Banco: Um negócio (muito) arriscado II # eurusd

 



No início do Mosca, quando os posts eram bem mais simples em termos de estrutura — mas não em conteúdo —, publiquei o post --- Banco: um negócio ----, isso foi em agosto de 2011. Nele expliquei de forma simples como um banco pode quebrar, e a palavra-chave é “alavancagem”. Como qualquer negócio que usa esse mecanismo, não pode acntecer uma corrida sobre seu passivo, ou seja, o dinheiro captado dos clientes ou do mercado.

Não tenha dúvida de que, se os ativos apresentarem problemas de solvência ou liquidez e isso se propagar pelos clientes, começará uma corrida bancária, e a partir daí esse banco pode começar a ficar inviável. Os motivos vou explanar com a situação do Credit Suisse, mais ao final do post.

Com suas ações beirando o default e valendo menos de CHF $2,00 o banco pediu ajuda ao governo suíço, que colocou à disposição uma linha de crédito de CHF $ 54 bilhões, aproximadamente 10% de seus ativos. Por ser um banco cuja área “boa” é a gestão de patrimônio de clientes, onde não existe corrida, é provável que esse montante tranquilize os que tem risco do banco Credit Suisse. Tudo resolvido, business as usual?

Vou me utilizar de informações sobre esse assunto nos artigos de Robert Armstrong no Financial Times, Shuli Ren e John Authers na Bloomberg, bem como de minhas ideias.

Quando um banco anuncia às 2h da manhã, horário local, que está tomando empréstimos do governo, isso não é um bom sinal. Tanto na crise imobiliária dos Estados Unidos quanto na crise da dívida soberana europeia que se seguiu, anúncios como esse tinham tanta probabilidade de alimentar o medo quanto de acalmá-lo.

No entanto, a lição de Mario Draghi e “o que for preciso” é que o governo controla a impressão. Uma parede de dinheiro, implantada corretamente, pode evitar o desastre. Portanto, é muito cedo para escrever um obituário para o Credit Suisse. Apesar de todos os seus escândalos e erros, tinha um balanço forte e líquido na quarta-feira, e uma marca forte em gestão de patrimônio para acompanhar.

Como informou o FT, o Credit Suisse passou a tarde de quarta-feira entrando em contato com as autoridades suíças para pedir uma declaração pública de confiança. Por volta das 20h, horário de Zurique, veio a declaração, tranquilizando os mercados de que “se necessário, o [Swiss National Bank] fornecerá liquidez ao CS”. Só isso, ao que parece, não foi suficiente. Seis horas depois, por volta das 2h, o Credit Suisse disse que

tomando medidas decisivas para fortalecer preventivamente sua liquidez, pretendendo exercer sua opção de tomar empréstimos do Banco Nacional Suíço (SNB) de até CHF 50 bilhões sob uma Facilidade de Empréstimo Coberto, bem como uma facilidade de liquidez de curto prazo, que são totalmente garantidas por ativos de alta qualidade

O banco também anunciou que compraria de volta 3 bilhões de francos suíços (US$ 3,2 bilhões) em “títulos de dívida sênior”. Isso nos parece o Credit Suisse sinalizando aos mercados que possui os recursos financeiros para recomprar sua dívida em dificuldades. A mensagem é: captar liquidez do SNB não é apenas um último esforço para salvar o banco; estamos planejando para o futuro. Isso pode vir a ser verdade. Saberemos mais hoje.

O pânico do Credit Suisse está relacionado à falência do Silicon Valley Bank na semana passada? Os dois negócios são extremamente diferentes, e as perdas em títulos de longo prazo que feriram fatalmente o SVB não parecem ser um problema no Credit Suisse.

No entanto, as duas crises estão ligadas. Em algum momento de cada ciclo de aumento da taxa do banco central, as coisas quebram e as pessoas ficam com medo. Esse medo procura um refúgio. O SVB quebrou, o medo se espalhou e o Credit Suisse foi o alvo mais fácil.

