A ascensão e queda do banco MHB #nasdaq100

 


- David o dia nem começou e você já vem com notícia ruim? Quem quebrou não conheço esse banco!

Calma você está muito estressado. Minha ideia hoje é buscar explicar de forma simples como funciona o risco num banco, com esse objetivo criei uma “historinha”.

Eu moro em Higienópolis praticamente toda minha vida e conheço bem o bairro, a maioria é composta de pessoas mais velhas que por princípio são mais conservadores.

Racional: O Mosca já existe há quase 12 anos, está prestes a completar 700 mil visitas e com um track record dos últimos 6 anos invejáveis de retorno > 30% a.a., comandado por um experiente profissional do mercado financeiro, será que poderia abrir um banco?

Com a queda dos juros da SELIC iniciada em 2014 chegando a um ponto mínimo de 2% a.a. na pandemia. Com esse cenário o Mosca poderia abrir um banco captar os recursos dos velhinhos do bairro e aplicar de maneira segura aplicando esses recursos captados em títulos do governo com taxa fixa - LTN. Foi então que resolveu abrir as portas exatamente nesse período.

Os títulos públicos de taxa pré-fixada rendiam 5% a.a. a 8% a.a. (um pouco hipotético) com prazo de vencimento entre 5 e 10 anos. Começamos o banco pagando nos depósitos 110% do CDI (muito acima do mercado) daquele momento, e vamos que vamos.

INÍCIO

O negócio começou a crescer e outros investidores foram agregando a ideia (Facebook, Instagram, Linkedin, Twitter). De tal forma que permitiu a realização de um IPO lançando ações do banco no mercado acionário. Ah, quase me esqueci, esse banco chamou a atenção dos investidores internacionais e fizemos algumas captações em dólar através de Bond de renda fixa (viagens, Power Point, jantares com institucionais etc.).

Decidi ir para as cabeças aplicando em LTN longas com taxa de 8% a.a.

Saiu o primeiro balanço contendo um resumo das principais contas

Se alguém achou o custo operacional baixo, leve em consideração que não precisa de uma área de crédito grande, gerentes para atender empresas etc. e sim uma mesa eficiente para comprar as LTN, não é necessária muita gente. Quanto ao IR, os bancos montam boas maneiras de reduzir a alíquota.

Muito bem, esse banco no final do período obteve um lucro líquido de 23% sobre o capital, nível de alavancagem baixo (quanto maior melhor) – Essa conta da alavancagem, com a devida simplificação, é o que se denomina de Indice da Basileia. Talvez você já tenha lido por aí.  


ANO DA PORRADA

Já começava a formar fila de velhinhos, mocinhos, e todo tipo de investidor querendo aplicar no banco, pessoal de fora muito animado pedindo mais emissões e as ações começaram a subir já com a expectativa de um follow on, e foi o que fez o MHB emitiu mais 2.000 ações a R$ 1,50 dando moleza para quem entrar.

Como tudo estava indo bem, resolveu apertar o acelerador e aumentar a alavancagem. Vejam a seguir qual foi o resultado.

O leitor pode perguntar o que seriam esses empréstimos, o MHB resolveu emprestar para empresas de primeira linha tipo Lojas Americanas (Hahaha ...), com taxas boas e prazo um pouco mais curto de 3 anos.

Retorno sobre o capital = 32%, lucro líquido = R$ 1.191, valorização das ações 771%!

À primeira vista a alavancagem foi excessiva (10%) mas com o lucro desse período, voltou ao padrão original (13%) conforme quadro destacado em verde.

Genio!




Estava tudo uma maravilha, todos felizes, investidores ganhando uma baba de dinheiro com a valorização e lucros, os clientes sendo bem pagos e recebendo seus juros quando precisavam e bônus gordos para os executivos.

Mas começou a surgir um problema, a inflação depois da pandemia começou a subir e o pessoal do banco viu que os lucros iriam cair. Mas tudo bem, o Fed disse que era temporário e o BCB embarcou nessa. Daqui a pouco tudo voltaria ao normal, relaxa!

Mas não foi o que aconteceu, quando o BCB percebeu que o negócio era mais sério iniciou um processo de alta da taxa SELIC culminando com 13,75 % e levando o custo da captação do MHB para 15,125%. Vejamos como foi o fechamento do balanço depois dessa mudança.



Como pode um banco sair de um lucro de 32% do capital para um prejuízo de -44% em tão pouco tempo sem perder dinheiro no crédito (só um pouquinho nas Americanas, mas nem considerei!)?  Notem que o grau de alavancagem foi para o espaço. Considerando o novo patrimônio líquido agregando o prejuízo do exercício acende a luz vermelha do Banco Central (7%), conforme destacado em vermelho.

Nessa altura do campeonato os velhinhos correm para transferir seus depósitos para algum banco mais seguro, os detentores de bonds começam a vender no exterior os papeis de tal forma que fica inviável qualquer captação externa, só tem uma saída vender a carteira das LTNs no mercado para atender os resgates.

