Corrupção boa e corrupção ruim #SP500

 


Quando entramos na vida adulta, nos deparamos com problemas de saúde com maior frequência, e os checkups fazem parte da rotina, bem como o acompanhamento de indicadores. Um dos mais conhecidos é o nível de colesterol, que pode indicar possíveis problemas no coração. Também aprendemos que existe o colesterol “bom” e o “ruim” — sem saber bem o porquê dessa classificação, se o colesterol total está alto que seja pelo bom, dever ser menos ruim!

Mas não é só o colesterol que pode ter essas duas classificações opostas. A corrupção também pode, na opinião de Eduardo Porter relatada na Bloomberg.

O desencanto com os sistemas políticos que varrem a América Latina tem múltiplas causas. Há o narcotráfico e o consequente ressurgimento da violência. Há uma desigualdade arraigada, minimizada pelas elites como um subproduto infeliz, mas tolerável, da globalização. E há também uma construtora brasileira: a Odebrecht.

De 2001 a 2016, a empreiteira pagou mais de US$ 700 milhões em subornos para ganhar contratos públicos (e muitas vezes renegociá-los a preços mais altos) em dez países da América Latina. Cerca de 600 políticos e funcionários foram implicados, incluindo quatro ex-presidentes do Peru, dois do Panamá e o ex-presidente mexicano Enrique Peña Nieto. E o escândalo acabou derrubando o atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que passou 19 meses na prisão por receber subornos de uma construtora rival, até que suas condenações fossem anuladas por motivos processuais.

A corrupção não apenas sobrecarrega os países com infraestrutura mais deficiente e cara, mas também reduz o investimento produtivo e protege monopolistas ineficientes, limitando a concorrência e o crescimento da produtividade. De Brasília à Cidade do México, o caso Odebrecht enfraqueceu a democracia.

E assim, é irônico que do outro lado do Pacífico, na China, uma concepção diferente sobre a corrupção pareça estar se firmando. O mesmo governo em Pequim que vem travando uma guerra de uma década contra a corrupção parece estar repensando sua estratégia.

"Eles estavam olhando para os números de crescimento e estavam aterrorizados", observou Chang-Tai Hsieh, economista da Booth School of Business da Universidade de Chicago. "Junto com a decisão de abandonar o Zero-Covid, eles disseram que toda essa repressão acabou."

O medo de Pequim se alinha com a pesquisa que descobriu que, embora a corrupção maciça da China tenha feito pouco para impedir o enorme investimento em infraestrutura do país, a campanha anticorrupção iniciada por Xi Jinping reduziu o investimento e a inovação e custou ao país em termos de crescimento. Claro, a China foi do 75º país mais corrupto do mundo em 2014 para o 115º lugar no ano passado, de acordo com rankings internacionais. Mas talvez o custo tenha sido muito alto.

A reavaliação reabre uma questão com a qual os economistas do desenvolvimento ainda não terminaram de lidar. "A visão de que a corrupção é absolutamente ruim para o desenvolvimento está longe de ser uma posição aceita", disse Ray Fisman, economista da Universidade de Boston. Um mundo corrupto pode ser ilegítimo, ineficiente e dificilmente ideal. No entanto, a corrupção pode ser coerente com o rápido crescimento econômico e até contribuir para ele.

O suborno pode lubrificar as engrenagens burocráticas. Como Nathaniel Leff, de Harvard, escreveu em um estudo seminal sobre corrupção e crescimento na década de 1960, quando "os empresários sabotaram a política de controle de preços do governo no Brasil, a produção de alimentos aumentou e a inflação desacelerou ligeiramente".

A corrupção também permite que as empresas contornem regras ineficientes, como cotas de importação. Permite que as empresas comprem segurança em um país com direitos de propriedade limitados e um Estado de direito fraco. Portanto, se a corrupção é boa ou ruim não é a única questão. Há também uma questão sobre a sua qualidade. E isso se resume a se ela pode alinhar os incentivos privados dos burocratas com o objetivo social do desenvolvimento econômico.