Embora o balanço do banco suíço fosse sólido, sua reputação não era. Uma série de escândalos, a maioria deles provenientes de sua alta direção e sua vacilante unidade de banco de investimento, corroeram a marca. Sua franquia mais forte, a gestão de patrimônio - um negócio baseado em reputação - sofreu as consequências. Os ativos sob gestão nessa divisão caíram 27% em 2022. A lucratividade caiu. Pior ainda, os depósitos do banco seguiram a mesma direção, caindo 37% apenas no quarto trimestre.

É assim que um problema de rentabilidade bancária, num clima de medo, pode se transformar em uma ameaça existencial.

Um banco não consegue ser viável se o seu custo de captação não for competitivo com os seus pares. Se tiver que pagar muito caro, terá que emprestar para quem? Só às empresas de segunda linha ou os negócios de altíssimo risco. O gráfico a seguir que mostra o adicional de taxa que está precificado no mercado como um seguro de crédito – CDS: prêmio a ser pago para garantir o risco do banco, dá uma dimensão da inviabilidade de continuar operando.



O que pode acontecer a seguir? Com as autoridades suíças apoiando o Credit Suisse, parece altamente improvável que um déficit de liquidez o afunde. Isso torna uma corrida bancária muito menos provável. Mas embora um governo possa fornecer liquidez, ele não pode fornecer um modelo de negócios. Os depositantes e clientes de gestão de patrimônio precisam ver um motivo para permanecer no banco. O FT informa que, antes das notícias sobre a garantia de liquidez do SNB, os analistas do JPMorgan pensaram que, caso a situação piorasse,

o cenário mais provável . . . é uma venda do credor para o rival local UBS . . . uma injeção de capital pelo SNB também é uma possibilidade, pois está permitindo que o Credit Suisse tente resolver seus próprios problemas vendendo uma participação minoritária em seu banco de varejo e usando os recursos para reestruturar o restante do grupo.

No entanto, os analistas do JPMorgan disseram que é improvável que o Credit Suisse quebre devido à sua importância para a economia suíça e ao status de Zurique como um centro financeiro global.

Concordamos que o SNB possui as ferramentas para evitar uma falha imediata, causada por uma corrida ou outra coisa qualquer. Também concordamos que a estrutura do banco pode parecer muito diferente em questão de dias ou semanas. Não fazemos previsões. Tudo o que sabemos com certeza é que não há como voltar ao status quo ante.

Como os asiáticos veem o banco suíço é importante. Entre 2016 e 2020, a região contribuiu com um terço do crescimento do lucro em sua divisão de gestão de patrimônio e 48% do crescimento acumulado em ativos investidos, de acordo com o HSBC Holdings Plc. Hong Kong, Pequim e Cingapura estão entre as 10 principais cidades onde vivem os super ricos – ou aqueles com mais de US$ 30 milhões em patrimônio líquido. O Credit Suisse não pode mais se autodenominar um gestor global de fortunas sem seus ricos asiáticos.



Para conter a saída na Ásia, o banco aumentou recentemente suas taxas de depósito de três meses para novos depósitos de US$ 5 milhões ou mais para cerca de 6,5%. Isso é 1,5 ponto percentual a mais do que o rival direto UBS Group AG oferece, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Esta taxa suculenta cheira a desespero. Quase todos os depósitos do banco têm vencimento contratual de menos de um ano, de acordo com o Citigroup Inc. Por causa de sua exposição a indivíduos de alto patrimônio líquido, uma grande parte provavelmente não tem seguro. A Suíça garante depósitos de até 100.000 francos.

Além disso, os chineses são particularmente nervosos e sensíveis ao fluxo de notícias negativas. Afinal, eles testemunharam e sofreram com as últimas repressões regulatórias de Pequim. Toda uma indústria de ensino extracurricular – que havia sido um xodó do capital de risco – desapareceu da noite para o dia. Clientes ricos adoravam comprar títulos em dólares emitidos por construtoras imobiliárias, como o China Evergrande Group, atraídos por seus belos pagamentos de juros. Esse comércio lucrativo foi para o espaço depois de uma onda recorde de inadimplência dos incorporadores.

