Pênalti aos 45´#ouro

 

Para quem gosta de futebol já deve ter assistido partidas onde tudo parece estar definido quando acontece um pênalti no último minuto e o jogo vira. No caso em que vou citar aumenta a goleada.

Ontem foram publicados os dados de inflação do mês de junho, que ficou bem acima das expectativas, tanto o indicie cheio como o que exclui gasolina e alimentos. Ao se analisar os detalhes do relatório fica ainda pior. No gráfico a seguir se nota que a inflação acontece em todas as categorias e não somente proveniente das comodities, observem o item serviços muito influenciado pela alta dos aluguéis e correlatos.


Em relação as comodities, diferentemente do que aparenta, a quase totalidade está em queda sob qualquer janela que se observa, uma ou outra tem ganho no ano. Desta forma, esse componente deveria estar (ou vai) influenciar a inflação para baixo.


Na última semana do mês o Fed se reúne para decidir sobre a política monetária, e até o anúncio desse dado, se esperava 75 p.p para essa e 50 p.p. para a próxima, mas o mercado começou a se questionar se não iriam mais fundo como Catarina Saraiva e outros comentam na Bloomberg.

Funcionários do Federal Reserve podem debater um aumento histórico de um ponto percentual  no final deste mês após outro ‎‎relatório de inflação‎ que acumulou pressão sobre o banco central para agir.‎

‎"Tudo está em jogo", disse o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, a repórteres em São Petersburgo, Flórida, na quarta-feira, depois que os preços ao consumidor dos EUA subiram 9,1% no ano até junho. Questionado se isso incluía aumentar as taxas em um ponto percentual completo, ele respondeu: "isso significaria tudo.‎

‎Investidores ‎apostam que é mais provável do que não aumentar as taxas de juros em 100 pontos-base quando se reunir entre 26 e 27 de julho, o que seria o maior aumento desde que o Fed começou a usar diretamente as taxas de juros overnight para conduzir a política monetária no início da década de 1990. Os americanos estão furiosos com os altos preços, e os críticos culpam o Fed por sua resposta lenta inicial.‎ Nos mercados futuros já é praticamente certa essa decisão pois é vista com 91% de probabilidade.

O Presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, falando quarta-feira à noite em um ‎‎entrevista‎‎ na Bloomberg Television, recusou-se a dizer se ela preferia ir nessa direção na reunião de julho, observando que havia importantes publicação de dados entre agora e então. Mas ela disse que não havia "nenhuma razão" para aumentar as taxas em menos do que os 75 pontos-base que os formuladores de políticas entregaram no mês passado.‎

‎"O que eu tiro do relatório, e foi uniformemente ruim - não havia nenhuma boa notícia nesse relatório - é que a inflação permanece em um nível inaceitavelmente alto", disse ela. "Nós do Fed temos que ser muito deliberados e intencionais em continuar nesse caminho de elevar nossa taxa de juros até que tenhamos evidências convincentes de que a inflação virou a esquina."‎

‎"Minha postura mais provável é 0,75, por causa dos dados que vi", acrescentando que esperava que o número do CPI fosse alto: "Eu vi esses dados e pensei: Isso não é uma boa notícia. Não esperava boas notícias."‎

‎O Fed se voltou agressivamente contra a inflação, depois de ser culpado por sua resposta inicialmente lenta, agitando os mercados financeiros e aumentando o risco de que suas ações pudessem levar a economia dos EUA à recessão. Tanto Bostic quanto Mester recuaram contra a ideia de uma troca entre inflação e emprego, argumentando que eles tinham que entregar estabilidade de preços, mesmo que isso prejudique o mercado de trabalho.‎

‎Dada a aceleração da inflação mensal, os economistas da Nomura Securities International agora esperam um aumento de 1% na taxa de referência do Fed na próxima reunião de política.‎

‎"Os dados recebidos sugerem que o problema de inflação do Fed piorou, e esperamos que os formuladores de políticas reajam aumentando o ritmo de aumento das taxas para reforçar sua credibilidade", disseram Aichi Amemiya, Robert Dent e Jacob Meyer, da Nomura, em nota.‎

‎O presidente do Fed, Jerome Powell, disse a repórteres no mês passado depois que o banco central elevou as taxas em 75 pontos-base, para um intervalo de 1,5% a 1,75%, que um aumento de 50 ou 75 pontos-base era provável em julho. A maioria de seus colegas desde então tem ‎‎Ecoado‎‎ sua linha ou ‎‎Aprovado‎‎ o movimento maior.‎

