Prozac financeiro #ibovespa

 


Hoje, durante o dia, será anunciado o resultado do Fed em relação à política monetária. Dentro do verão no Hemisfério Norte, e depois de um ano onde a maioria da população ficou presa em casa, acredito que uma boa parte dos investidores e traders deve estar de férias tomando sol.

Muito pouco se espera dessa reunião, já que não será publicada nenhuma projeção nova apenas a sessão de perguntas e respostas. Com esse pano de fundo, os traders, que devem acompanhar o resultado pelo seus celulares, estão torcendo para que não haja qualquer mudança.

O articulista Mohamed El-Erian publicou na Bloomberg suas ideias para esse evento.

Com poucos esperando que o Federal Reserve comece a diminuir suas recompras quando anunciar o resultado de suas últimas deliberações políticas, o foco dos economistas e participantes do mercado será não apenas em dicas de quando e como tal enxugamento pode vir, mas também sobre os desafios que o presidente Jerome Powell provavelmente enfrentará para manter a harmonia dentro de um Comitê Federal de Mercado Aberto cada vez mais dividido. O resultado de ambos dependerá de fatores específicos relacionados à economia, inflação e preços dos ativos.

Uma nova nuvem relacionada ao Covid se instalou sobre as perspectivas de crescimento econômico dos EUA. Sua causa é a variante delta que, como em muitos outros países, está se mostrando muito mais infecciosa do que outras iterações, especialmente entre a população não vacinada. Felizmente, e consistente com a experiência do Reino Unido, que tende a liderar os EUA em questões de Covid por quatro a oito semanas, o notável aumento dos casos de Covid não está sendo acompanhado por um aumento acentuado de hospitalizações e mortes, embora o risco de Covid longo seja uma preocupação.

As autoridades do Fed precisarão decidir até que ponto essa nova onda de Covid mina as repetidas revisões para cima em suas projeções de crescimento. O foco será no setor de serviços e envolve tanto as dimensões de demanda quanto de oferta: ou seja, até que ponto os consumidores podem manter a recuperação em viagens, lazer e hospitalidade em particular; e até que ponto a participação da força de trabalho permanece abaixo do que é desejável.

A discussão sobre a inflação do Fed ocorrerá tendo como pano de fundo mais pontos de dados que sugerem que partes do aumento significativo de toda a gama de indicadores de preços — o índice de consumo, o índice de preços ao produtor e o índice de preços das despesas de consumo pessoal, ou PCE, a medida favorita do Fed — podem não ser tão "transitórias" quanto a cúpula do Fed tem sinalizado repetidamente. Isso pode forçar uma discussão interna mais focada sobre o que exatamente significa transitório e, ainda mais complicada, se o Banco Central deve compartilhar mais detalhes operacionais com os mercados. Infelizmente, a análise pode continuar a depender muito mais de modelos, cuja eficácia é enfraquecida por mudanças estruturais contínuas na economia e distorções do mercado financeiro, do que de informações abrangentes sobre a evolução de custos e o comportamento de preços.

Em seguida, há a extensão em que o aumento contínuo dos preços dos ativos está encorajando a tomada excessiva de riscos, as bolhas e a inquietante volatilidade financeira futura. Como tem sido rotineiro agora, o FOMC se reunirá na esteira de mais um conjunto de recordes em uma série de métricas financeiras, incluindo preços de ações, atividades corporativas relacionadas a passivos, alavancagem, participação no setor varejista e muito mais. E mesmo que estes não tenham sido tão preocupantes quanto o tempo em que a taxa de recompra explodiu debaixo do nariz do Fed para acima de 9% e exigiu mais um conjunto de intervenções emergenciais, os banqueiros centrais tiveram mais lembretes — desta vez do mercado de títulos — de que seu painel habitual não captura mais tão bem o estado subjacente do funcionamento do mercado.

Desconfio que, em sua declaração na quarta-feira e na conferência de imprensa a seguir, o Fed vai apostar em todas as três questões. Especificamente, ele aceitará o fortalecimento da economia dos EUA, mas também reconhecerá as maiores incertezas relacionadas ao Covid; irá repetir a convicção sobre a inflação transitória, mas não fornecer apoio analítico ou especificidade adicional; e observará os preços elevados dos ativos, mas se absterá de tirar conclusões sobre a necessidade de intensificar as contramedidas, especialmente no que se refere à estabilidade do sistema financeiro.

O Fed provavelmente continuará a transmitir paciência, incluindo a tolerância a uma inflação mais aquecida e por mais tempo do que o previsto anteriormente. Isso indicará que chegou a hora de o FOMC "começar a pensar em pensar" em reduzir o programa mensal de compra de ativos de US$ 120 bilhões, observando que detalhes sobre como e quando virão depois e serão bem telegrafados para evitar a repetição do acesso de raiva de 2013 e da instabilidade do mercado no final de 2018.

