Guardando no colete
Ontem ficamos sabendo que o Fed não pretende subir os juros
até 2022. Essa explicitação foi para ninguém ficar em duvida que eles não
enxergam nenhum risco neste front, e ao contrário, estão mais preocupados com
uma possível deflação que acabou ocorrendo nestes meses de pandemia, em alguns
itens como: energia -19%; vestuário -8%; Hotéis e Acomodações – 17%; Passagens Áreas
-29%; Aluguel de Carros – 19%. Os únicos itens que tiveram variação positiva
foram: Alimentos + 4,8%; e Serviços Médicos +6%. Isso resultou em um CPI de
0,1% conforme publicado ontem.
O momento é delicado e o Fed já deixou claro que prefere
errar para mais que do que para menos. Mas será que no fundo não existe uma
preocupação com a inflação no futuro?
Como havia antecipado vou transcrever parte de um relatório
publicado pela Gavekal, segundo um de seus economistas seniores, que tem uma
visão nesse sentido.
Eles fazem menção a um gráfico apontando 4 quadrantes que
identificam aonde uma economia se encontra.
1) A economia pode estar num ambiente inflacionário
ou deflacionário; isto é, na metade superior ou inferior da grade. Normalmente,
a economia permanece em um ou outro estado por muito tempo, geralmente uma
geração. Por exemplo, no início dos anos 80, o mundo desenvolvido passou da
metade inflacionária superior da grade, onde tinha estado desde pelo menos
1966, até a outra metade inferior, desinflacionário ou deflacionário. E
permaneceu lá praticamente desde então, apesar dos melhores esforços dos bancos
centrais do mundo para elevar a inflação novamente.
2) A economia alterna entre períodos de crescimento
econômico e recessões, movendo-se entre os lados direito e esquerdo da grade e
vice-versa, num período de seis ou sete anos.
Como resultado, a qualquer momento, a economia pode estar em:
estado inflacionário
crescente (boom) - quadrante superior direito;
queda (bust) inflacionária – canto superior esquerdo;
crescimento (boom) deflacionário - o estado normal do
capitalismo, no canto inferior direito;
ou em um estado de queda (bust) deflacionário - no canto
inferior esquerdo.
Os mercados em baixa ocorrem quando a economia muda do lado
direito da grade para o lado esquerdo e, portanto, pode haver mercados em baixa
inflacionários ou deflacionários.
Quando o coronavírus atingiu absolutamente todo mundo -
bancos centrais e governos inclusive - concluíram que o mundo estava
mergulhando a todo vapor no quadrante inferior esquerdo: queda deflacionária.
Em resposta, os formuladores de políticas prontamente conjuravam toneladas e
toneladas de dinheiro do nada. Como resultado, estamos agora em uma situação em
que nunca na história tem tanto dinheiro perseguindo tão poucos bens e tão
poucos ativos financeiros.
Isso significa que a reação à crise atual acelerou o movimento
para a metade superior da grade dos quatro quadrantes, e isso muito
provavelmente, levou o mundo em um novo período de inflação (existe consciência
de que atualmente, essa é uma visão minoritária; veja o resultado da reunião do
FOMC ontem).
Em consequência, quando a atual recessão terminar, o próximo
período da economia será de crescimento inflacionário e terminará com uma queda
(bust) inflacionária.
Uma outra visão pode estar certa de que, o mundo poderá
desfrutar de um período benigno de crescimento não inflacionário. Mas décadas
de experiência o leva a concluir que, os mercados financeiros foram inventados
para garantir que o maior número de pessoas gaste a maior parte do tempo
errado, tolo e infeliz. Então com o benefício de toda essa experiência, eu
tenho me perguntado o que poderia fazer para que as pessoas se sintam ainda
mais erradas, tolas e miseráveis do que hoje. Minha resposta é simples: a
economia não vai passar de uma queda (bust) deflacionário para o crescimento
(boom) desinflacionário. Em vez disso, vai mudar do medo de uma queda (bust)
deflacionário diretamente em um crescimento (boom) inflacionário sem passar por
um período intermediário de crescimento não inflacionário.
Simplificando: os preços subirão muito cedo na recuperação.
Isso faz sentido, porque levará quase nenhum tempo para a demanda ressurgir,
mas, reiniciar as linhas de produção, será um processo demorado e complicado.
