Lugar errado #usdbrl

 


Um dos mais antigos leitores do Mosca é também meu amigo. Troco ideias com ele de forma regular. Temos o costume de fazer longas caminhadas onde discutimos assuntos dos mais diversos. Me recordo que muitos anos atrás —talvez 15 ou 20 anos —, ao comentar sobre o Brasil, chegamos à conclusão que as condições de longo prazo não nos deixavam otimistas.

Nos últimos anos, conversas sobre esse assunto são sempre desanimadoras, não precisaria aqui repetir os problemas que vivenciamos. Ao findar a conversa, acabo sempre com o questionamento: é novidade? Ao observar nossa projeção antiga, o que ocorre no curto prazo é o esperado. A conclusão é que prever uma situação ruim é muito diferente do que vivê-la.

Hoje vou comentar sobre a América Latina e especificamente um posicionamento expresso no site Project Syndicate por Ana Palacio, ex-ministra das Relações Exteriores da Espanha. Mas antes de entrar nesse assunto, recebi um gráfico que me deixou muito irritado, embora também vale para mim a mesma pergunta: é novidade? Grrrr ...

O peso do Brasil na América Latina é expressivo, considerando os 6 principais países — de acordo com o gráfico a seguir, representa 40%, seguido por México com 30%. Considerando os últimos 15 anos, a partir de 2014 nos distanciamos de nossos pares de forma significativa, talvez somente a Argentina foi tão ruim, mesmo assim ainda um pouco melhor.

E tem gente que quer colocar o PT de novo na Presidência! Vai garantir estender por mais15 anos a mesma previsão.



Milhares de cubanos foram às ruas recentemente para protestar contra a escassez de alimentos e medicamentos — a maior demonstração de dissidência vista no país em décadas. E os cubanos não estão sozinhos: em toda a América Latina, crises sociais, políticas e econômicas estão se intensificando, com consequências terríveis. A União Europeia precisa começar a prestar atenção.

Em toda a região, as economias vêm enfraquecendo gradualmente, e o populismo vem ganhando força, há bastante tempo. Mas a crise do COVID-19 mergulhou a América Latina em sua pior recessão econômica em um século. Ao dizimar a classe média, a pandemia aumentou a desigualdade naquela que já era a região mais desigual do mundo. Agora, um terço dos latino americanos vivem em extrema pobreza (US$ 1,90 por dia ou menos, de acordo com a definição do Banco Mundial).

Pode parecer inapropriado, até mesmo injusto, discutir a América Latina como uma única entidade, dada a vasta diversidade socioeconômica da região. Mas há uma sobreposição considerável em termos dos desafios que seus países enfrentam.

Do Chile e Equador à Venezuela e Peru, as populações estão lutando com suas identidades nacionais. Em meio à corrupção desenfreada e à apropriação estatal, os latino-americanos não confiam em suas instituições — uma tendência que tem contribuído para o colapso dos partidos políticos tradicionais e uma onda de candidatos populistas independentes. Retrocessos democráticos e desilusão estão por toda parte.

Para reverter essas tendências, a região precisa de profundas mudanças estruturais. E cabe à comunidade internacional ajudar — especialmente aos Estados Unidos e à UE.

Durante a Guerra Fria, a América Latina era frequentemente tratada como um peão no tabuleiro de xadrez geopolítico global. Em grande parte, este continua sendo o caso hoje, embora agora seja a China, não a União Soviética, que está competindo com os EUA por influência. De fato, a China trabalhou duro nos últimos anos para reorientar o comércio da América Latina longe dos EUA, e agora está prestes a se tornar o principal parceiro comercial da América Latina até 2035.

No entanto, mesmo que a América Latina tenha sido manipulada e usada por grandes potências, ela também tem sido um ator global influente por si só. Responsável por quase metade das delegações na Conferência de Bretton Woods em 1944, a região desempenhou um papel importante na criação das bases da ordem mundial liberal.

Mais recentemente, a América Latina foi uma força motriz por trás da adoção de acordos internacionais de referência, desde a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável até o acordo climático de Paris. E a região é o lar de muitas economias que, apenas alguns anos atrás, foram elogiadas por seu vasto potencial de crescimento.

Entre o problemático legado da intervenção estrangeira na América Latina e o vasto potencial econômico e diplomático da região, não faltam razões convincentes para que a comunidade internacional, especialmente as ricas democracias ocidentais, a ajude a superar a cascata de desafios que enfrenta. No entanto, isso simplesmente não aconteceu — e a negligência ocidental é particularmente gritante no caso da UE.

A política do bloco para a América Latina começou essencialmente como uma reflexão posterior. Foi somente após a adesão da Espanha e de Portugal, em 1986, que algo semelhante a uma política regional focada surgiu. Mas, 35 anos depois, a política permanece embrionária. A Comissão Europeia proclama orgulhosamente que a UE é o parceiro de desenvolvimento mais importante da América Latina. Isso é um exagero significativo.