Como Hsieh e colegas das universidades de Tsinghua e Hong Kong colocaram em seu recente artigo, "Special Deals With Chinese Characteristics", a corrupção na China produziu crescimento porque os subornos serviram ao objetivo de incentivar novos negócios a crescer.

Um empreendedor que procura se estabelecer na China vai procurar entre os governos locais para ver qual oferece o melhor negócio – seja terra barata, regulamentos mais fáceis ou proteção contra concorrentes. Em troca, as autoridades locais receberão uma participação acionária no empreendimento, mascarada por meio de uma série de empresas de fachada.

Isso garante que eles só ganhem dinheiro se o empreendimento se sair bem. "Os líderes políticos que fazem isso só se beneficiam se também gerarem riqueza em primeiro lugar", disse Hsieh.

O modelo chinês funcionou bem por anos, até a repressão anticorrupção de Xi Jinping. Mas baseava-se em algumas características únicas, notadamente o tamanho da China e sua governança descentralizada. A necessidade de os governos locais competirem por investimentos funcionou como um freio sobre o quanto eles poderiam extrair da empresa privada.

Enquanto isso, as empresas só recebiam tratamento especial em sua localidade. A maioria dos táxis em Pequim é feita pela Hyundai, que tem uma joint venture com o governo da cidade. Em Xangai, os táxis são quase todos Volkswagens. Mas se as montadoras quiserem vender no resto do país, elas devem competir, o que as mantém sempre alerta.

Por que isso não funciona na América Latina? Os países não são grandes o suficiente, talvez, para que os acordos locais façam sentido. Os governos locais não têm a autonomia necessária. Criticamente, pensa Hsieh, os burocratas locais não têm capacidade. Funcionários latino-americanos corruptos podem cobrar um pedágio para conceder uma permissão, permitir que uma empresa superfature o hospital público ou garantir que um empreiteiro brasileiro ganhe o contrato. Eles não podem montar um empreendimento de semicondutores com uma empresa privada.

O modelo chinês descrito por Hsieh não é único. Durante anos, uma chave para fazer negócios na Indonésia foi oferecer uma participação a um dos filhos do Presidente Suharto. Esse tipo de acordo acabou sendo anulado pelo Fundo Monetário Internacional em troca de uma tábua de salvação financeira para ajudar a Indonésia a sair da crise financeira de 1998. Quando essa corrupção desapareceu, o mesmo aconteceu com muito investimento.

Hsieh lembrou-se de uma conversa com um chinês étnico com negócios na Indonésia que acabara de transferir seu dinheiro para Cingapura. "Estou apavorado", disse o cara. "Suharto é tão fraco que não pode nem mesmo proteger seus filhos, então como ele pode me proteger?" Talvez não esteja relacionado, mas a economia indonésia cresceu muito mais rápido na década até 1997 do que nos dez anos depois de emergir do buraco.

Não se trata de defender moralmente a corrupção. Claramente, a ideia de permitir que políticos e funcionários públicos extraiam rendas da economia ofende o senso de certo e errado das pessoas, minando a legitimidade do governo.

Dar às autoridades dos estados do sul do México o poder de fechar acordos corruptos com empresas provavelmente não é a melhor maneira de cumprir o objetivo do presidente mexicano de atrair o desenvolvimento econômico para o sul. Como Hsieh observa: "Não consigo ver como você pode explicitamente argumentar que isso deva fazer parte do seu plano de desenvolvimento".

A corrupção pode ser problemática, mesmo que promova o crescimento. Como na China, onde Xi evidentemente viu que um monte de políticos e funcionários locais envolvidos em acordos paralelos com empresas privadas estava corroendo sua lealdade ao Partido Comunista e, não por acaso, permitindo que alguns deles acumulassem um grau de poder e influência que poderia ameaçar sua própria posição.


 

E, no entanto, a crítica à corrupção deve considerar que, mesmo depois que o escândalo da Odebrecht explodiu a credibilidade do establishment político da América Latina, em 2020 41% dos latino-americanos que responderam às pesquisas do Latinobarômetro concordaram que alguma corrupção é aceitável desde que os problemas da nação sejam resolvidos. Ou, como disse um provérbio de Sichuan favorecido por Deng Xiaoping: "Não importa se um gato é preto ou branco; desde que apanhe ratos, é um bom gato."

