Bipolar #sp500

 


Acho que qualificar o mercado como bipolar é bem razoável. Em determinado momento, acreditam numa tese e apostam pesado. Passado pouco tempo, acreditam no exato inverso — detalhe: ainda que a primeira tese não tenha sido eliminada.

Hoje vou comentar sobre a inflação e um artigo de John Authers na Bloomberg, cujo título é: O mercado não está mais preocupado com a inflação.

A boa notícia, a se acreditar no mercado, é que podemos esquecer o medo da inflação. A má notícia é que também pode ser hora de abandonar as esperanças de uma forte reabertura e recuperação econômica saindo da pandemia.

A segunda-feira teve o pior dia dos mercados acionários globais nos últimos meses, afetado por uma combinação de manchetes preocupantes sobre Covid, e por notícias da intensificação do rancor na relação econômica entre a China e os EUA. Mas é a mudança nos mercados de títulos que é mais importante. Os mercados de títulos dão as definições mais diretas sobre a inflação, e essas definições podem ser autorrealizadoras.

Isso teve um grande impacto na última atualização do mapa de intensidade da inflação dos Indicadores Authers, que você pode ver aqui. Embora a linha de dados oficiais de inflação seja feia, a mais alta em décadas e, portanto, colorida em azul escuro, os indicadores de mercado são cinza sombreado. No que diz respeito ao mercado de títulos, o quadro inflacionário é, na verdade, menos preocupante do que tem sido na maioria dos últimos 10 anos:

 


Nota: para que o leitor entenda essa mapa, cada linha é composta de 5 indicadores correspondentes ao respectivo título, e cada quadrado da linha é o resultado de um dos 5 indicadores, segundo o critério explicito no cabeçalho como Z-score.

O mapa de intensidade é baseado na média móvel de preços no mercado de títulos, uma medida deliberada para evitar sensibilidade à volatilidade diária. Se usarmos os preços de fechamento mais recentes, o quadro seria muito mais dramático.

Duas medidas fundamentais do mercado de títulos estão agora abaixo de sua média para a última década (período em que, na maior parte do tempo, a deflação foi uma preocupação maior do que a inflação). Primeiro, a curva de rendimento (a diferença entre os rendimentos dos títulos de 10 e dois anos) caiu abaixo de 100 pontos-base pela primeira vez desde fevereiro. Geralmente, quanto mais investidores esperam que a inflação suba no futuro, mais íngreme será a curva que exigirão; em outras palavras, a distância entre os rendimentos longos e curtos vai aumentar. Uma curva de rendimento achatada é um sinal de preocupação com o crescimento e a falta de preocupação com a inflação. Como o gráfico mostra, a curva agora achatada parece ser uma tendência fortemente estabelecida:

 


Em segundo lugar, o equilíbrio 5 anos/5 anos, que mede a taxa média esperada de inflação para os 5 anos depois dos próximos 5 anos, portanto, 2026 a 2031, caiu para uma nova mínima; está muito abaixo do seu nível padrão nos primeiros anos da década pós-crise. Crucialmente, esta é a medida favorável do Federal Reserve das expectativas de inflação.

 


Efetivamente, isso significa que o mercado de títulos está dizendo que a inflação não é um problema. Não é uma preocupação maior do que tem sido durante a maior parte da última década, e o problema generalizado durante esse período tem sido a falta de crescimento e inflação.

Isso é um fato significativo, dado o que aparece no resto do mapa de intensidade. A faixa azul escuro para o sentimento das empresas e dos consumidores mostra que as empresas já estão convencidas de que estão sofrendo inflação de custos, enquanto os consumidores estão se preparando para aumentos de preços à frente. São conclusões baseadas em questões empíricas sólidas. E se as empresas e os consumidores estão pensando dessa forma, é provável que ajam de acordo — o que impulsionará uma inflação mais alta. Enquanto isso, a faixa clara para as estimativas dos economistas mostra que os profissionais da previsão, que também têm grande influência sobre os planos das empresas e governos e podem facilmente chegar a profecias autorrealizáveis, estão convencidos de que não há nada com que se preocupar.

Para algum lado a coisa vai. Se o mapa no final ficar mais escuro, o que significa inflação, ou mais claro dependerá, em última análise, de mudanças nas categorias atualmente ambíguas — o mercado de commodities e o mercado de trabalho. E, claro, dependerá da pandemia.

Culpe a Pandemia

Por que a pandemia está causando angústia renovada? Não é só o mercado que está ficando alarmado. O comentário do presidente Biden na semana passada de que o Facebook Inc. estava "matando pessoas" ao permitir a disseminação de desinformação sobre vacinas mostrou que o mundo político também está cada vez mais abalado.

