A última trincheira #ouro #gold

 


O momento complicado da China está estampado em todos os noticiários. Venho relatando essa situação de difícil solução. Um dos grandes problemas desse país é o setor imobiliário, cuja participação no PIB é muito grande — acima de 25%. Esse setor por princípio é muito alavancado, pois as construtoras tomam empréstimos durante a construção, na expectativa de repassar ao comprador final. Se este comprador não existe, a construtora terá que se desfazer dos imóveis para honrar sua dívida, ou seja, sem comprador essa empresa pode quebrar.

Nos últimos tempos, uma onda antiamericana vem advogando que o dólar deveria perder seu status de reserva mundial e o yuan seria o candidato a assumir esse posto. Diversos movimentos foram feitos, principalmente depois da eclosão da Guerra da Ucrânia, que aglomerou países como a Rússia, Índia e outros emergentes e levou a operações comerciais negociadas na moeda chinesa. Mas tudo isso é ainda pouco para desafiar a predominância do dólar.

Isso nos traz à situação atual, em que a moeda chinesa se encontra nas mínimas desde 2008, forçando seu banco central a intervir em conjunto com bancos locais de forma maciça. Essa conjuntura leva à diminuição dos juros na China, o que cria um círculo vicioso com os aumentos das taxas no EUA beneficiando o dólar em detrimento do yuan. Desde o final de 2022, o diferencial vem aumentando.

 



 Em uma situação normal de temperatura e pressão, tudo indicaria uma predominância americana contínua. Mas será que a evolução da dívida americana é saudável? O déficit cresceu a 8,6% do PIB nos últimos 12 meses, não muito distante do nível que aconteceu durante a grande recessão de 2008, e é mais do dobro de um ano atrás. Ao observar esse gráfico, nota-se a tendência de um crescente aumento, ficando para trás a estabilidade.



Uma casa que tem uma visão muito negativa para os EUA nessa área, a Gavekal, faz um raciocínio sobre a evolução dessa dívida no futuro. Desde 2000, a dívida federal dos EUA multiplicou-se 5,6 vezes, enquanto o PIB dos EUA e o custo do serviço da dívida aumentaram 2,7 vezes. Dito de outra forma, desde o início deste século, a taxa de crescimento anual da dívida federal dos EUA foi de 7,7%, enquanto o custo de serviço dessa dívida cresceu em 4,4%, o que foi aproximadamente igual à taxa de crescimento de 4,3% do PIB nominal, o que parece estranho. Para entender como isso aconteceu, considere o gráfico abaixo




Entre 2000 e 2020, o Fed imprimiu dinheiro como louco, como mostra a base monetária dos EUA que se expandiu 10 vezes. O banco central usou US$ 5 trilhões para financiar déficits orçamentários colossais dos EUA, implantando a ideia tola de que taxas curtas muito baixas eram "boas para o crescimento", e isso cuidaria dos déficits orçamentários.

O aumento contido do índice de serviço da dívida dos EUA de 2000 a 2020 deveu-se ao fato de o Fed manter um preço falso para as taxas de juros de longo e curto prazo através da compra de títulos. Como resultado, o crescimento econômico permaneceu moderado. O problema é que nos últimos anos a inflação começou a subir fortemente. O banco central dos EUA agora tem que lidar com uma dívida que é maior do que o PIB, mas deve ser financiada com taxas de juros "normais". A partir de agora, é certo que a razão do serviço da dívida dos EUA crescerá muito mais rápido do que o PIB dos EUA.

Isso significa que os EUA estão entrando em uma armadilha da dívida. Se a taxa de crescimento nominal da economia se mantiver em 4%, e se as taxas longas e curtas também estiverem em 4% ou mais, todo o valor agregado recém-criado da economia acabará indo para os detentores de títulos, o que é politicamente impossível, pois significaria toda a nova riqueza acumulada para "rentistas", sem que nenhuma fosse para empresários ou trabalhadores.

A sustentação do yuan é feita pela venda de dólares e compra dessa moeda; para realizar essa operação, o banco central da China vende títulos americanos que detém, o que coloca mais pressão nas taxas de juros americanas neste momento. O estoque da dívida dos EUA detido pela China vem decrescendo com o tempo, por causa do fator mencionado bem como da hostilidade entre esses dois países.




Separando o curto prazo do longo prazo, no curto parece que o dólar vai continuar detendo sua condição de reserva do mundo, liderando na questão taxa de juros e canalizando o fluxo provenientes de outras moedas — onde se inclui o yuan. Mas num prazo mais longo, ou os EUA fazem um corte de despesas ou em algum momento o mercado ficará desconfiado de sua solvência. Como mencionado acima, se o PIB cresce menos que a dívida, não tem como essa se estabilizar.

Mas existe um cavalo correndo a favor dos americanos: a IA, que requer somas enormes de investimentos. 1. Este poderia ser um abrandamento da crise que se vislumbra, podendo até virar o jogo dependendo da repercussão dessa nova tecnologia. Por enquanto não parece saudável a situação financeira no futuro.

1 Participei de um call com o CEO do fundo de investimentos Coatue, Philippe Laffont, empresa especializada em tecnologia. Na sua visão, a IA terá repercussão enorme nas empresas e enfatizou que deve beneficiar em sua maioria as grandes empresas, dado o elevado capital necessário. Essa pode ser uma explicação para o movimento observado neste ano, onde poucas empresas foram s responsáveis pela alta das bolsas.

No post existe-receita-de-bolo-para-ações fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ... “ Como podem notar a seguir, e como eu desconfiava, a onda (a) laranja ficou mais curta e devemos estar agora na onda (b) laranja que pode tomar dois caminhos conforme mostra os símbolos em verde. Se no curto prazo não sei se vai cair ou subir, por que deveríamos nos envolver?” ...




Tudo indica que estamos no último lance de queda do ouro, como comentei no post acima, prevaleceu a queda no curto prazo. O objetivo para uma eventual reversão passa a ser entre U$ 1.830 / U$ 1.815. Tenho que enfatizar que em observações de janela menor não está claro o desenrolar dessa correção, o que coloca esses objetivos menos certeiros.




O SP500 fechou a 4.370, com queda de 0,77%; o USDBRL a R$ 4,9839, sem variação; o EURUSD a € 1,0871, sem variação; e o ouro a U$ 1.888, com queda de 0,22%.

Fique ligado!

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