Podemos confiar? #ibovespa

 


Me recordo que no ano passado era quase um consenso entre os analistas que as commodities iriam subir de preço, especificamente o petróleo: era barbada considerar o barril a U$ 100. Depois de uma temporada de maus resultados, resolvi não atuar mais nesses mercados — isso ocorreu há um bom tempo; quando jovem, acreditava que entendia de tudo, bastava uma pesquisa rasteira sobre o assunto.

O que temos observado é que as commodities estão caindo pelas tabelas e, como sempre, os analistas têm explicações para os fatos ex post. Esse movimento é bom para acalmar alguns preços, mas seria suficiente para projetar que a inflação está sob controle? Carolynn Look e outra comentam na Bloomberg que a queda das commodities sinaliza desinflação.

Do cobre ao trigo e ao gás natural, o custo de alguns dos produtos mais importantes do mundo está caindo, trazendo o tão esperado alívio para os consumidores, que foram atingidos pela disparada dos preços no ano passado.

A crise das commodities, desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia, sofreu uma reversão acentuada, com um indicador da Bloomberg caindo mais de 10% desde o início do ano, para o menor nível desde 2021. A tendência desinflacionaria se deve a uma economia mundial flertando com a recessão, a recessão industrial da Europa e a recuperação da China das políticas de Covid Zero, mais fraca do que o esperado.




Para famílias e empresas, os benefícios já começam a aparecer à medida que as taxas de inflação global caem, tirando alguma pressão dos bancos centrais para continuarem aumentando agressivamente os custos dos empréstimos. Mesmo assim, alguns preços estão se mostrando mais pegajosos, e há incerteza sobre a duração das pressões desinflacionarias, limitando a extensão em que isso aliviará o aperto do custo de vida.

"A queda nos preços das commodities parece refletir a recuperação gaguejante da China, uma recessão iminente nos EUA e a destruição do lado da oferta na Europa", disse Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING. "É realmente possível que a inflação se transforme em desinflação temporária."

Os preços da energia estiveram na vanguarda da queda das commodities deste ano, particularmente na Europa, onde os futuros do gás natural caíram cerca de dois terços este ano, depois de dispararem para recordes no verão passado.

Até mesmo o petróleo e seus derivados ficaram mais baratos, apesar de um acordo dos países produtores para reduzir a produção de petróleo. Os preços do diesel nos EUA caíram mais de 30% em relação ao pico de 2022, proporcionando alívio para caminhoneiros, agricultores e consumidores na maior economia do mundo.

Na Espanha, a inflação desacelerou mais do que o previsto em maio, à medida que os custos dos combustíveis caíram e o crescimento dos preços dos alimentos diminuiu. O crescimento dos preços na zona euro, que deverá ser publicado na quinta-feira, também deverá ter arrefecido acentuadamente.

A grande questão é até que ponto essas taxas vão enfraquecer antes de se estabilizarem. Mesmo que os custos das matérias-primas caiam, outros insumos, especialmente os salários, podem demorar muito mais a acompanhar.




Mas, por enquanto, os preços dos insumos parecem estar em grande parte caminhando para baixo. Além disso, as interrupções na cadeia de suprimentos que atingiram grande parte da economia global também começaram a diminuir, e as taxas de frete de contêineres entraram em colapso.

Na China, a recuperação pós-Covid está limitando as pressões de preços sobre os metais. O níquel despencou 30% este ano e o zinco caiu mais de 20%. O cobre também caiu nas últimas semanas.

"A recuperação na China foi muito mais direcionada para os serviços do que para a demanda industrial, o que realmente impactou os metais industriais", disse Rebecca Babin, trader sênior de energia da CIBC Private Wealth. "Há também uma ampla saída de dólares de investimento para fora das commodities devido a taxas mais altas e à incerteza sobre o crescimento global."

Para os consumidores, as contas de supermercado teimosamente altas ainda são um peso enorme no orçamento das famílias em muitas partes do mundo, mas há sinais de que a inflação de alimentos também pode perder força.

Os futuros do trigo caíram mais da metade em relação à máxima recorde do ano passado. Rússia e União Europeia, os dois principais embarcadores, estão prontos para safras de 2023, amortecendo as deficiências causadas pela guerra na Ucrânia.

O Brasil está coletando suas maiores safras de milho e soja de todos os tempos, moderando as contas de ração para os rebanhos de frangos e suínos. E os preços do óleo vegetal caíram drasticamente.

