O único argumento #USDBRL


Hoje, os mercados estão fechados por conta do feriado de Martin Luther King, que, coincidentemente, marca a data em que Donald Trump assume a presidência, o assunto mais comentado das últimas semanas. Ele afirma que tomará inúmeras medidas já hoje, com destaque para as ordens de deportação de imigrantes. Imagino que o governo mexicano esteja esperando ansiosamente pelos detalhes, pois, caso sejam executadas, é até difícil imaginar o que ocorrerá nesse país.

Meu parceiro, Alberto Dwek, está preparando um artigo que será publicado no Mosca, olhando para as bolhas do passado para entender as de hoje.

O Mosca vem enfatizando que existe um argumento válido para as criptomoedas: se o dólar se desvalorizar drasticamente. O argumento mais popular entre os entusiastas, no entanto, não me convence: a escassez. Trump aproveitou seus últimos dias antes de assumir a presidência e lançou sua própria criptomoeda, “Trump”. Sua esposa seguiu o exemplo e emitiu também a sua, “Melania”. Assim, quem quiser, pode adquirir o "casal". Os adeptos que acreditam na escassez não devem estar prestando atenção ao que acontece ao redor, ou mesmo que encarem essas emissões como memes, não vejo como o bitcoin poderia ser classificado de forma diferente.

A pergunta a se fazer é: o dólar pode perder sua hegemonia como moeda mundial de troca? Pode, mas muita coisa precisa acontecer antes, como comenta Daniel Moss, da Bloomberg, enfatizando que a dominância da moeda americana é muito importante para sua dívida e déficit.

O eclipse do dólar, e com ele a capacidade dos EUA de se endividarem em uma escala que paralisaria qualquer outro país, tem sido previsto há muito tempo. Durante pelo menos meio século, céticos contaram com algo — ou alguém — que derrubaria os ativos americanos de seu pedestal. Não planeje um réquiem tão cedo.

O dólar enfrentou desafios consideráveis: a transição para taxas de câmbio flutuantes na década de 1970, o nascimento do euro, a ascensão do Japão e da China, bem como déficits significativos no orçamento e no comércio. O déficit orçamentário é frequentemente central nas previsões de que os gastos se tornarão insustentáveis, levando a um colapso que derrubaria o mercado de títulos e, com ele, o dólar. Mas isso nunca acontece. Um painel de alto nível convocado por Barack Obama para recomendar maneiras de controlar o déficit recebeu aplausos, mas não avançou. Os alertas de um dos líderes do comitê de que os EUA enfrentariam uma crise de dívida semelhante à da Grécia não se concretizaram. Por um bom motivo: enquanto a Grécia enfrentou dificuldades, grande parte de seu problema era que Atenas não podia emitir sua própria moeda — está na zona do euro. (A propósito, a Grécia é hoje a queridinha dos investidores. O país está a caminho de quitar empréstimos antecipadamente.)

Poderia o momento de acerto de contas finalmente ter chegado, cortesia do então presidente eleito Donald Trump, que desdenhou do dólar tanto quanto o defendeu, e está promovendo uma política fiscal abertamente expansionista? As taxas de juros dos títulos do governo dos EUA de 10 anos, o parâmetro global, subiram após a eleição. No entanto, os rendimentos ainda estão significativamente mais baixos do que eram na maior parte da década de 1990, o auge da chamada Grande Moderação, caracterizada por inflação moderada, flutuações modestas nos ciclos econômicos e um consenso de que o Estado deveria se envolver menos na vida econômica.