Considere o destino do acordo de livre comércio da UE com o bloco do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). O acordo, assinado em 2019 como parte de um acordo de associação mais amplo entre as duas regiões, inspirou grandes esperanças. Mais de 90% das barreiras tarifárias deveriam ser reduzidas ao longo de uma década.

Infelizmente, o acordo nunca foi ratificado. Em vez disso, foi suspenso por preocupações ambientais — em particular, a destruição da Amazônia no Brasil. A política comercial da UE agora mantém rigorosos padrões ambientais e trabalhistas. Isso, juntamente com a nova estratégia do bloco para financiar a transição para uma economia sustentável, significa que é improvável que o pacto avance sem novas disposições e condições.

É claro que há uma boa razão para isso: a boa gestão dos recursos naturais é essencial para a prosperidade a longo prazo. No entanto, a Europa não pode se dar ao luxo de ignorar a importância estratégica da América Latina, ou tomar como certo o interesse do Mercosul no acordo, que levou 20 anos para ser negociado, especialmente dado os esforços da China para consolidar sua presença na região. Afinal, as preocupações ambientais não vão parar a China.

As mais recentes conclusões do Conselho da UE refletem o reconhecimento da Europa de que precisa aumentar o seu engajamento global. "Uma Europa globalmente conectada", como o documento é chamado, "convida" a Comissão e o alto representante para assuntos externos e política de segurança, Josep Borrell, para "identificar e implementar um conjunto de projetos e ações visíveis de alto impacto globalmente". Mas enquanto vários países asiáticos são destacados, a América Latina é uma nota de rodapé.

As Conclusões também não fazem menção à China. Mas este não é um caso de negligência: combater a China é a principal motivação por trás das recomendações do documento. O mesmo se aplica à Estratégia de Cooperação da UE no Indo-Pacífico, que também evita qualquer menção explícita à China.

A UE sabe bem que, quando se trata de expandir sua influência dentro de um país ou região, a China tem objetivos de longo prazo. Mas a China também é adepta a identificar oportunidades para fazer progressos rápidos, e as crises crescentes da América Latina representam uma oportunidade de ouro. A região precisa de ajuda de algum lugar. Se a UE não agir rapidamente para fornecê-la, a China o fará.

A ideia da Ana Palacio já pode ser notada no Brasil. Inúmeras empresas chinesas compraram participações de companhias brasileiras injetando muitos recursos às nossas reservas internacionais. Em termos de exportações brasileiras à China, é hoje nosso principal parceiro. Isso é um demonstração de confiança ou interesse no Brasil e na região? Duvido muito. Como de costume, esse país asiático age de acordo com seus interesses, e no caso, o interesse são nossas commodities, bem como as de toda a região.

A Venezuela é um exemplo típico do que estou dizendo: a China acabou injetando recursos nesse país, interessada nos elevados estoques de petróleo, sem que a situação da população venezuelana continua a ser dramática.

Nós não escolhemos o lugar de nosso nascimento, e durante 30/40 anos foi muito bom viver aqui, mas ultimamente não é mais. Os últimos 20 anos, coincidência ou não, foi o período em que o PT esteve no governo. Olhando para frente, não parece que nossa situação irá melhorar, pelo menos nos próximos 10/20 anos. Sendo assim, vamos continuar no lugar errado. O suporte externo que sobrou age com visão oportunista!

No post ressurgimento-do-medo, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” Segundo essa nova visão a alta ocorrida hoje deveria reverter nas próximas horas iniciando uma queda até o nível de R$ 5,07/R$ 5,04, ou o que é mais provável, até R$ 4,97, gerando uma oportunidade de entrar com um trade” ...

 


A reversão acabou ocorrendo em nível mais elevado, R$ 5,2946, sem, todavia, comprometer minha ideia. Em seguida, um movimento de queda do dólar se iniciou. Essa pequena modificação alterou a previsão de queda no movimento atual. Existe um primeiro objetivo a R$ 5,13 e outro ao redor de R$ 5,05/R$ 5,03, sendo esse último o mais provável — gráfico a seguir, com janela de 1 hora.

 


Deveremos saber em breve em qual dos dois cenários o dólar vai se encaixar. O gráfico a seguir mostra nosso Balanço de Pagamentos. A situação em 2021 está muito melhor que a do ano passado, quando houve um volume enorme de saída de Investimentos em Portfolio; não fosse a entrada de Investimentos diretos, a queda das reservas teria sido muito maior. Agora, essa retração do Portfolio reverteu para uma pequena entrada, reduzindo sensivelmente a perda de reservas.



O SP500 fechou a 4.422, com alta de 0,24%; o USDBRL a R$ 5,1725, com queda de 0,54%; o EURUSD a 1,1806, com alta de 0,30%; e o ouro a U$ 1.797, com queda de 0,22%.

Fique ligado!

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