Detetive financeiro
Talvez a grande dúvida que paira nos mercados financeiros
hoje é: Se a economia sofreu tanto com a Covid-19, impactando diversos setores,
como pode a bolsa americana estar próximo aos níveis antes da eclosão do vírus?
Meu ex-sócio da Linear, Emir Capez, costumava dizer que
contra o fluxo não há argumentos e nada é mais verdade nesse caso. Mas quem
será que está comprando? Um relatório produzido pela Gavekal dá uma pista
interessante neste sentido.
Todos os mercados em alta começam como “animais rejeitados”
não amados, mas a que começou nas ações dos EUA em 23 de março foi
especialmente desprezado. As notícias nos dois intervenientes meses foram
terríveis, com o aumento do desemprego, o colapso do crescimento e aumento das
tensões EUA-China. Além disso, ainda não está claro quem é comprador e por quê.
Então, procurando entender se um mercado que está em alta 33% do mínimo pode ir
além, considere os seguintes possíveis drivers.
Investidores institucionais: a julgar por seus
relatórios escritos e declarações na mídia, os profissionais que compram e
vendem ações dos EUA têm ostensivamente permanecido um bando sombrio. Tais
visualizações, meio copo vazio foram confirmadas por pesquisas de opinião, como
o indicador BofAML bull and bear. Essa visão negativa não é exclusiva dos
fundos, já que os analistas de ações do lado sell side passaram os
últimos meses revisando fortemente suas estimativas de ganhos nos EUA.
Investidores de varejo: as conversas no mercado,
especialmente entre os que vem a bolsa cara, justificam o rally proveniente do
varejo, justificado pelo grande aumento nas aberturas de contas de corretagem. Nessa
visão das coisas, muitos trabalhadores sem emprego, passaram de seus prazeres
usuais de consumo para permanecer o dia comprando ações. Infelizmente, essa
teoria entra em conflito com a pesquisa da Associação Americana de Investidores
Individuais, que mostra o humor dos pequenos investidores desde o início de
janeiro. A contradição pode ser explicada por essas contas terem feito apostas contrarias,
ao comprar fundos de bonds negociados em bolsa, que são preferidos em períodos
de instabilidade.
Gerentes corporativos: o clima do público certamente
mudou com a participação das recompras de ações de empresas. De fato, essa
atividade parece ser um processo bastante mecânico usado pelos gerentes, para suavizar
as mudanças em sua estrutura de capital quando os lucros aumentam. Como esses
lucros iram declinar no 2T20 devido ao bloqueio, poucas empresas comprarão
ações de volta no segundo semestre.
Federal Reserve: A explicação mais provável é a
compra "forçada" de instituições, como repercussão das compras de
títulos pelo Fed. Quando o banco central começou a comprar títulos de empresas
em meados de março, incluindo os High Yield, comprimiu os seus rendimentos. Como
resultado, os investidores em crédito provavelmente foram forçados a sair do
espectro de risco, e comprar ações que - certamente dentro do amplo mercado -
ofereciam um rendimento aprimorado. Em outras palavras, TINA (There is no
alternative) está de volta. Isto explica por que o nadir do mercado de
ações dos EUA foi atingindo juntamente com o pico no rendimento dos títulos das
empresas, e como essa valorização se desenrolou em um período de aparente
baixa.
A boa notícia é que o Fed continuará adicionando liquidez ao
sistema -embora a um ritmo mais lento - o que deve estimular mais a compra de
ações. A chave inibidora seria um aumento acentuado das expectativas de
inflação, pois isso poderia cravar a dinâmica de flexibilização. O caso base ainda
continua sendo o de que a inflação sobe lentamente para a meta de 2% do Fed.
Embora, o enorme aumento da oferta de moeda represente um risco inflacionário, fatores
compensatórios incluem: um aumento temporário da demanda por dinheiro, colapso
do crescimento do crédito bancário e aumento da oferta no mercado de trabalho,
à medida que a economia começa a favorecer as empresas com mão-de-obra
especializada.
Se as ações do Fed indiretamente “forçaram” essa recuperação
das ações, em vez de investidores de varejo, a implicação é que a classe de
investidor mais sensível ao preço ainda acredita na queda, como as pesquisas
sugerem. Isso aponta para os preços das ações dos EUA tendo uma reação
ascendente maior, no caso de notícias positivas, do que uma reação negativa em
notícias negativas (a menos que as más notícias sejam um aperto do Fed). Um exemplo
dessa dinâmica foi a alta do mercado na semana passada depois que a Moderna, anunciou
resultados encorajadores de ensaios para a vacina Covid-19. Não existe garantia
que o mercado pode continuar a impulsionar com más notícias econômicas, mas tomando-se
como exemplo o dia de hoje, em que o mercado reagiu negativamente as pesadas
manifestações nos EUA, reverteram a queda inicial fechando no positivo.
Essa colocação parece ser bastante razoável e poderia
classificar como sendo um efeito de segunda ordem originado pela estupenda
injeção de recursos efetuada pelo Fed e seus pares do banco central ao redor do
mundo. Já os investidores estão posicionados de forma negativa na bolsa,
conforme se pode notar na ilustração a seguir, com uma das maiores dos últimos
anos.
No post ameaça-sub-adjacente, fiz os seguintes comentários
sobre o dólar: ... “Um movimento de correção (pelo
menos) começou para o dólar, conforme aponto no gráfico abaixo, deveria estar
contido como mais provável entre R$ 5,25 e R$ 6,00, ou ainda R$ 5,00 na parte
inferior. Como já havia comentado no post acima, abaixo de R$ 4,75 a alta do
dólar teria terminado” ...
O dólar chegou na semana passada muito próximo ao primeiro limite
inferior citado acima de R$ 5,25. Tudo indica que deveremos ter uma pequena
correção em breve, o que dará oportunidade para uma sugestão de trade.
Embora seja ainda bastante prematuro saber qual caminho o
dólar vai seguir: se uma correção; ou uma mudança de direção, de forma apenas
informativa, estimo que ao redor de R$ 5,50 – R$ 5,60 surja uma oportunidade de
venda do dólar.
Acredito que a missão de Mosca em visionar a alta do
dólar foi cumprida com antecedência e boa objetividade, sem que estivéssemos
expostos quando o risco x retorno não parecia compensador. Agora chegou um
momento de observação, pois os resultados podem ser opostos, caso o dólar já
tenha terminado seu ciclo de alta.
O SP500 fechou em 3.055, com alta de 0,38%; o USDBRL a R$
5,3665, com alta de 0,68%; o EURUSD a € 1,1134, com alta de 1,4%; e o ouro a
U$ 1.739, com alta de 0,74%.
Fique ligado!
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