Ninguém é bom em tudo



Certa vez, em visita aos EUA, entrei numa loja da Ralph Lauren, que era muito conhecida pela comercialização da camisa Polo. Naquele momento, esse era seu principal produto, mas já se preparava para aumentar seu leque de opções.

Essa loja, já vislumbrando essa nova fase, era enorme. Ao me dirigir à secção da Polo, que ficava no fundo do estabelecimento, no percurso, outros itens de vestuário masculino estavam expostos. Fui observando, sem me interessar por nada, até que cheguei na secção de calças jeans.

Depois de uma pequena pesquisa, fiquei surpreso como uma marca tão boa em Polos podia expor jeans tão horríveis! Essa situação me fez chegar a uma conclusão que uso até hoje: Ninguém é bom em tudo.

Acredito que essa frase é autoexplicativa, mas para não pairar dúvidas enfatizo essa ideia. Uma empresa, que é muito boa num determinado segmento, ao se envolver em outros muito diferentes, acaba perdendo o foco no principal, e via de regra o resultado global piora.

O comentário de hoje é sobre a GE, um conglomerado que está enfrentando nos últimos anos, graves problemas. Para quem não conhece sua história, vou fazer um resumo, principalmente quando Jack Welch, foi indicado para presidi-la. Vocês notarão a genialidade de suas ideias para a época  e carisma.

Em 1981, Welch tornou-se o presidente e CEO mais jovem da GE, sucedendo Reginald H. Jones. Em 1982, Welch havia desmantelado grande parte da administração anterior montada por Jones com simplificação e consolidação agressiva. Uma de suas principais diretrizes de liderança era que a GE deveria ser a número 1 ou a número 2 nas indústrias em que participava.

Nos anos 80, Welch procurou simplificar a GE. Em 1981, ele fez um discurso em Nova York chamado "Crescendo rápido em uma economia de crescimento lento". Sob sua liderança, a GE aumentou o seu valor de mercado de US $ 12 bilhões em 1981 para US $ 410 bilhões quando se aposentou, fazendo 600 aquisições enquanto se deslocava para mercados emergentes.

Welch foi pioneiro em uma política de informalidade no local de trabalho, permitindo que todos os funcionários tivessem uma pequena experiência empresarial em uma grande corporação. Trabalhou para erradicar a ineficiência percebida, reduzindo os estoques e desmantelando a burocracia que quase o levou a deixar a GE no passado. Fechou fábricas, reduziu os pagamentos de salários e cortou unidades sem brilho. A filosofia pública de Welch era a de que uma empresa deveria ser a nº 1 ou a nº 2 em uma indústria específica, ou então deixá-la completamente.

Welch valorizou a surpresa e fez visitas inesperadas às fábricas e escritórios da GE. A cada ano, demitia 10% de seus gerentes com pior desempenho, independentemente da performance absoluta. Ele recompensou os melhores 20% com bônus e opções de ações. Ampliou o programa de opções de ações da GE, expandindo a disponibilidade dos principais executivos para quase um terço de todos os funcionários, também foi conhecido por abolir a hierarquia de gerenciamento de nove camadas e trazer um senso de informalidade para a empresa.

Durante o início dos anos 80, foi apelidado de "Neutron Jack" (em referência à bomba de nêutrons) por eliminar funcionários e deixar os prédios intactos. Em seu livro - Jack: Straight From The Gut, Welch afirma que a GE tinha 411.000 funcionários no final de 1980 e 299.000 no final de 1985. Dos 112.000 que deixaram a folha de pagamento, 37.000 estavam em negócios que a GE vendeu e 81.000 foram reduzidos em negócios contínuos. Em troca, a GE aumentara tremendamente seu valor de mercado.

Durante a década de 1990, mudou os negócios da GE de manufatura para serviços financeiros por meio de inúmeras aquisições.

Welch adotou o programa de qualidade Seis Sigma da Motorola no final de 1995. Em 1980, um ano antes se tornar CEO, a GE registrou receitas de aproximadamente US $ 26,8 bilhões e em 2000, no ano anterior à sua saída, era de quase US $ 130 bilhões. Em 1999, ele foi nomeado "Gerente do Século" pela revista Fortune.

