Sinais de desorganização nos mercados financeiros
Parece que no curto prazo o cenário não deverá ter muitas
mudanças, com o número de infecções crescendo ao redor do mundo, juntamente com
novas mortes, o medo deve prevalecer. Os bancos centrais buscam agir com
rapidez bem como os governos lançando pacotes de ajudas como a do Presidente
Trump, que anunciou ontem uma injeção de U$ 1,2 trilhão, equivalente a 6% do
PIB, não é pouca coisa.
Acontece que ninguém consegue saber como será o dia d+1
depois que o contágio do vírus for eliminado. Cada vez que penso neste assunto vejo
problemas que podem acontecer. Por exemplo, a globalização permitiu que as
empresas grandes alocassem sua produção ou serviço no local que fosse mais atrativo.
A indústria automobilística é um caso desse tipo, onde peças são produzidas em
vários países e a montagem em outros. Tudo funcionava bem, com sistema Just in
time agregado a inteligência artificial, não havia falta de peças. Agora pensem
que o mundo está em defasagem, a China aparentemente já passou pelo surto e nós
estamos entrando. Não é razoável supor que faltará peças na linha de montagem?
Hoje vou compartilhar alguns dados dos diversos a que tenho
acesso. Vou iniciar por um gráfico que compara as diversas quedas sofridas pelo
SP500 durante sua história. Se pode notar que a atual é das mais severas em
termos de velocidade.
Na área de emprego, onde tudo ia tão maravilhosamente bem, a
solicitação de seguro desemprego bem como o registro como desempregado, deram
um salto enorme.
A confiança nos dias de alta da bolsa se tornam cada vez
mais fracos, nesses últimos dias basta acontecer uma alta num dia para que no
dia seguinte seja revertida. Como consequência o VIX, índice que mede a
volatilidade simplesmente explodiu, atingindo níveis nunca visto.
Uma curiosidade que de certa forma intriga é a performance
da bolsa chinesa, quando comparada com as outras, se nota uma queda bem mais
branda, assim como a sua moeda, que tem uma performance superior a de qualquer
país emergente.
Pode ser que os americanos estão procurando formas de se
proteger comprando imóveis, pois a busca por informações de financiamento explodiu.
Esse é um movimento que acontece nesses momentos, mas que não se torna efetivo
no tempo.
Mas o que realmente me deixou preocupado é o que está ocorrendo
no mercado de títulos do governo. Não existe nenhum país desenvolvido que não
colocou suas taxas de juros na linha do 0%, fora os europeus que estão abaixo
dessa linha. Seria de se esperar que as taxas dos títulos estivessem em queda
depois dos últimos movimentos, porém não é isso que se observa.
Os títulos alemães - alguns dos ativos mais seguros da área
da região do euro - estão reagindo de forma contraria.
O preço dos bunds, como são chamados no mercado, caíram por sete dias consecutivos, elevando o rendimento em mais de 60 pontos-base, vindo de um nível recorde de -0,91%.
O preço dos bunds, como são chamados no mercado, caíram por sete dias consecutivos, elevando o rendimento em mais de 60 pontos-base, vindo de um nível recorde de -0,91%.
Em termos de velocidade, a venda é ainda mais rápido desta
vez - foi o maior salto de cinco dias em rendimentos desde 1990.
Atualmente, o BCE está quase sem munição para combater outra desaceleração, mas os governos estão finalmente assumindo o bastão com enormes promessas de gastos. Embora a Alemanha tenha regras muito rigorosas para o limite da dívida, elas mostram sinais de se soltar à medida que o coronavírus interrompe a economia
Outros fatores também estão em jogo. Os gestores de fundos
procuram vender ativos em uma tentativa de manter caixa, o que proporciona mais
flexibilidade e permite que eles se preparem para possíveis resgates por
investidores.
Mas esse movimento é geral, não se limitando somente aos
títulos alemães, americanos, franceses, australianos estão todos com um
comportamento no mínimo estranho. Isso poderia reforçar a tese de deflação onde
nenhum ativo se valoriza com exceção de caixa na moeda forte, que por enquanto
é o dólar.
Um trade que tinha sido executado ontem, quando os juros
americanos de 10 anos atingiram nosso nível de 1,05%, pelos motivos acima,
estou zerando hoje no mesmo nível. Prefiro ficar sem posições nos mercados.
No post cara-ou-coroa, fiz os seguintes comentários
sobre o SP500: ...” Entre 2.550 a 2.750, essa queda deveria ser
contida, abaixo disso complica, e no limite, abaixo de 2.350 teria que
praticamente abandonar a opção do triangulo” ...
Hoje o nível de 2.350 foi rompido eliminando a possibilidade
de que essa “macro” correção seja um triangulo. Um outro formato que pode
surgir nessas situações se denomina de flat, conforme explicitado a seguir.
Supondo que a bolsa inicie um movimento de recuperação de
preços, ao redor do nível atual, até o patamar entre 2.850- 2.950, para em
seguida iniciar um novo movimento de baixa que a levaria o SP500 próximo dos
2.000 pontos, ou um pouco abaixo. A boa notícia é que depois dessa queda um
novo movimento de alta levaria a bolsa a níveis superiores, aos atingido em fevereiro
último.
- David, acho que você está alucinando, depois de tanta
queda, ainda acredita que a bolsa vai subir mais à frente?
Você deve ter notado que minhas premissas foram se alterando
no tempo, de acordo com as informações que o mercado nos dava. A última foi o
abandono do triangulo. Um cenário alternativo mais pessimista, embora pareça
pouco provável pelas características das curvas, seria bem mais negativo. Mas
não vou trabalhar nem explicar qual seria agora. Se esse que estou propondo não
se materializar, e a bolsa continuar caindo, vou colocar no futuro (espero que
não precise!)
Acredito que para os mercados se acalmarem serão necessárias
2 respostas:
1)
A contaminação irá terminar em algum momento? Se
sim, quando?
2)
Como será a vida das pessoas depois disso?
Se a resposta da primeira for sim e rápida, dentro de 60
dias, e na segunda, tudo será mais ou menos como antes, o mundo ficara bem mais
tranquilo. Agora, se no primeiro item a resposta for parcial e demorar muito,
não seria nada bom.
Até que essas dúvidas sejam esclarecidas, os mercados irão
navegar no escuro, levados por emoções nos dois lados.
O SP500 fechou a 2.398, com queda de 5,18%; o USDBRL a R$
5,1480, com alta de 2,80%; o EURUSD a € 1,0906, com queda de 0,82%; e o ouro
a U$ 1.487, com queda de 2,65%.
Fique ligado!
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