Para expressar isso em termos de MV = PQ (*):
• M ficou balístico, com o crescimento da oferta de dinheiro
explodindo.
• Se V, a velocidade do dinheiro parar de cair, observe o
rendimento dos títulos longos, e começar a subir, então
• Q, a quantidade de produção, ou P, os preços devem subir
(ou ambos).
• No próximo ciclo, é provável que P seja o primeiro a
subir, porque deve levar meses para trazer a capacidade de produção de volta
aos níveis de 2019.
Isso colocará os bancos centrais em um dilema desagradável.
Os investidores devem vender títulos com rendimento pré-fixado; comprar títulos
vinculados à inflação de curto prazo, sempre que possível; e manter dinheiro em
moedas subvalorizadas na Europa ou em moedas asiáticas. Devem também: comprar ações
cíclicas; commodities; e comprar imóveis na Ásia.
(*) Segundo
a teoria monetarista, se a oferta de moeda de uma nação aumentar, a atividade
econômica aumentará; O contrário também é verdade. A teoria monetarista é
governada por uma fórmula simples, MV = PQ, onde M é o suprimento de dinheiro,
V é a velocidade (número de vezes por ano em que o dólar médio é gasto), P é o
preço de bens e serviços e Q é a quantidade de bens e serviços. Assumindo a
constante V, quando M é aumentado, P, Q ou P e Q aumentam. Os níveis gerais de
preços tendem a subir mais do que a produção de bens e serviços quando a
economia está mais próxima do pleno emprego.
Quando
houver uma folga na economia, Q aumentará a uma taxa mais rápida do que P,
segundo a teoria monetarista. Nos EUA, o Federal Reserve Board
("Fed") define a política monetária sem interferência do governo. O
Federal Reserve opera com uma teoria monetarista que se concentra na manutenção
de preços estáveis (baixa inflação), promovendo o pleno emprego e alcançando um
crescimento constante do PIB.
Embora seja uma visão específica de um profissional, não
baseada em modelos ou evidências dos dados, sua experiencia e argumentos são
inquestionáveis. Dentro do Fed existem inúmeros economistas de respeito que
provavelmente levantaram essa hipótese. O Mosca compartilha da mesma ideia
e aconselha a que não se entre de cabeça na ideia de que os preços nunca irão
subir, mesmo com todos os argumentos deflacionários da época que estamos vivenciando
– tecnologia, excesso de capacidade produtiva, para citar alguns.
Sendo assim, o mercado de juros passa a ser de vital
importância para entender a visão do mercado, e independente dele, não
recomendo títulos com prazo longos no exterior, afinal, o Fed deve estar
guardando no colete esse cenário e poderá tirar em algum momento.
No post perpetuação-da-desigualdade, fiz os seguintes
comentários sobre o euro: ... “ O objetivo inicial é
de € 1,15 que se ultrapassado deveria atingir € 1,20, quando deve coincidir com
o rompimento da reta em cinza do gráfico acima. No euro não se pode ter
objetivos muito ambiciosos, pois acreditar que a Europa possa a ter um
crescimento expressivo é duvidoso” ...
O euro se encontra a € 1,14 e conforme mostra o gráfico a
seguir, podemos estar perto de um top de curto prazo. No gráfico a seguir
apontei a região onde o euro poderia reverter a alta: entre €
1,1370 a €
1,1620, sendo o mais provável ao redor de € 1,15. Depois disso, uma
correção deveria levar a moeda única ao redor de € 1,12, a ser mais bem calculada.
Mas nem sempre o que é previsto acontece e o movimento
depois da reunião do Fed ficou mais indeciso. Como não se pode confiar muito no
euro, vou liquidar nossa posição e esperar um melhor momento para entrar
novamente, estando ciente que existe ainda esse potencial de alta expresso
acima.
Como dizia meu ex-sócio, Ibraim Eris, quando você é ganhador
numa posição, é como retirar os moveis de um escritório, mas, saia sem levar as
lâmpadas, deixe-as para o próximo trader!
O SP500 fechou a 3.002, com queda de 5,89%; o EURUSD a €
1,1290, com queda de 0,71%; o ouro a U$ 1.727. com queda de 0,50%.
Fique ligado!
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