Incorporar planejamento de sucessão e desenvolvimento de funcionários é importante, já que a saída da administração pode ter consequências significativas em uma organização. Seu plano sucessor sempre foi uma prioridade, como notou em seu discurso de 1991 "A partir de agora, [escolher meu sucessor] é a decisão mais importante que vou tomar. Ele ocupa uma quantidade considerável de pensamento quase todos os dias".

Como substituir uma pessoa como essas? Parece quase impossível. No gráfico a seguir se pode notar a diferença que existe, da época em que Jack Welch era o CEO, e depois que foi substituído.


De CEO em CEO essa companhia tem tentado voltar ao que era sem muito sucesso. Ontem foi a vez do último comandante, John Flannery, a ser despedido depois de apenas 14 meses no cargo, já que problemas mais profundos na problemática unidade de energia do conglomerado assustaram o conselho.

Grande parte da cobrança estaria relacionada à aquisição em 2015 do negócio de energia da francesa Alstom SA. O acordo, com o objetivo de aumentar a participação de mercado da GE, saiu pela culatra quando a demanda global pela geração de energia diminuiu acentuadamente. Isso deixou a GE com fábricas repletas de estoque extra e pouco dinheiro vindo dos clientes.

Vários diretores da GE, particularmente as recentes adições, e alguns membros da administração da empresa, ficaram frustrados nas últimas semanas com o lento progresso no plano de desmembramento

No gráfico a seguir, é possível verificar como esse último CEO, derrubou o valor da companhia pela metade nesse pequeno período de tempo.


E as contratações de CEO se sucedem, sem que a empresa tome o rumo de crescimento.

Mas o que aconteceu para a GE deixar de ser uma empresa de ponta para virar uma dor de cabeça a seus acionistas, caminhando para rumos mais perigosos? “Ninguém é bom de tudo!”.

O leitor pode se perguntar então porque na época de Welch ele foi tão bem, mesmo adquirindo diversas companhias em setores distintos? A resposta é que, Welch geriu a GE como se fosse um fundo de Private Equity. Pelo histórico descrito, esse executivo delegava a gestão de cada unidade independente do resto, e cuidava de contratar os melhores executivos dispensando os piores.

Por ter essa qualidade, Jack Welch tem uma característica distinta de um CEO tradicional, o corporativismo não fazia parte de sua agenda, o que valia era a meritocracia. Nessas condições, meu conceito não se aplica.

Ao ser substituído por CEO “normais”, ficou impossível gerir uma emprese tão diversificada, nos moldes tradicionais. Não consegue mais ser a 1ª ou 2ª de cada setor. Seria aconselhável vender boa parte dessas empresas e se concentrar naquilo que é seu principal segmento, onde atua melhor.  Não dá para ser bom em tudo e nem todo mundo é um Jack Welch.

No post intenção-real, fiz as seguintes observações sobre o euro: ...” espero que a moeda única atinja € 1,195 ou € 1,21. A partir desses pontos, uma reversão tomaria pulso” ...


Estava tudo indo muito bem, até que os problemas da Itália, ou melhor, o novo governo resolveu peitar o mercado e anunciar um déficit maior que o considerado razoável para um país tão endividado. Desde então a moeda única caiu conforme aponto em vermelho a seguir.


O que fazer agora, vender já ou aguardar? Se eu tivesse essa resposta com certeza ficaria rico! O que posso sim dizer, é que as chances de o euro cair até 1,07 aumentaram, agora como chegará lá são outros 500.

Considerando alguns detalhes técnicos, acredito que uma venda ao nível de 1,1620 com stoploss a 1,17, poderia contemplar a situação onde, a queda esperada já começou. Caso o stoploss seja acionado, é provável que o nível apontado acima - 1,195, seja atingido.

Eu tenho frisado incansavelmente a dificuldade de se estabelecer níveis quando o movimento é de correção. Nessas situações, sugiro uma postura aberta de observação, ao invés de sea pegar rigidamente sobre as premissas inicias. É difícil, pois a ganância normalmente atrapalha. Procure se disciplinar com essa visão.

O SP500 fechou a 2.923, sem variação; o USDBRL a R$ 3,9309, com queda de 2,14%; o EURUSD a 1,1548, com queda de 0,24%; e o ouro a U$ 1.202, com alta de 1,27%.

Fique ligado!

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