Aperto global‎

‎Os bancos centrais em todo o mundo estão enfrentando uma inflação sem precedentes, provocando aumentos históricos das taxas da ‎‎Hungria‎‎ até o ‎‎Paquistão‎‎. O Banco do Canadá aumentou as taxas na quarta-feira com uma surpresa ‎‎ponto percentual completo‎‎ em meio a temores de que as pressões de preços de décadas estão se entrincheirando.‎

‎Brett Ryan, economista sênior dos EUA no Deutsche Bank AG, disse que fazia sentido precificar algum risco de um movimento maior do Fed, mas o via como improvável sem comunicação explícita do banco central.‎

‎O banco central dos EUA tem votado para um aperto de política agressivo para enfrentar a maior inflação em 40 anos. Eles aumentaram as taxas em 75 pontos-base no mês passado - o maior aumento desde 1994 - apesar de anteriormente sinalizarem que estavam no caminho certo para um movimento menor de meio ponto.‎

‎"Você tem que colocar 100 pontos na mesa para julho", disse Andrew Hollenhorst, economista-chefe do Citigroup nos EUA. "Todo mundo deveria ser bastante cauteloso em chamar o pico de inflação - alguns meses atrás o pico deveria ser de 8,3%."‎

‎Autoridades do Fed disseram que querem empurrar a política para território restritivo, em um intervalo de 3,25 a 3,5% até o final deste ano, de acordo com a mediana das projeções econômicas trimestrais divulgadas em junho. Os mercados futuros na quarta-feira mostraram os níveis dos investidores em uma faixa ainda maior de 3,5% a 3,75% até o final do ano.‎

‎A mudança abrupta do Fed para um aumento de 75 pontos-base no mês passado veio por conta de uma pesquisa preliminar mostrando que as expectativas dos consumidores para a inflação futura estavam aumentando. ‎

‎Atualizações subsequentes aos dados, que vieram após a reunião do Fed, apagaram a maior parte desse aumento, mas os números preliminares de julho, esperados na sexta-feira, podem fornecer aos formuladores de políticas mais munição para a super size alta deste mês.‎

‎As expectativas de inflação são particularmente preocupantes para Powell e seus colegas, que estão tentando evitar uma espiral de preços no estilo dos anos 1970.‎

‎"Depois do que aconteceu em junho, não descarto nada", disse Stephen Stanley, economista-chefe da Amherst Pierpont Securities. Eu estava pensando que o Fed desaceleraria para um ritmo de 50 pontos-base por reunião a partir de setembro, mas se os próximos dois números mensais de inflação se parecerem com os de maio e junho, todas as apostas estão canceladas."‎

Observando a tudo isso posso garantir que o pênalti existiu, nem adianta apelar para o VAR. Agora se o Fed vai fazer o gol fica a dúvida. Na minha opinião, se não subir os 100 pontos, vai dar o primeiro sinal que prefere a atividade econômica à inflação. Os leitores do Mosca sabem o que penso sobre subir juros de escadinha, eu prefiro uma porrada de uma vez para no mínimo colocar em um nível mais razoável, afinal, os mercados futuros, e nem tão futuros assim pois deve acontecer até o final do ano, já pontam para 3,25% a 3,5%.

Agora algo que não faz sentido para mim nesse estágio da política monetária aliado aos riscos que existem no futuro, é dado pela inversão da curva de juros entre os títulos de 10 anos e 2 anos. Eu comentei diversas vezes o que isso significa, mais acho instrutivo repetir.

‎” Uma curva de rendimento inverte quando as taxas de juros de longo prazo caem abaixo das taxas de curto prazo, porque os investidores esperam que as taxas de curto prazo diminuam no futuro, normalmente como resultado de um desempenho econômico prejudicado. Tal inversão serviu como um indicador de ‎‎recessão‎‎ relativamente confiável na era moderna.‎ Como as inversões da curva de rendimento são relativamente raras, mas muitas vezes precederam recessões, elas normalmente exigem um intenso escrutínio dos participantes dos mercados financeiros.”


Por que está acontecendo isso de maneira tão prematura? O mercado está apostando que o Fed não vai piscar, subindo os juros da maneira como vem falando, é que isso será suficiente para domar a inflação, mas que como contrapartida vai gerar uma recessão. O gráfico a seguir mostra como os investidores esperam que já no próximo ano a autoridade monetária estará reduzindo os juros.

Porque o Mosca humildemente (ou não! Haha ...) acha isso perigoso? Primeiro que a inflação gerada está ocorrendo de forma mundial ocasionada por muitos anos de bonança financeira propiciada pelos bancos centrais, desta forma, me parece mais um problema de oferta do que demanda; segundo que a retirada desses excessos financeiros nem começou efetivamente, foi apenas marginal; e por ultimo a inflação tem se mostrado muito mais persistente que os modelos poderiam indicar, veja aqui no Brasil - que talvez foi um dos primeiros a sofrer esse fenômeno - como se mantem em níveis elevados.