Isso não é consolo para as pessoas que detêm suas ações. O Credit Suisse sofreu corridas em suas ações várias vezes na última década, mas esta última trouxe a capitalização de mercado do banco abaixo do nível em que começou a década de 1990. Já chegou a valer mais de US$ 100 bilhões, agora vale menos de US$ 10 bilhões. Mesmo nas profundezas da Grande Crise Financeira, valia o dobro do que vale agora:




 O valor fornecido pela autoridade suíça deve ser suficiente para cobrir o fluxo de saída de recursos do banco por parte de seus clientes com depósitos. Mas o que acontece com o restante? Seguramente a área de gestão de patrimônio é a mais importante e que gera receita sem risco, a continuidade desse negócio depende de dois fatores: se os clientes vão se sentir seguros e confortáveis continuando; e os executivos permanecer no barco sabendo que seus bônus na margem serão substancialmente reduzidos.

Em relação ao primeira item, acredito que um fluxo de transferência já começou e deve continuar, não que corram algum risco correlato ao banco, pois sua carteira é diversificada com bonds de empresas, fundos e etc ... provavelmente com pouco risco de crédito direto, mas será que o serviço de aconselhamento será o mesmo?

Já os executivos que cuidam desses clientes, seu principal ativo, uma parte será atraída por outras instituições. Já vi no passado sair um grupo inteiro para ancorar esses ativos em outro banco.

É provável que o banco terá que dispensar funcionários, escritórios e vender participações em outras empresas – aqui no Brasil foi noticiado que o CS está em negociando sua participação na empresa Verde AM.

Não sou analista de bancos, e essas ideias que expus são a lógica de uma instituição que sofre um baque como esse. O que minha experiência diz é que, primeiro, um banco com esse dificilmente quebra; segundo, deve ser vendido antes que seu valor seja totalmente destruído.

Qual foi o erro do CS? Posso usar a frase que repito com frequência: Ninguém é bom em tudo. O banco tem uma história de sucesso na área de Private Banking e resolveu se expandir em outras áreas bancárias muito competitivas que exigem experiência de crédito e isso o banco não tinha, o que fez que entrasse em negócios que geraram muito prejuízo.

Banco é um negócio (muito, muito) arriscado!

No post http://acertarnamosmudanças-comportamentais elaborei duas alternativas para a correção que o euro está envolvido. Passados alguns dias o cenário a seguir passou a ser o mais provável: ... “Alternativamente, essa correção poderia se desenrolar como Complex Correction cuja trajetória seria semelhante, porém os níveis um pouco diferentes como mostra o gráfico abaixo. Se isso ocorrer, o movimento final terminaria em € 1,0328/ € 1,0273” ...



A expectativa era de uma pequena alta que levaria o euro a € 1,0835, mas pode ser que tenha completado a € 1,0759 um pouco abaixo em função do que ocorreu ontem com as ações dos bancos na Europa.

O ECB tinha indicado mais altas nas taxas de juros e agora pode ser que terá que diminuir ou mesmo estancar até que a poeira abaixe. Essa decisão sairá em minutos. O ECB manteve sua expectativa anterior e subiu em 50 pontos a taxa do euro. O recado é simples: O problema do CS não é meu, é stress do mercado — vou combater a inflação.



Estou assumindo uma hipótese que pode não ocorrer, a que a onda X) em verde terminou, já que essa onda ainda ficou abaixo das expectativas e pode ter mais desenvolvimentos. Os parâmetros se encontram no gráfico, caso o euro esteja em queda, o nível de € 1,0514 tem que ser rompido. Fiquem atentos a qualquer sugestão nos próximos dias.

O SP500 fechou a 3.960, com alta de 1,36%; o USDBRL a R$ 5,2380, com queda de 0,93%; o EURUSD a 1,0610; e o ouro a U$ 1.919, sem variação.

Fique ligado!

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