Deflação é bom?


Para quem viveu os anos de elevada inflação, e até hiperinflação como eu, sabe que manter os preços sob controle é uma condição necessária para um bom desempenho da economia. Essa situação corrói o poder de compra da população. De forma inversa, se poderia esperar ser a deflação, um cenário aonde se aumenta o poder de compra, com a queda de preços. Mas nem sempre é isso que ocorre.

Como costumo dizer, a deflação pode ser pelo bom motivo ou pelo mal motivo. Vou eliminar o caso mais raro e positivo que ocorre quando a produtividade se eleva, ou uma nova tecnologia estrutural ocorre, propiciando que os preços caiam. No caso negativo, e com maior frequência, ocorre pela queda da demanda forçando os preços para baixo. Esse cenário é bastante perigoso, e a principal razão dos bancos centrais terem pavor desse quadro econômico.

Hoje foi publicado o IPCA de maio que apresentou uma deflação de -0,38%, repetindo praticamente o dado de abril (-0,31%). A inflação medida em 12 meses de 1,88% fica significativamente abaixo da banda inferior de 2,5% fixada pelo Banco Central.


Cinco dos nove grupos que integram o IPCA tiveram deflação em maio. Os bens e serviços do grupo de transportes — que tem o maior peso entre os grupos do IPCA — registraram, em média, queda de 1,90% nos preços em maio. O grupo retirou, desta forma, 0,38 % do índice de inflação no mês.

Outro fator importante dentro da composição dos dados, é o indicie de difusão que recuou para 43%, um dos mais baixos da história, o que indica pouco repasse entre os preços.

Esses resultados deverão pesar na decisão do BCB na reunião de política monetária, a ser realizada na próxima quarta-feira. A taxa atual é de 3% e um corte de 0,75% levaria a níveis impensáveis no passado de 2,25% a.a.

Um fator que deixou os analistas confusos foi a elevada desvalorização do dólar que historicamente tem impacto na inflação. A título ilustrativo, o gráfico a seguir compara o real contra grande parte das moedas emergentes. Como a queda do dólar ocorreu recentemente e de forma abrupta, esse percentual de aproximadamente 20% se reduziu para 10%. Em todo caso, a queda acabou ocorrendo com todas as moedas, fator que tenho enfatizado ser de extrema importância para a nossa moeda.


Mas não é só no Brasil que a inflação é declinante, nos EUA foi publicado o CPI, que depois de mergulhar em abril, os economistas esperavam que o impulso deflacionário nos preços ao consumidor se estabilizasse em maio, e isso ocorreu com o CPI pleno caindo apenas 0,1% (esperado era 0,0%). O CPI retirando os itens voláteis (alimentos e combustível) registrou + 1,2% a.a. - o mais baixo desde 2011.



O índice de energia caiu 18,9% nos últimos 12 meses, com a queda de todos os principais índices de componentes dessa categoria. O índice de alimentos em casa aumentou 4,8% nos últimos 12 meses, com os seis principais índices de grupos de alimentos nos supermercados, subindo nesse período. O que faz sentido pela elevada demanda originada pelo confinamento residencial.

Esses resultados de inflação são semelhantes em todo canto do Universo, consequência do alastramento da pandemia.  No curto prazo parece difícil imaginar algo diferente. Os bancos centrais buscarão evitar o alastramento da deflação. Mas os gráficos do ponto de vista técnico sugerem uma eventual volta da inflação no futuro. Um artigo publicado pelo Gavekal vai nesse sentido, que comentarei no post de amanhã.

O Fed anunciou que não houve mudança na política de juros, o que já era esperado pelo mercado. Nessa reunião existiu a publicação de suas projeções para o futuro que se encontram a seguir. Os pontos que chamam a atenção é que, a autoridade monetária não enxerga uma recuperação em “V” como o mercado espelha nas ações, seria mais um “U”; e os juros que devem ficar em 0% até 2022, ficando para o longo prazo o patamar entre 2% e 3%, e como dizia Maynard Keynes, no longo prazo estaremos todos mortos!

No post entricheirado, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “à região considerada mais propensa a ocorrer a reversão, entre 96.000 e 98.000. Mas de imediato, é importante que a bolsa siga nesse rumo e ultrapasse os níveis atuais de 91.000” ...

Na última semana a bolsa foi direto ao nível comentado acima, e agora se encontra preparando para buscar novas altas. Como os comentários de ontem sobre o SP500, uma correção de curto prazo deveria acontecer em algum momento.

O gráfico acima de longo prazo e com escala logarítmica destaca um momento no passado aonde ocorreu uma queda de magnitude semelhante a atual (2008), embora a atual, aconteceu num tempo menor. Notem que, em 3 momentos, a reta de longo prazo traçada, foi tocada e imediatamente rejeitada. As duas anteriores foram sucedidas por altas importantes.

Considerando somente esses fatores, se poderia projetar um novo movimento de alta de longo prazo, aonde o Ibovespa ultrapassaria a máxima de 119,5 mil atingida em janeiro. Mas, seria de uma forma diferente do que deve ocorrer na bolsa americana. Sendo assim, vamos nos concentrar no curto prazo.

Por enquanto continuo trabalhando com mais uma alta até o nível de ~ 110 mil, e ficaria mais receoso sobre esse objetivo, caso o Ibovespa recue a 90 mil. Tudo de certa forma possível de alteração, pois meu cenário é de que estamos numa correção, aonde tudo é possível.

O SP500 fechou a 3.190, com queda de 0,53%; o USDBRL a R$ 4,9737, com alta de 1,85%; o EURUSD a 1,1373, com alta de 0,34%; e o ouro a U$ 1.737, com alta de 1,36%.

Fique ligado!

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