Não consigo concordar que possa existir dois tipos de corrupção: tudo é corrupção! Nos casos citados que o artigo elenca como benéficos e ocorreram na Ásia, há uma diferença em relação aos que ocorreram no Brasil na época do Lula: lá os corruptos se tornavam sócios do empreendimento e aqui ganhavam comissões sobre os negócios. No primeiro caso, tem pelo menos um viés de análise e um projeto ruim é desinteressante ao corruptor, enquanto no segundo tanto faz — o que importa é qual a taxa que recebem — e, ao contrário, se o projeto é péssimo porque é muito mais caro, mas paga a maior taxa, é esse o escolhido.

Mas mesmo a corrupção boa não pode ser positiva no longo prazo, pois não necessariamente ocorre o critério de livre concorrência onde o melhor e mais barato deve ser o escolhido. O critério de seleção é enviesado por aquele que oferece maior participação ao corruptor, e no longo prazo gera ineficiência. Corrupção só existe a ruim!

No post lula-o-invasor fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “ A reta pontilhada em azul é uma resistência que une os vários momentos em que houve reversão desde o final de 2021. Houve uma primeira tentativa na onda (i) em amarelo, mas retrocedeu. Se o SP500 se mostrar disposto a subir, é importante que ultrapasse essa linha. No curto prazo, não se identifica as 5 ondas, mas isso saberemos brevemente. Fique atento ao Mosca para uma eventual sugestão” ...




 Vou retornar à rotina de publicação nos dias da semana, como vinha fazendo, para facilitar aos leitores que acompanham um determinado mercado. Nestes últimos tempos, está difícil de estabelecer uma tendência, com muitas idas e vindas a bolsa não tem indicado nada concreto, embora o viés do Mosca seja de alta até prova o contrário. Desde a última sexta-feira, o SP500 manteve a tendência de alta no curto prazo. Como havia comentado acima, ainda não são visíveis as cinco ondas.



Qual o road map? Para que a alta seja mais consistente, precisa ocorrer duas coisas: ultrapassar os níveis de 4.086/4.140 e a complementação de cinco ondas numa janela menor de uma hora. Caso contrário, uma queda abaixo de 3.922 nos coloca na defensiva.

- David, está sem graça acompanhar os mercados, fica nessa conversa de lá para cá, mas de concreto nada!

O que você está comentando se pode notar pela queda na volatilidade medida pelo VIX. No gráfico a seguir com janela semanal, se nota a convergência nas últimas semanas para os níveis mais baixos desde a pandemia, destacados em laranja. O retângulo em verde denota níveis extremamente baixos, abaixo de 15%, que prevaleceram por boa parte na última década, período denominado Goldilocks – juros baixos com crescimento baixo, mas positivo. Não acredito que iremos retornar a esse patamar.




É provável que ficaremos por aí? Não acredito — com as incertezas com as quais convivemos, surpresas deverão ocorrer.

Em relação a seu comentário, os mercados são assim mesmo: existem momentos que parecem muito estáveis e que nada vai acontecer, quando de repente surge uma tendência – para cima ou para baixo. É importante que não se deixe levar pela calmaria, acreditando que ela irá se perpetuar. Posso afirmar que não, sempre existirão correções e movimentos direcionais e os últimos sucedem aos primeiros, bem como o inverso. Estamos em busca das cinco ondas sempre!

Acrescentando, até parece que o mercado combinou e resolveu dar meia volta depois da fala de Powell que reafirmou seu compromisso com a inflação mais baixa, deixando a porta aberta para elevar os juros novamente em 50 bps. Da maneira como está fechando, nada feito nas 5 ondas de alta e talvez formando agora 5 de queda. Sem sugestão de trade por enquanto.

O SP500 fechou a 3.986, com queda de 1,53%; o USDBRL a R$ 5,1918, com alta de 0,75%; o EURUSD a € 1,0549, com queda de 1,21%; e o ouro a U$ 1.814, com queda de 1,72%.

Fique ligado!

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