Como isso se traduz em preços de varejo é menos simples, dado que as commodities agrícolas são apenas uma parte. Transporte, mão de obra e outros custos também desempenham um papel importante, e a maioria das empresas de consumo compra vários meses de fornecimento com antecedência.

"Eu esperaria que os preços dos alimentos caíssem nos próximos seis meses, essa é certamente a previsão aqui nos EUA", disse Joseph Glauber, pesquisador sênior do International Food Policy Research Institute, com sede em Washington. "Todos os sinais do lado das commodities ainda apontam para preços essencialmente mais baixos até o final do ano com a nova safra. Está demorando um pouco para essa inflação no nível do consumidor diminuir."

O que diz a Bloomberg Economics...

"No início do ano, a crescente recuperação da China dos lockdowns da Covid levantou temores de um impulso inflacionário para os EUA e a Europa, transmitido por meio dos preços das commodities. Caminhando para meados do ano, o fraco ímpeto da China significa que o impulso está na outra direção. Essa é uma boa notícia para o Fed e o BCE, embora a parte mais difícil de seu desafio - combater o aumento dos salários e o núcleo da inflação - permaneça sem resultado."

— Tom Orlik, economista-chefe

Ainda assim é cedo para prever o fim da crise do custo de vida, especialmente porque a inflação pode cair mais lentamente do que indicam os preços das commodities. O Goldman Sachs ainda espera que as  commodities voltem a subir, caso as preocupações com a recessão se mostrem incorretas.

Há também a questão de saber se as empresas vão repassar custos mais baixos de commodities. Os varejistas resistem a reduzir os preços depois de colocá-los para cima, geralmente esperando sinais de que a mudança será duradoura.

Também houve acusações da chamada "ganância" - em que as empresas se aproveitam e aumentam os preços acima  dos custos - embora alguns contestem se isso realmente está elevando as taxas de inflação.

Além disso, muitas commodities-chave ainda estão precificadas bem acima dos níveis anteriores à invasão da Ucrânia pela Rússia. Para alguns, não está claro quanto mais eles diminuirão e o quanto esses movimentos gerarão mais perdas no ímpeto inflacionário.

"O processo de desinflação, como tudo o mais, é altamente desigual", disse Tom Halverson, presidente-executivo do CoBank, um banco cooperativo que trabalha com empresas rurais nos EUA. "Os preços são sempre mais duros de cair que de subir; demora muito mais e é muito mais difícil espremer a inflação."

Eu já compartilhei a inflação calculada de forma independente, criada para ser atualização mais objetiva, descentralizada e frequente. Segundo essa métrica, a inflação vem caindo de forma expressiva desde o ano passado e já se encontra próxima do objetivo declarado pelo Fed de 2% a.a. O gráfico a seguir mostra a evolução deste ano.




É natural que a autoridade monetária não irá se guiar por essa métrica r, uma vez que não é um dado oficial. Mas se existe alguma credibilidade nesse indicador, o que só saberemos mais à frente, o Fed poderá respirar e — mais importante, pelo menos até agora — não houve recessão. O título do post de hoje é uma grande dúvida que existe, podemos confiar?

No post desafiando-força-gravitacional-da-vida  fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” embora não seja visível para o leitor, a onda terminou um pouco mais adiante, com impacto marginal para efeitos de estratégia. Os novos objetivos passam a ser 103,9 mil/102,2 mil. A régua que mede o período mais provável em que isso pode ocorrer aponta para o meio de junho” ...



Como o leitor já está cansado de saber, em correções os objetivos vão sendo atualizados conforme o movimento se desenvolve. Sendo assim, os novos objetivos passam a ser entre 105,8 mil/ 104,2 mil. No curto prazo a queda atual deveria ser contida ao redor de 106 mil - a) em seguida uma alta que deve levar a 110,0 mi/110,7 mil - b) finalizando com o nível acima - c).




Importante destacar a nota acrescentada no gráfico e o porquê dela. Se por caso essa queda ocorrer de forma mais acentuada, vai colocar em dúvida o cenário que estou usando atualmente. Para o leitor ter uma ideia, o número de opções que tenho para a bolsa brasileira é o maior de todos os outros mercados. Não é possível descartar que a grande correção que se encontra ainda tenha mais quedas. Para um cenário mais otimista e seguro para o Ibovespa, seriam necessárias altas sucessivas — o que prefiro nem pensar por enquanto.

O SP500 fechou a 4.179, com queda de 0,61%; o USDBRL a R$ 5,0609, com queda de 0,50%; o EURUSD a 1,0689, com queda de 0,42%; e o ouro a U$ 1.962, com alta de 0,20%.

Fique ligado!

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