Evento perde, perde #ibovespa
É muito provável que os leitores conheçam a frase “ganha,
ganha” que é aplicada em situações em que existem duas alternativas e é
positiva qualquer que seja a opção, mas talvez nunca tenham visto a “perde,
perde”, por razões óbvias ninguém iria propor ou publicar. Pois bem, é essa a
situação em que se encontra Powell. Se subir demais a taxa de juros, vai levar
a economia americana à recessão e, se subir de menos, pode perpetuar a
inflação. Considero muito pequena a chance de não acontecer nenhuma dessas
hipóteses, ou seja, um pouso suave.
Quais os motivos que me levam a tal conclusão? Primeiro,
estamos saindo de uma década de farra monetária, os helicópteros
incansavelmente despejaram trilhões – na pandemia trabalharam em hora extra,
dólares euros, yens, franco suíços, libras e sei lá mais o quê! Segundo, saímos
de um cenário onde a taxa de juros mais alta era de 0,25% nos países
desenvolvidos, cujo espectro contemplava os de juro negativo; e por último,
ninguém sabe qual é o nível correto a se estabelecer, tornando-se um
experimento baseado em tentativa e erro.
Ontem o presidente do Fed, ao se apresentar para um
depoimento no Congresso, surpreendeu o mercado reiterando que está pronto para
acelerar a alta da taxa de juros. Jonh Authers relatou na Bloomberg, dizendo
que ele não desapontou quem defende uma política de juros por um período mais
restritivo.
Antes do testemunho do presidente do Federal Reserve, Jerome
Powell, perante o Congresso, a expectativa generalizada era de que ele
permaneceria hawkish e lançaria as bases para uma taxa terminal mais alta. Que
ele defenderia sua política de permanecer por um longo período em território
restritivo e, em grande parte, manter seu roteiro. Ele cumpriu sua parte do
acordo e fez tudo isso. E, no entanto, muitos ainda não estavam preparados para
o quanto o chefe do Fed estava hawkish.
Esta foi a linha-chave em seu testemunho preparado:
Os dados econômicos mais recentes
foram mais fortes do que o esperado, o que sugere que o nível final das taxas
de juros provavelmente será mais alto do que o previsto anteriormente. Se a
totalidade dos dados indicasse que um aperto mais rápido é justificado,
estaríamos preparados para aumentar o ritmo das altas de juros.
Assim, ele foi explícito que poderia aumentar a taxa de
juros de referência do Fed em meio ponto percentual na reunião de 22 de março,
dependendo dos principais dados econômicos, era tudo o que os investidores
precisavam (*mas não queriam) ouvir.
*adendo meu
Os títulos do Tesouro afundaram para novas mínimas com as
apostas em swaps mudando para mostrar que os operadores agora esperam
que o Fed seja mais propenso a anunciar um aumento de meio ponto, em vez de um
quarto de ponto. Isso eleva os principais custos de empréstimos em 107
pontos-base nas próximas quatro reuniões, para um pico de cerca de 5,6%. Usando
a função Bloomberg World Interest Rate Probabilities (WIRP no terminal) para
derivar as taxas implícitas previstas dos Fed funds após cada reunião a partir
dos preços futuros, podemos ver que toda a curva prevista foi puxada para cima.
O contraste com o curso previsto após a última grande conferência de imprensa
de Powell em 1º de fevereiro, quando vários cortes de juros foram incorporados,
é bastante notável:
Talvez seja seguro interpretar isso como um abandono da crença, ainda em circulação em 1º de fevereiro, de que sera possível reduzir a inflação para a meta sem criar grandes perdas de empregos ou uma recessão. Isso parece mais difícil agora. Em um sinal inquietante que há muito tempo funciona como um preditor de recessão, o spread entre os rendimentos do Tesouro de dois e 10 anos aumentou para até 104 pontos-base, a inversão mais profunda desde 1981. Os rendimentos a trinta anos situam-se 111 pontos base abaixo das taxas a dois anos, uma diferença recorde entre os dois:
Para outro marco, o rendimento da nota do Tesouro de dois anos aumentou para 5% pela primeira vez desde julho de 2007. Ele saltou de uma baixa de 2023 de 4,03% no início de fevereiro, à medida que os operadores adotaram previsões mais altas para a taxa máxima de política monetária do Fed:
Depois de terça-feira, a chance de que a previsão mediana para o final deste ano suba novamente parece muito alta. Também pode fazer sentido que as previsões do comitê em 2024 e 2025, que dificilmente poderiam estar mais dispersas no momento, comecem a convergir para o limite superior das previsões atuais. E o que pode ser mais interessante seria uma mudança nos pontos de longo prazo para aceitar que a taxa dos Fed funds não cairá de volta para 2%.
As taxas de juros reagiram imediatamente depois da fala estendendo
a alta para níveis máximos nos títulos de 1 ano e 2 anos. O nível para término
do ciclo de alta também se elevou e de acordo com o mercado se situa em 5,6%
a.a. muito próximo agora da marca de 6% onde a curva mais parece o Corcunda de Notre Dame!
Achei muito corajosa a postura do Powell que nem levou em conta que sua fala iria azedar os mercados de risco e mostrou seu forte compromisso com a meta de inflação. Comentar que poderia voltar a subir 50 pontos já na próxima reunião é uma mostra disso, pois não faria muita diferença distribuir essa alta em uma adicional de 25 pontos na sequência — o que um mês a mais mudaria? O que não notei em nenhum lugar é que pode ocorrer o contrário, o Fed estancar as altas de repente se os dados assim o permitirem.
Para mim, Powell transmitiu que vai atuar agora como um
guerrilheiro, reagindo de forma flexível conforme o inimigo se apresente. Também,
como contra partida, pode sofrer um ataque “pelas costas”. Ele está numa
situação de perda, perda!
No post vetores-inversos fiz os seguintes
comentários sobre o Ibovespa: ... “se meu cenário
estiver correto que a onda 3) em azul está em curso, sendo assim, o primeiro
objetivo para o término desse movimento se situa ao redor de 97 mil que caso seja
suplantando o próximo seria em 93,6 mil, conforme destacado a seguir na elipse”
...
Estou começando a ficar desconfiado de que o objetivo de queda para o Ibovespa na contagem que estou utilizando corre o risco de ser abortado. O que me leva a isso é mais uma percepção pelo desenrolar dos preços do que uma violação. Como venho enfatizando exaustivamente, do ponto de vista técnico, a bolsa brasileira não está dentro de um movimento direcional. Sendo assim, posições são admitidas apenas de forma tática e sem grandes expetativas.
Como poderão notar abaixo, fiz algumas mudanças na alocação
das ondas e nesse novo cenário existem duas implicações: o cenário será
invalidado caso ultrapasse 107.234; em continuando, o objetivo final ficaria ao
redor de 90 mil, que teria que ser mais bem calculado.
- David, você está jogando a toalha no cenário de queda?
Não, eu apenas quis externar que existem muitas
possibilidades para a bolsa, que se encontra numa correção complexa. Em
correções não me meto a dar muitas sugestões de trade; se lembrar, no ano
passado foi somente uma! Eu sei que você gosta desse ativo e é compreensível,
afinal mora aqui com publicações e comentários diários. Mas não se distancie do
objetivo principal com o bolso e busque lugares com melhor risco x retorno.
O SP500 fechou a 3,992, com alta de 0,14%; o USDBRL a R$
5,1314, com queda de 1,14%; o EURUSD a € 1,0545, sem alteração; e o ouro a U$ 1.814,
sem alteração.
Fique ligado!
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