Parando de piorar
Em conversa com empresários, a frase que mais ouço sobre a
situação no Brasil, é que parou de piorar. Enquanto a inflação vem despencando
os negócios melhoram de forma muito lenta. Por mais que a situação política
seja incerta, principalmente a eleição para presidente do próximo ano, não
acredito que esse fator esteja pesado sobre a economia. O desemprego muito
elevado ao redor de 13% é sem dúvida o que pesa.
O banco central já telegrafou que continuará com queda de
100 pontos da taxa SELIC na próxima reunião, e a discussão passa a ser a taxa
terminal desse ciclo de queda.
Eu tenho um pensamento que nunca revelei por acreditar ser
um de uma situação extrema. Porém, na última sexta-feira ao caminhar pela rua,
voltou a minha memória.
Os títulos indexados à inflação são considerados como uma
garantia para os investidores, afinal se a inflação sobe oferecem proteção
mantendo o valor de compra. Nunca vi ninguém comentar o caso inverso, e se a
inflação cai, ou seja, ficar negativa? Da mesma forma que protege para cima,
“desprotege” para baixo, diminuindo de valor.
Existem alguns poucos títulos que numa situação como essa,
esse efeito não acontece. Isso significa que, se a inflação for negativa, ele
mantém o valor do mês anterior. De uma maneira prática esses títulos rendem
inflação + juros, com exceção do mês em que a inflação é negativa. Nesse caso,
rende somente os juros. O único caso que conheço são alguns títulos americanos,
as NTNB não têm essa garantia.
Para quem títulos
indexados ao IGPM já devem ter percebido esse efeito nos últimos meses, como se
pode verificar no gráfico abaixo, este é o quarto mês com inflação negativa.
Para quem tem NTNB isso será percebido esse mês.
Mas será que corremos o risco de viver numa deflação mais
profunda? Acredito que não, o efeito do que estamos vivenciando é função da
queda mais forte dos preços dos alimentos e da recessão prolongada dos últimos
anos. Não se pode também descartar como consequência, o excesso de
conservadorismo do banco central que pode ter demorado muito para baixar os
juros.
Mas vou estudar para efeitos didáticos se uma situação como
essas vier a acontecer. A inflação do IPCA em termos anuais se encontra próxima
a 3% a.a. A inflação média no 2º semestre de 2016 foi de 0,30% a.m. A tabela
abaixo calcula o IPCA projetado segundo algumas premissas de inflação média
para os próximos meses.
Antes de começar a análise quero deixar bem claro que o
intuito é meramente instrutivo, não tendo o objetivo de fornecer qualquer
estimativa do IPCA. Quais as conclusões que podemos tirar dessa simulação: Se a
inflação ficar positiva, porém inferior a 0,30% a.m., a taxa anual do IPCA
ficará abaixo de 3% a.a., nível esse inferior ao limite estabelecido pelo BC.
Um cálculo aproximado se pode concluir que, com uma taxa SELIC de 8% a.a. ou
mesmo 7,5% a.a., a taxa de juro real estaria próxima de 5% a.a.; já se a
inflação média for negativa a situação é ainda mais grave com juro real ao
redor de 7% a.a.
É natural que o banco central reagiria a esses resultados
diminuindo ainda mais a taxa SELIC. Uma estimativa grosseira levaria a taxa
SELIC no primeiro caso ao redor de 6% a.a. e no segundo a 4% a.a., e esses
seriam os limites superiores. E olha que estou sendo conservador! Será que isso
poderá acontecer?
A concessão de crédito apresentou pequena melhora nos
últimos meses, tanto para as pessoas físicas como para as pessoas jurídicas, o
que é um resultado um pouco mais animador.
Já a dívida em relação ao PIB vem crescendo de forma
ininterrupta desde 2015 atingindo sobre essa métrica um nível próximo a 50%. Se
não fosse pelo crescimento descontrolado das despesas da previdência, esse
resultado – da dívida sobre o PIB – não seria nada preocupante, porém o mercado
sabe que caso esse problema não seja solucionado será uma questão de tempo para
que o nosso nível de dívida atinja níveis insustentáveis.
No post o-mundo-do-faz-de-conta, fiz os seguintes comentários sobre o
dólar: ...” minha projeção de queda
abaixo de R$ 3,10 ganha novamente força. Vou sugerir um trade para venda de
dólar conforme anotado abaixo” ... ...” Venda o dólar entre R$ 3,20 e R$ 3,22
com um stoploss a R$ 3,26, meu objetivo calculado é ao redor de R$ 3,00 – R$ 2,90,
a ser melhor calculado” ...
O dólar não deu a menor oportunidade para realizar o trade
proposto. Acompanhando a fraqueza da moeda americana no exterior o real se
valorizou na última semana. As cotações se aproximam de uma área bastante
congestionada no passado entre R$ 3,11 – 3,09. Durante os últimos 12 meses
tentou várias vezes romper esse nível e não conseguiu.
Embora a tendência seja de baixa do dólar, não me parece um
bom risco retorno vender nos níveis atuais, o stoploss teria que ficar no nível
proposto acima de R$ 3,26, ou seja uma perda potencial de 4%, para um ganho
esperado mínimo de 4,3% - R$ 3,00. Vou manter as mesmas recomendações acima,
pois é possível que o ‘dólar-dólar recupere parte das recentes perdas, numa
correção.
O SP500 fechou a 2.470, sem variação; o USDBRL a R$ 3,1183,
com queda de 0,42%; o EURUSD a 1,1837, com alta de 0,75%; e o ouro a U$ 1.269,
sem variação.
Fique ligado!
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