Como é sabido até agora, a vacina tornou-se uma questão política, com muitos conservadores decidindo se abster dela — embora o desenvolvimento de vacinas tenha sido uma proposta e uma política bem-sucedida do presidente Trump. A vacinação atingiu o pico em março (também um ponto em que o mercado de títulos começou a girar), e agora quase parou, com mais da metade da população adulta não vacinada em alguns estados.

 


Isso está gerando preocupação por causa dos eventos no Reino Unido, onde a variante delta provocou uma nova onda de casos plenamente comparável à variante alfa do final do ano passado:

Crucialmente, o Reino Unido viu as mortes estabilizadas, já que a população está amplamente vacinada. Mas a questão transformou o "dia da liberdade", com o fim das restrições, em um evento altamente controverso, com até mesmo o primeiro-ministro e seu ministro da saúde tendo que se isolar. Em lugares amplamente não vacinados, como muitos estados conservadores confiáveis, o Reino Unido sugere que o Delta poderia conduzir uma nova onda completa de infecções e mortes. Essa é uma perspectiva horrível, mas uma soma de eventos e incidentes faz isso parecer muito fácil de imaginar. O efeito desse medo renovado pode ser visto no mercado de ações.

Sem entrar no mérito da eficácia das vacinas — pois é isso que está em jogo —, dizer que a inflação não é mais uma preocupação me parece muito precoce, ou melhor, o mercado está supondo que a pandemia vai continuar com a mesma força do seu início e os países terão que fechar suas economias novamente.

O gráfico a seguir, apontando para cada país seu estágio na vacinação, é curioso. No alto estão a maioria dos países desenvolvidos, onde pelo menos 50% da população se encontra vacinada e a grande maioria dessa percentagem com 2 doses. Existe um grupo intermediário composto em sua maior parte por países emergentes, onde nós nos encontramos, mas com algumas exceções como Japão, Coreia e Australia; e por último, os de baixíssima vacinação, mas contendo alguns países asiáticos como Taiwan, Nova Zelândia e a Rússia.



Acho que agora não tem jeito, acredito que os países irão arriscar e manter suas economias abertas para ver o que acontece. Se for só aumento de casos com baixa mortalidade, é para isso que a vacina serve. Caso contrário, poderemos ter mais problemas à frente. Agora, quanto aos países que tiveram pouca vacinação, como diz um assíduo leitor do Mosca: Lamento!

Em relação a inflação, supor que não é mais problema é como diria meu pai, que não falava bem o português: Fachh favor! Hahaha ...

 No post hoje-e-dia-dela, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” O mercado seguiu exatamente o que se poderia esperar, a retração apontada acima atingiu 4.289 e sem seguida voltou a subir. O Objetivo desse movimento de alta continua mantido apenas uma pequeno ajuste para 4.496. Quero enfatizar novamente que estamos no final de um movimento que até o momento requer atenção” ...



Com o movimento de sexta-feira e ontem, fomos estopados da nossa posição. Com tenho enfatizado, é necessário muito cuidado no momento. O mercado está recuperando parte da queda de ontem e por enquanto não posso fazer qualquer previsão — são necessários alguns dias para que fique mais claro.

Eu tenho algumas hipóteses para uma eventual correção, bem como para a continuidade do movimento. Desta forma, qualquer posição nesse momento não é adequada.

Vou apontar algumas pistas que vou usar para me orientar marcadas no gráfico abaixo.



Para o movimento de alta ganhar tração, é necessário que o SP500 ultrapasse os níveis apontados no retângulo verde 4.330 – 4.358. Nessa situação, aumenta a chance de que o mercado tenha mais gás. Agora, eu ficaria muito aliviado caso ultrapasse a máxima de 4.400, assim eu posso eliminar a possibilidade de uma correção mais extensa. No caso inverso, se o índice voltar a cair e negociar abaixo de 4.233, aí teremos que conversar mais à frente sobre o que fazer.

- David, legal! Você simplesmente deixou a gente no ar. Assim, vai perder o emprego...

Prefiro perder o emprego a perder dinheiro! Hahaha ... Talvez eu esteja sendo muito cauteloso, mas quando existem perigos grandes à frente, até que o mercado me diga o que quer fazer, eu não me meto a besta.

Como você já deve saber de longa data, não tenho compromisso nem com preços nem com as tendências, tenho liberdade para mudar de opinião, ou continuar na mesma, desde que o mercado assim me informe. Se precisar, vamos comprar mais caro, ou vender mais barato, desde que haja mais clareza.

O SP500 fechou a 4.323, com alta de 1,52%; o USDBRL a R$ 5,230, com queda de 0,41%; o EURUSD a 1,1782, com queda de 0,14%; e o ouro a U$ 1.809, com queda de 0,15%.

Fique ligado!

 

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