Bem aí surge mais um pequeno problema a taxa para vender as LTNs está em 12,5% a.a. (isso porque sou bonzinho e existe uma expectativa de queda de juros mais a frente).

Eis quando surge um analista e faz a seguinte conta, se tiver que vender toda a carteira de LTN nesse preço quanto será o prejuízo como um todo – aqui quero que entendam esse conceito não muito simples expresso nessa figura manuscrita.

 


* typo error- a taxa da LTN = 12,50% e não 12,75%

 Uma LTN de R$ 1.000 comprada a 8% a.a. onde os juros são pagos no final tem um valor fixado de resgate a R$ 2.158 no término de 10 anos.

Se a taxa de juros passa a ser agora de 12,5% a.a. o valor que se deve pagar hoje para essa LTN tem que ser menor.  Para o valor de resgate fixado o montante a ser pago deve ser de R$ 664 – entendam que para render os 12,5%, é preciso investir menos dinheiro.

Muito bem, o analista fez a conta que existe um potencial prejuízo embutido na carteira de 33,6%.

O prejuízo potencial em valor seria de:

PP = R$ 32.819 (carteira de LTN) * 0,336 = R$ 11.027

Pronto, o banco acabou de quebrar!

Esse é um exemplo teórico e pode fugir da realidade de um banco aqui no Brasil, mas a ideia é entender como algo muito valioso pode de repente virar pó.

Mesmo que você não entenda de contabilidade, não se atente as contas, acredite que o Mosca calculou corretamente, se fixe nos fatos.

O caso do SVB, levado aos números de seu balanço e com as taxas americanas foi esse, a alta dos juros quebrou o banco pela sua estrutura de capital!

Na segunda-feira vou comentar como ficam os clientes e a forma como o governo americano administrou essa crise mostrando quem vai pagar a conta.

Qual foi o grande erro que cometeu? Acreditou que as taxas de juros administradas pelo Fed não iriam subir, porém subiram forte e em pouco tempo. Descasou a captação da aplicação, o que eu denomino a maneira clássica de quebrar um banco.

- Hahaha ... David, você entrou numa grande fria!

Primeiro jamais abriria um banco com essas premissas, é uma loucura de risco. Mas supondo que a área de análise técnica do Mosca acompanhasse esse caso, não seria pego de surpresa as ações não caem do dia para noite bem como a alta das taxas também não foram. Garanto que os gráficos me dariam indicação de reversão de tendencia e ainda poderia ganhar uns trocos ficando vendido.

Se estivesse gerindo o banco provavelmente teria saído da posição com prejuízo antes, mas não teria me saído bem, provavelmente minhas ações virariam pó.

Essa é a vantagem da análise técnica contra a fundamentalista, a primeira está baseada nos seus desejos, esperança, torcida, enquanto o mercado está enxergando que as coisas não estavam andando bem. Se uma leitura não bate com a outra, normalmente o técnico será o vencedor!

No post sequelas-financeiras fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100: ... “ Desta forma, iniciei um trade de compra a 12.300 com stop loss a 12.100 observando que é um trade especulativo, mas com oferece um bom risco retorno” ... ...” Posso garantir que a correção terminou e estamos rumo a novas altas históricas? Não mesmo! Por enquanto minha ideia é atingir o nível acima, depois nós conversamos” ...



 

Na última quarta-feira http://acertarnamosca.minha-mãe-mandou-escolher-essa-daqui decidi sair da posição de bolsa. Como já estão cansados de saber não tenho convicção para nenhum lado ainda. É verdade que ultimamente as de alta tem ganho mais atenção, mas sem torcida.

A nasdaq100 conseguiu algo positivo para o cenário de alta, formou 5 ondas completas. Mas tenho algumas dúvidas se a onda 5) verde abaixo terminou conforme destaquei.



Demarquei um retângulo hipotético em termos de dimensões, ou seja, não ter que ficar contido aí, mas nos próximos dias teremos as pistas para identificar se vem uma correção desse primeiro movimento 1, 2, 3, 4, 5 em verde, ou não, e a onda 5) verde não terminou. Essa dúvida fez com que eu saísse da posição.

Não vou encher mais a cabeça de vocês, mas quero alertar que o euro formou 5 ondas para baixo. Conforme alertei no post banco-um-negocio-muito-arriscado-ii eu estava (estou) de olho num trade nesse sentido (venda do euro). Vou elaborar melhor no final de semana e alertar quais os níveis. Resumindo, algum tipo de correção está em andamento.




O SP500 fechou a 3.970, com alta de 0,56%; o USDBRL a R$ 5,2478, com queda de 0,95%; o EURUSD a € 1,0759, com queda de 0,66%; e o ouro a U$ 1.976, com queda de 0,86%.

Fique ligado!

Comentários