dos EUA caiu para 81,7% em fevereiro, segundo a Wilshire Consulting, o que significa que os fundos de pensão têm 81,7 centavos de dólar por cada dólar de passivo. Os fundos públicos calculam seus passivos usando uma taxa mais alta que os planos corporativos, com média de cerca de 7%. Isso pressiona os fundos a acumularem riscos, a fim de gerar retornos altos o suficiente para alinhar ativos com suas obrigações.

Mas, como o rendimento dos títulos caiu constantemente ao longo de décadas, tentar limitar as perdas do mercado sem sacrificar os retornos totais tornou-se uma caminhada na corda bamba para os gestores de investimentos públicos.

"Estamos nessa situação", disse Sandy Matheson, diretora executiva do Sistema de Aposentadoria de Funcionários Públicos do Maine, que tem um nível de financiamento de 82%. "Você não pode ganhar somente 40% ou 50% do seu retorno, inicialmente esperado da renda fixa".

Durante minha vida profissional sempre que fui levado a aumentar o risco de forma compulsória, e o resultado esperado não foi bom. O correto nestas situações é adequar à nova realidade e não “forçar” manter o benefício, sem que o seu perfil de risco seja apropriado para essa nova configuração.

O teor do blog de hoje tem a ver com as novas perspectivas que a economia brasileira se encontra, principalmente com a queda de juros. Eu venho enfatizando a necessidade de rever seus investimentos em função disso, alocando maiores parcelas nos mercados de risco. Com a recente queda da bolsa, será um bom momento para avaliar se essa mudança está dentro da sua tolerância de perda, ou não. O momento é um bom teste, pois ninguém pode achar que vai investir no mercado acionário e só colher os lucros de forma contínua, se achar, deve retomar a renda fixa!

No post a-sedução-do-lucro, fiz os seguintes comentários sobre o euro: ... “o euro deu um sinal de queda no curto prazo, abrindo a possibilidade de novas mínimas a seguir. Esse intervalo seria entre € 1,08 - € 1,07” ... ... “apontei o nível de € 1,07 como “matematicamente” correto para que a reversão ocorra. Talvez o termo melhor seja tecnicamente correto, embora isso não exista em análise técnica” ...

Eu venho insistindo a um bom tempo que o euro deveria ter uma reversão em algum momento. Como o movimento é de correção não se sabe em que nível de retração irá acontecer. O que se faz normalmente é usar os níveis mais prováveis, e se aventurar com um trade imaginado que vai reverter, mas sempre colocando um stoploss curto. No caso do euro, ocorreu num dos últimos níveis em que se espera aconteça a reversão.

Desde a mínima atingida em € 1,0775 – dentro do intervalo comentado acima, encontra-se agora em € 1,1210, uma alta de 4,0 %, nada mal!

Como havia mencionado, mesmo considerando que uma alta poderia ocorrer, o Mosca decidiu não propor um trade. O motivo era a falta de segurança que dessa vez vai - como teria a mesma inclinação durante alguns momentos, nestes últimos 12 meses. Daqui em diante, vou observar o movimento e propor um trade quando considerar melhores condições de entrada.

O euro ainda não rompeu definitivamente as retas paralelas apontadas acima, e necessário que fique acima de € 1,12. Em isso acontecendo, o intervalo a ser considerado ainda como uma correção em andamento, seria entre € 1,145 a € 1,19, somente acima disso podemos imaginar uma possível reversão da tendência de baixa, que só seria confirmada acima de € 1,23.

Como podem notar, estamos distantes desses níveis e muita água vai rolar até que isso aconteça (se acontecer). Por enquanto, não vou propor nada, e estarei observando a evolução.


O SP500 fechou a 3.023, com queda de 3,39%; o USDBRL a R$ 4,6073, com alta de 0,49%; o EURUSD a € 1,1241, com alta de 0,97%; e o ouro a U$ 1.670, com alta de 2,15%.

Fique ligado!

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