Enquanto os mercados esperam por mais especificidade, seja no simpósio de Jackson Hole no final de agosto ou na reunião do Fed de setembro, o banco central provavelmente continuará a desconectar ainda mais os preços dos ativos dos fundamentos. Os investidores se aventurarão mais longe para obter retornos adicionais. A desigualdade de riqueza vai piorar mais. As compras mensais do Banco Central de 40 bilhões de dólares em títulos lastreados em hipotecas continuarão a tornar o mercado imobiliário caro demais para os compradores. Pressões inflacionárias desenvolverão raízes mais profundas, ameaçando tanto a duração da recuperação econômica quanto a agenda econômica transformadora do governo Biden. E tudo isso ocorrerá sem qualquer evidência convincente de que a contínua adesão às políticas monetárias emergenciais adotadas há pouco mais de um ano em meio a uma "parada repentina" econômica apoia o crescimento alto, inclusivo e sustentável.

Imagino que os últimos meses tem sido estressante para os membros do Fed, pressionados a alterar sua política monetária pelos mercados, que praticamente imploram que o Fed pare com a conversa mole e comece a no mínimo retirar os estímulos — sem falar em certa discordância entre os membros, pois boa parte concorda com o mercado.

Mas houve uma mudança importante nesse período, na verdade duas, embora uma seja consequência parcial da outra: a queda nas taxas de juros de 10 anos e a diminuição da expectativa inflacionária.

Para se ter uma ideia, e usando da análise técnica como parâmetro, a queda dos juros de 10 anos que saiu de 1,8% a.a. chegando recentemente abaixo de 1,2% a.a., gerou uma possibilidade impensável alguns meses atrás.

O Mosca ainda trabalha com uma alta para 2% a.a. nos próximos meses que pode ser vista no gráfico abaixo.

 


Mas essa convicção diminuiu consideravelmente, uma vez que, a queda mais recente atingiu os limites máximos aceitáveis, embora não tenha ocorrido violação, o que torna a alternativa acima a principal. Entretanto, é importante saber o que se poderia esperar caso os juros continuem a cair. No gráfico a seguir, a linha azul seria a trajetória esperada nesse cenário.

Para que os juros cheguem próximos de zero novamente, alguma coisa de muito ruim deveria ocorrer.

 


É importante ressaltar que as taxas não deveriam necessariamente atingir esses níveis tão baixos. O importante, que quero enfatizar, seria que as taxas fossem descendentes ou, na melhor das hipóteses, ficassem num range, mas distantes dos 2% a.a.

Por tudo isso, acredito que a queda até o momento age como o medicamento Prozac, amplamente usado em casos de extrema ansiedade ou depressão das pessoas. A única diferença é que, como a dosagem ideal dever ser medida em seres humanos, no caso específico, excesso de “Prozac” pode levar à letargia, o que nessa caso seria uma indicação de juros muito mais baixos.

No post portfolio-la-carte-, fiz os seguintes comentários sobre o ibovespa: ...”  Eu fiz uma modificação na estrutura de análise que coloca em xeque o objetivo final a ser atingido. Porém, como esse é um assunto de prazo mais longo vou deixar de lado por enquanto” ... ...” Eu vislumbro uma correção em andamento que poderia levar a bolsa a algum dos patamares destacados no retângulo do gráfico a seguir 122.300/119.700 e finalmente 117.200” ...

 


A bolsa brasileira não teve muita oscilação de preços na última semana —enquanto as internacionais batem recorde após recorde. Em todo caso, uma análise numa janela menor fornece alguma pista adicional de onde essa correção em andamento poderia parar. Conforme aponto no gráfico a seguir, o intervalo entre 122.800/122.300 pode conter toda queda desde a máxima de 131.190 ocorrida em junho último.

 


Por enquanto não me animo a fazer nenhuma posição nesse mercado, vou aguardar essa possível retração e buscar me certificar quando houver uma mudança de rumo.

O SP500 fechou a 4.400, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,1098, com queda de 1,13%; o EURUSD a 1,1814, com alta de 0,44%; e o ouro a U$ 1.807, com alta de 0,49%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Eu tenho dúvidas desse trecho aqui: "Imagino que os últimos meses tem sido estressante para os membros do Fed, pressionados a alterar sua política monetária pelos mercados, que praticamente imploram que o Fed pare com a conversa mole e comece a no mínimo retirar os estímulos — sem falar em certa discordância entre os membros, pois boa parte concorda com o mercado." Para todo lado que observo, o que vejo são investidores novatos pedindo altas indefinidas e velhos de guerra se posicionando como se as bolsas fossem engatar uma alta nunca vista antes.

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