Desglobalização: Uma visão curta



O Presidente Trump iniciou o processo de desglobalização que estamos assistindo. Com sua visão pequena que, ao diminuir as importações americanas isso faria crescer a indústria local. Primeiro que, as empresas buscam alternativas a sua indústria que minimizem seu custo de produção. Um conceito que até uma criança entenderia. Isso acabou acontecendo no ano passado, quando parte da produção de empresas americanas se mudaram da China para o Vietnam. Em segundo plano fica o risco que concentrar todo seu parque fabril em único país, nesse quesito a desglobalização deve incentivar a indústria americana como um hedge da empresa. E por último, se pretendia crescer o emprego desta forma, os robôs estão aí para assumir boa parte destes postos, ainda mais agora depois da pandemia.

O renomado economista, Kenneth Rogoff, descreveu com propriedade os riscos desse movimento. A economia mundial pós-pandemia parece provavelmente uma economia muito menos globalizada, com líderes políticos e públicos rejeitando a abertura de uma maneira diferente de qualquer coisa vista desde as guerras tarifárias e as desvalorizações competitivas da década de 1930. E o subproduto não será apenas um crescimento mais lento, mas uma queda significativa na renda nacional para todas, mas talvez as maiores e mais diversificadas economias.

Em seu livro de 2001 The End of Globalization, o historiador econômico de Princeton, Harold James, mostrou como uma era anterior de integração econômica e financeira global entrou em colapso sob a pressão de eventos inesperados durante a Grande Depressão da década de 1930, culminando na Segunda Guerra Mundial. Hoje, a pandemia do COVID-19 parece estar acelerando outra retirada da globalização.

O risco de uma superação debilitante do estilo da década de 1930 na desglobalização é enorme, principalmente se o relacionamento EUA-China continuar se desgastando. E é tolice pensar que uma retirada caótica da crise da globalização não apresentará mais - e muito mais sérios - problemas.

Até os EUA, com sua economia altamente diversificada, tecnologia líder mundial e forte base de recursos naturais, poderiam sofrer um declínio significativo no PIB real como resultado da desglobalização. Para economias menores e países em desenvolvimento que são incapazes de atingir massa crítica em muitos setores e geralmente carecem de recursos naturais, uma quebra no comércio reverteria muitas décadas de crescimento. E isso é antes de considerar o impacto duradouro das medidas de distanciamento social e quarentena.

É verdade que a globalização alimentou desigualdades econômicas entre os cerca de um bilhão de pessoas que vivem em economias avançadas. A competição comercial comprimiu os trabalhadores de baixos salários em alguns setores, ao mesmo tempo que tornou os produtos mais baratos para todos. A globalização financeira teve um efeito ainda maior, aumentando os lucros das empresas multinacionais e oferecendo novos instrumentos de investimento estrangeiro de alto retorno para os ricos, especialmente desde 1980.

Certamente, o atual modelo de globalização precisa ser ajustado, particularmente fortalecendo bastante a rede de segurança social nas economias avançadas e - na medida do possível - também nos mercados emergentes. Mas construir resiliência não significa derrubar todo o sistema e começar de novo.

Os EUA têm mais a perder com a desglobalização do que alguns de seus políticos, tanto à direita quanto à esquerda, parecem perceber. Para iniciantes, o sistema comercial global faz parte de um pacto pelo qual os EUA passam a ser a hegemonia em um mundo onde a maioria dos países, incluindo a China, tem interesse em fazer a ordem internacional funcionar.

Além de suas ramificações políticas, a desglobalização também apresenta riscos econômicos para os Estados Unidos. Em particular, muitos dos fatores benignos que hoje permitem que o governo dos EUA e as empresas americanas tomem empréstimos muito mais do que qualquer outro país provavelmente estão ligados ao papel do dólar no centro do sistema. E uma grande variedade de modelos econômicos mostra que, à medida que as tarifas e os atritos comerciais aumentam, a globalização financeira diminui pelo menos proporcionalmente. Isso não apenas implica uma queda acentuada nos lucros das multinacionais e na riqueza do mercado de ações (o que provavelmente é bom para alguns), mas também pode significar uma queda significativa na demanda externa por dívida dos EUA.

Isso dificilmente seria o ideal quando os EUA precisariam tomar empréstimos em massa para preservar a estabilidade social, econômica e política. Assim como a globalização tem sido um dos principais impulsionadores das baixas taxas de inflação e juros de hoje, mudar o processo para o sentido inverso pode, eventualmente, empurrar preços e taxas em outra direção, especialmente considerando o que parece ser um choque adverso duradouro na oferta do COVID-19.

Dispensável será dizer que há outras batalhas pela frente que exigem cooperação internacional, inclusive a mudança climática. Será ainda mais difícil motivar as economias em desenvolvimento a controlar suas emissões de dióxido de carbono se um colapso do comércio global prejudicar o incentivo comum mais forte que os países têm para manter a paz e a prosperidade globais.