Agora vamos imaginar que no começo de 2023 a inflação americana caiu, mas caiu pouco, ao redor de 5% a.a., o que o Fed vai fazer, baixar as taxas, ou até, ter que aumentar? Nem quero especular o caso em que a inflação permaneça ao redor do nível atual. Na minha parca opinião o risco de estagflação não é tão pequeno assim, e se ele se materializar, a curva não só não deveria estar invertida como deveria estar empinada. Talvez a inversão só fizesse sentido se o juros estivessem em níveis bem mais elevados. Vamos ver!

No post mercado-de-petróleo-e-só-para-pro, fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ... “Desde a última publicação o metal só foi definhando – destacado no gráfico abaixo pela elipse - para baixo de forma lenta colocando em dúvida se ainda vai atingir os U$ 1.925 antes da possível queda. Não tenho a preferência por nenhuma das hipóteses aventadas, o que posso dizer é se o nível de U$ 1.786 for ultrapassado as chances de que a queda está em curso aumentam significativamente” ...


O ouro é um caso típico onde as mais diversas alternativas que existem para seu cenário, vão na mesma mesma direção. O cenário que eu estava trabalhando foi substituído pelo que apresento a seguir. A diferença entre ambos e que no anterior o ouro deveria subir antes da queda final, e no caso atual, essa alta não ocorreu, e a queda se sucedeu na sequência.

Ao nível atual de U$ 1.707, e com um objetivo ao redor de U$ 1.673/ U$ 1.667, o metal se encontra muito próximo da queda projetada (2%).


Embora parecesse quase impossível o ouro não subir num cenário de guerra e inflação ao redor do mundo, mas acabou não acontecendo. Quem seguiu o Mosca não embarcou nessa ideia. Mas a partir de agora todo a atenção se mostra no intuito de comprar ouro.

- Boa David essa gostei, vamos começar a compra no níveis que você menciona acima?

Amigão me mostre primeiro as 5 ondas no sentido contrário (alta). Enquanto não acontecer não vou tentar segurar essa faca caindo!

O SP500 fechou a 3.790, com queda de 0,30%; o USDBRL a R$ 5,4308, com alta de 0,72%; o EURUSD a 1,0013, com queda de 0,49%; e o ouro a U$ 1.709, com queda de 1,5%.

Fique ligado!

Comentários

  1. A reação dos mercados americanos ontem e hoje me surpreenderam. Espera ver queda boas ao invés de resiliência. Começo a achar que o Powell não é a pessoa mais indicada para controlar a inflação. Ele esta cometendo o mesmo erro que o Campos Neto, em subir os juros com pena do mercado, com uma comunicação péssima, adiantando reduções nas altas de juros antes mesmo da baixa se refletir nos números. Tentando acertar o pico da inflação. O corretor, depois desses números seria um aumento de juros extraordinário no final de semana para supreende o mercado. Esse 1% vai acabar não tendo o efeito desejado, pois vai ser de acordo com a expectativa do mercado.

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    1. Agora no computador: A reação dos mercados americanos ontem e hoje me surpreenderam. Espera ver queda boas nas bolsas ao invés de resiliência. Começo a achar que o Powell não é a pessoa mais indicada para controlar a inflação. Ele esta cometendo o mesmo erro que o Campos Neto, em subir os juros com pena do mercado, com uma comunicação péssima, adiantando reduções nas altas de juros antes mesmo da baixa se refletir nos números da inflação. Tentando acertar o pico da inflação. O correto, depois desses números, seria um aumento de juros extraordinário no final de semana para surpreender o mercado. Esse aumento de 1% vai acabar não tendo o efeito desejado, pois vai ser de acordo com a expectativa do mercado. A um mês atrás ocorreu o mesmo com a elevação de 0,5% para 0,75%.

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  2. Você colocou vários pontos que vou pincelar aqui. Primeiro sobre inflação e Powell, sem duvida o Fed demorou a reagir, mas nesse quesito está bem melhor que o ECB e BOJ, agora se vai conseguir controlar a inflação e a que custo vamos saber nos próximos meses. Em todo caso, o Fed de uma maneira geral se posicionou no sentido de fazer o que for necessário para controlar, o que isso vai significar de nível de taxa e se vai ter peito de implementar é a duvida. Observando-se o indicador de inflação extraído das taxas futuras parece que o mercado está confiante. No quesito bolsa, se você acompanha meus posts, nota que estou dividido sobre continuidade da queda ou reversão. Recomendo a leitura do post de hoje que pode dar alguns elementos que justifica o movimento dos preços.

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