Portanto, o dólar não está prestes a desmoronar. Seu domínio vai além de um desejo oficial por um dólar forte, fraco ou algo intermediário. O papel central da moeda está profundamente entrelaçado no tecido da economia moderna. Ele representa a maioria das reservas globais e está presente em cerca de 90% das negociações de câmbio. A maior parte dos empréstimos transnacionais é feita em dólares, assim como uma quantidade desproporcional de faturamento. Nada se compara a isso, apesar dos avanços impressionantes da China nas últimas quatro décadas. A pequena participação do yuan nos pagamentos internacionais caiu ligeiramente este ano, de acordo com a Swift, uma empresa de mensagens financeiras. Apesar de oscilações ocasionais de portfólio, estrangeiros possuem trilhões de dólares em dívida americana, grande parte dela em títulos do Tesouro. Economias asiáticas podem ser responsáveis por grande parte do crescimento econômico global nos próximos anos, mas lutam para encontrar um número suficientemente grande de ativos seguros e líquidos em sua própria região.

Um longo caminho pela frente
O dólar é o maior instrumento nos pagamentos internacionais.

Essa lista impressionante de atributos ressalta um ponto poderoso. Em vez de bois, bronze ou prata, encontrados em muitos lugares, os títulos do governo dos EUA estão no topo do sistema financeiro atual. A era contemporânea é caracterizada pelo “Padrão Tesouro”, segundo um artigo de Joshua Hendrickson, professor da Universidade do Mississippi. Esse modelo é o sucessor do sistema de Bretton Woods, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial. Isso é mais do que uma ferramenta financeira útil; é um ativo estratégico. Ele permite que Washington arrecade dinheiro em grande escala para novos programas, defesa ou, mais recentemente, para combater emergências de saúde pública.




Esse é um privilégio exorbitante que, segundo críticos, permite aos EUA viverem além de suas possibilidades. O que muitas vezes não é dito, e até desejado em alguns setores, é que, em algum momento, essa jornada terminará e os americanos enfrentarão as mesmas escolhas difíceis que outras nações. Décadas antes da estreia do euro, Charles de Gaulle reclamava sobre a potência do dólar. A chegada da moeda comum foi recebida com grande expectativa e ambição. A Europa queria algo que consolidasse a integração econômica, mas que também permitisse ao continente enfrentar o dominador. O euro teve um início promissor, embora sua promessa tenha sido manchada por uma série de crises internas.

Isso destaca uma parte importante do apelo do dólar: a atração dos títulos dos EUA em relação a qualquer outra opção. Atualmente, nenhuma outra moeda oferece um mercado tão amplo e seguro de ativos líquidos. A China, frequentemente citada como o país mais provável a desafiar a preeminência dos EUA, desconfia dos mercados. O yuan é sujeito a todos os tipos de interferências, desde parâmetros diários de negociação definidos pelo banco central até restrições sobre o que os investidores podem levar para dentro e fora do país.

Isso não quer dizer que um rival crível para o dólar não possa surgir. Tampouco significa que o indicado de Trump para o Tesouro, Scott Bessent, possa gastar à vontade, indiferente às consequências. “O principal benefício do dólar é que realmente não há muitas alternativas, e isso torna uma crise menos provável”, disse Hendrickson. “Você começa a pensar no que virá a seguir e é um mundo de infinitas possibilidades e experimentos de pensamento, mas não está claro o quão realistas são esses exercícios. O subtexto é que apenas seguimos em frente.”

Portanto, com essas forças, importa se o ocupante da Casa Branca favorece expressamente um dólar forte, o mantra predominante desde os anos Clinton até Trump, em 2016? Embora sejam declarações de intenção, muitas vezes refletem tendências nos fluxos de capital. Robert Rubin, o chefe do Tesouro que desenvolveu a política do “dólar forte”, raramente se desviava de sua linha — e foi ajudado por uma economia em expansão. Também lembre-se de que Rubin e seu sucessor, Larry Summers, não hesitaram em vender dólares ocasionalmente. O pragmatismo teve um papel importante. Os comentários de Trump sobre um dólar muito forte podem apenas refletir um desejo de fortalecer a manufatura, mesmo que sua escolha de palavras seja chocante. Não é do interesse dele que o dólar colapse.