Por último, mas não menos importante, embora o COVID-19 tenha atingido a Europa e os EUA com mais força do que a maioria dos países de baixa renda, ainda existe um enorme risco de uma tragédia humanitária na África e em outras regiões mais pobres. Agora é realmente o momento certo para minar a capacidade desses países de se defender?

Mesmo se os EUA fecharem os olhos aos efeitos da desglobalização no resto do mundo, deve-se lembrar que a atual demanda abundante por ativos em dólares depende muito do vasto sistema comercial e financeiro que alguns políticos americanos pretendem diminuir. Se a desglobalização for longe demais, nenhum país será poupado.

O dólar é a moeda de troca do mundo e isso significa muito para os americanos e suas empresas. A China já se candidatou para substituir os EUA, ainda de forma lenta, mas seguindo nesse caminho. Um movimento inadvertido dos americanos contra esse país, poderá acelerar esse processo. Vale lembrar que a China sai fortalecida da pandemia ao não elevar sua dívida através de programas de injeção feitos pelos países de ocidente, ficando assim muito menos vulnerável, caso a inflação suba. O quadro a seguir, aponta para os níveis estimados de sua dívida, dos principais países.


No post detetive-financeiro, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “Um movimento de correção (pelo menos) começou para o dólar, conforme aponto no gráfico abaixo, deveria estar contido como mais provável entre R$ 5,25 e R$ 6,00, ou ainda R$ 5,00 na parte inferior. Como já havia comentado no post acima, abaixo de R$ 4,75 a alta do dólar teria terminado” ... ... “ Embora seja ainda bastante prematuro saber qual caminho o dólar vai seguir: se uma correção; ou uma mudança de direção, de forma apenas informativa, estimo que ao redor de R$ 5,50 – R$ 5,60 surja uma oportunidade de venda do dólar” ...

O dólar entrou em queda livre. Como diz um profissional de mercado num caso semelhante, “ficar vendido é como chutar um pênalti sem goleiro”. O nível de R$ 4,75 se aproxima e praticamente já poderia afirmar que o movimento de alta de longo prazo se reverteu para queda. O Mosca vai mudar seu call assim que esse nível for atingindo, e mesmo que não seja, a extensão foi tão profunda que fica difícil envisionar altas que ultrapassem os R$ 6,00.

No post ameaça-sub-adjacente, fiz um comentário que se mostrou correto: ... “ pontuar que quando existe somente um vendedor, e esse vendedor é o Banco Central, ou o mercado bota ele em nocaute, ou o risco de saída para quem comprou é uma porta estreita” ... Mas não acredito que Roberto Campos e sua equipe ficarão parados assistindo o dólar derreter. Em algum momento o BC entrará comprando dólares para aliviar a tensão e ter mais munição se precisar atuar no futuro. Meu chute é que vai atuar a R$ 4,75!

Quando isso acontecer, o mercado vai dizer que o BC fixou uma base, trabalhando como que se esse nível fosse um piso. Não entrem nessa, para quem não percebeu ainda, o BC não tem nível para o dólar, depende do mercado.

Quero dizer que, ao se fazer análise técnica, não se deve ter vergonha nem evitar ser criticado, ao fazer algum prognostico, por mais ridículo que pareça à primeira vista. Quanto mais longo o horizonte, mais o preço estará distante dos níveis atuais. O gráfico a seguir é de longo prazo, com janela mensal.

Enfatizo que o gráfico acima está em escala logarítmica, o que dá uma impressão estranha nos intervalos do eixo y. Outro fator é o tempo, para terminar essa possível correção poderá demorar alguns anos. Pronto, deixo agora à sua imaginação para formatar o que deve acontecer com o Brasil para o dólar recuar a esses níveis.

 Por enquanto, vamos focar num prazo mais curto e aguardar que essa queda estanque começando uma recuperação que levaria o dólar ao intervalo entre R$ 5,30 a R$5,50, a ser mais bem definido.

O SP500 fechou a 3.232, com alta de 1,20%; o USDBRL a R$ 4,8301, com queda de 2,60%; o EURUSD a 1,1292, sem variação; e o ouro a U$ 1.697, com alta de 0,73%.

Fique ligado!

Comentários

  1. A dívida pública americana encerrou 2019 em 105% do PIB https://fred.stlouisfed.org/series/GFDEGDQ188S.

    A dívida pública chinesa é relativamente baixa. Mas os níveis totais de endividamento são próximos aos de países com nível de renda muito mais elevado.

    A China sai dessa pandemia com a imagem muito arranhada. Um país que manipula dados, não é transparente. Não creio que o mundo confiará na moeda chinesa para ser a moeda de troca.
    Fora o fato da China ter sérios problemas em suas fronteiras.
    Agora mesmo estão tendo sérias desavenças com os indianos. Têm problemas com o Vietnã, Filipinas, Japão, Taiwan.
    A China está longe de ser um país estável e previsível.

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