CoCo bond: valor literal! #usdbrl



Não existe risco zero embora os investidores querem acreditar nessa ilusão. Eu mesmo quando estava no BFB dizia “se você quer risco zero compre o CDB do UBS”. Mordi minha língua. Em 2009 esse mesmo banco que está comprando o Credit Suiise passou por grandes apuros e por pouco não quebrou. A parir de então mudei para “nem no UBS é risco zero!”

Lógico que com minha experiencia eu sei que tudo tem risco, mas as vezes algo que parece tão seguro pode sucumbir, afinal dentro de um banco não temos a menor ideia o que a alta administração pode fazer.

Neste final de semana me encontrei socialmente com um alto executivo do Bradesco e na brincadeira perguntei:

- Pensei que vocês estavam preparando o Cheque para a compra do CS.

- É muito dinheiro.

Na verdade o problema não são os U$ 3,0 bi mas sim o que deve ter dentro do balanço.

Nunca vi uma transação de tamanho vulto em bancos ser fechada em 2 dias. Imagino as cláusulas que existem para salvaguardar as possíveis surpresas dos livros. Mas como é irrevogável, qualquer problema que surja o UBS vai jogar seu custo na autoridade suíça.

Mas desde já apareceram alguns “jabotis” no negócio que merecem uma reflexão. Sem considerar o nabo do Saudi National Bank que investiu U$ 1,5 bilhões na crença que estava investido no paraíso mais seguro do planeta viu esse valor virar pó em menos de 6 meses. Porém, o grande problema apareceu nos títulos denominados de CoCo.

Pode ser que o leitor nunca se atentou aos riscos de emissão de bonds de bancos achando que todos tem o mesmo risco. Vamos examinar aqui os principais:

Senior Debt - No caso de falência ou liquidação de uma empresa, um título sênior é aquele que ocupa o lugar mais alto na ordem de reembolso antes que outros detentores de títulos recebam um pagamento. Os títulos seniores são normalmente considerados a oferta mais segura de uma empresa porque, em caso de inadimplência, os detentores de títulos seniores receberão quaisquer fundos devidos perante os investidores em títulos de classificação mais baixa.

Subordinated Debt - A dívida subordinada é mais arriscada do que a dívida não subordinada. Dívida subordinada é qualquer tipo de empréstimo que é pago depois que todas as outras dívidas corporativas e empréstimos são pagos. A dívida subordinada é exatamente o oposto da dívida não subordinada em que a dívida sênior é priorizada mais alto em situações de falência ou inadimplência.

CoCo Bonds - Os conversíveis contingentes (CoCos) são instrumentos de dívida emitidos principalmente por instituições financeiras europeias. Os conversíveis contingentes funcionam de forma semelhante aos títulos conversíveis tradicionais. Eles têm um preço de exercício específico que, uma vez violado, pode converter o título em patrimônio ou ações.

Segundo a Investopedia esse bonds podem ser comparadas aos bonds normais da seguinte forma:

Existe uma diferença significativa entre os conversíveis contingentes emitidos pelos bancos e as emissões de dívida conversíveis regulares ou simples. Os títulos conversíveis têm características semelhantes a títulos, pagando uma taxa de juros regular, e têm antiguidade no caso de a empresa subjacente entrar em inadimplência ou não pagar suas dívidas. Esses títulos de dívida também permitem que o detentor de títulos converta a dívida detida em ações ordinárias a um preço de exercício especificado, dando-lhes valorização do preço das ações.

Os conversíveis contingentes expandem o conceito de títulos conversíveis modificando os termos de conversão. Tal como acontece com outros títulos de dívida, os investidores recebem pagamentos periódicos de juros fixos durante a vida do título. Como os títulos conversíveis, essas dívidas subordinadas emitidas por bancos contêm gatilhos específicos que detalham a conversão de dívidas em ações ordinárias. O gatilho pode assumir várias formas, incluindo as ações subjacentes da instituição que atingem um nível especificado, o requisito do banco de cumprir os requisitos de fundos próprios regulamentares ou a exigência da autoridade de gestão ou de supervisão.