Além disso, não convém às potências emergentes ter o tipo de colapso que certamente acompanharia uma mudança de regime no mundo das moedas. Se o dólar deixasse de ser levado a sério, os possíveis herdeiros ao trono também sofreriam. Eles têm reservas significativas em dólares e se endividam em dólares. Além disso, embora grande parte da Ásia tenha prosperado e as economias chinesa e indiana tenham se tornado grandes players, seus mercados ainda são pequenos. Governos e empresas usam o dólar porque isso lhes convém, não como um favor ao líder do mundo livre. É por isso que foi tão desnecessário Trump ameaçar as nações do BRICS. Uma moeda compartilhada entre elas está a anos de distância, se é que um dia acontecerá. Queiram ou não, elas vivem em um universo dolarizado. (A China acabou de vender US$ 2 bilhões em títulos denominados em dólar na Arábia Saudita.)

Talvez o único lugar capaz de destronar o dólar sejam os próprios EUA, e todos terão muito a perder. Na ausência de um grande erro auto infligido, como exagerar nas sanções a ponto de incentivar a busca por uma alternativa séria, o dólar continuará avançando. O mundo continuará desejando que fosse diferente — até considerar a alternativa.

Como o bitcoin pode substituir o dólar, se nem moeda é? Gostaria de lembrar que as três características mais importantes que uma moeda deve ter para ser amplamente aceita e eficaz são:

  1. Meio de troca confiável
    A moeda deve ser amplamente aceita como forma de pagamento por bens e serviços. Para isso, é essencial que os participantes da economia confiem em seu valor e em sua capacidade de facilitar transações de forma eficiente.
  2. Reserva de valor estável
    A moeda precisa manter seu valor ao longo do tempo, ou seja, não deve ser excessivamente volátil. Uma moeda que sofre grandes flutuações em seu poder de compra desencoraja seu uso para poupança ou como referência para contratos financeiros.
  3. Unidade de conta
    Deve servir como padrão para precificar bens, serviços e dívidas. Isso requer que a moeda tenha divisibilidade prática e seja facilmente utilizável para expressar valores em termos claros e consistentes.

Essas três características são interdependentes e formam a base para a confiança e aceitação de qualquer moeda em uma economia.

O bitcoin não possui nenhuma dessas características! Agora, se a desconfiança no dólar atingir tal ponto que os investidores decidam fugir, sem dúvida, o bitcoin poderia ser uma possibilidade, além de moedas tidas como seguras, como o iene japonês e o franco suíço. Por enquanto, isso não passa de uma hipótese remota.

 

Análise Técnica


No post os-mercados-são-maníacos fiz os seguintes comentários sobre o dólar:“Sendo assim, vou ficar de olho num trade de compra que estaria próximo, destacado no retângulo. Acompanhem o Mosca.”

 



Segundo esse critério, a opção de comprar dólares se encontra próxima, embora o movimento de curto prazo observado numa janela de 1 hora indique que existe a possibilidade de visitar níveis abaixo de R$ 6,00, conforme indicado no gráfico abaixo. Algo ao redor de R$ 5,95. É importante frisar que, nessa contagem, R$ 5,8749 precisa ser respeitado — nem um centavo menos.

 



A bolsa esteve fechada hoje; o USDBRL fechou a 6,0350, com queda de 0,58%; o EURUSD a € 1,0413, com alta de 1,37%; o ouro a U$ 2.708, com alta de 0,25%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Bitcoin foi justamente fruto da perda de confiança no dólar na crise de 2008 quando o governo americano imprimiu muitos dólares para salvar banqueiros, à custa dos contribuintes. Enquanto as pessoas perderem fé no sistema, é isso só aumenta, o apelo por um ativo não estatal e de número limitado aumentará como a longo prazo tem se provado. Mas claro, tem muita concorrência pois qualquer um cria uma cripto, esse é o problema principal do bitcoin.

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  2. A crise de 2008 inicialmente gerou uma certa desconfiança no dólar pela elevada emissão de moeda, mas a mesma se dissipou no tempo não se caracterizando uma fuga de moeda de forma clássica.

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