Como você podem notar o CoCo é um bicho estranho cara de renda fixa corpo de renda variável.

O que aconteceu com os CoCo do CS? Os U$ 17 bilhões de títulos emitidos nessa categoria viraram pó como relata Shuli Ren na Bloomberg

O acordo desencadeará uma baixa contábil total dos 16 bilhões de francos suíços (US$ 17,3 bilhões) do Credit Suisse em títulos adicionais de Nível 1, como são conhecidas as notas mais arriscadas introduzidas após a crise financeira global. Isso marcaria a maior perda até agora para o mercado de financiamento AT1 de US$ 275 bilhões da Europa. Ao mesmo tempo, os acionistas do banco ainda receberão algo em troca - eles devem receber 3 bilhões de francos em uma fusão de ações.

Esse arranjo é controverso porque viola a ordem hierárquica padrão das finanças corporativas. Em um cenário de baixa contábil, os acionistas são os primeiros a serem atingidos antes que os títulos AT1 enfrentem perdas, como o Credit Suisse também observou em uma apresentação recente para investidores.

Mesmo quando a “aquisição” do Credit Suisse deixa os acionistas com centavos de dólar, os detentores de títulos conversíveis contingentes (conhecidos como CoCos ou títulos AT1) estão sendo eliminados. Este é um desenvolvimento surpreendente, dado que até mesmo os detentores de títulos não garantidos geralmente estão acima dos acionistas na estrutura de capital. Portanto, os acionistas obterem “algo” e os detentores de títulos CoCo não obterem “nada” levantam sérias questões sobre o valor real dos títulos CoCo.

É bem provável que os títulos emitidos nessa categoria acabaram de morrer, pois como os bancos eram os maiores emissores e em caso de risco de falência a autoridade intervêm e muda a regra é melhor comprar ações ou instrumentos de dívida clássicos, agora um título que em comparação poderia ser bissexual passa a se tornar assexual não dá! Parece que o CoCo tem o valor que vale literalmente!

Como vai ficar o banco novo com a incorporação do CS? Não sou ingênuo para acreditar que da minha cadeira posso dar um juízo de valor para essa transação que coloca o UBS com o maior gestor de recurso de terceiros de U$ 5,0 trilhões. Mas me arrisco a alguns palpites.

1)      1+1 = 1,5 - Muitos dos 50.000 funcionários do CS tem dias contados, além da linha de crédito não se somar.

2)      Os funcionários podem esperar um chefe novo mais conservador que o anterior, essa observação vale para os clientes.

3)      Daqui a 1 ano vai perder boa parte dos recursos de terceiros pelo motivo 2) e por provável sobreposição de valores investidos por boa parte de grandes clientes.

No post bonançavirus: fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “ A mínima atingida na semana passada foi de R$ 5,10 um pouco abaixo do nível apontado acima. Com o desdobramento do exterior as cotações do dólar subiram. Não tive confiança em entrar na semana passada pois o movimento se mostra “confuso” no curto prazo. Vamos continuar acompanhando até que exista uma maior clareza no cenário de alta para o dólar. Um indicador importante seria ultrapassar R$ 5,3082” ...



O dólar se encontra exatamente nos mesmos níveis da semana passada não apresentando nenhuma novidade nos meus cenários. Entretanto, vislumbro uma possibilidade de alta mais pujante caso o dólar suba mais forte daqui em diante. Por enquanto, todas as hipóteses são para cima. Ultrapassar o nível de R$ 5,3082 passa ser um must para que ocorra. Fiquem atentos a possível sugestão de trade.



O SP500 3,951, com alta de 0,89%; o USDBRL a R$ 5,2380, com queda de 0,75%; o EURUSD a € 1,0719, com alta de 0,50%; e o ouro a U$ 1.978, com queda de 0,46%.

Fique ligado!

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