O ouro manda #OURO #GOLD #EURUSD

 


Olhando para trás, o post publicado exatamente um ano atrás ajuda a organizar o raciocínio. Naquele momento, o pano de fundo era um misto de fragilidade europeia, esperança mal colocada no euro e uma percepção ainda incompleta sobre o papel que o ouro voltaria a desempenhar em um mundo que já não confia cegamente nas instituições monetárias tradicionais. Um ano depois, os fatos se encarregaram de colocar cada ativo no seu devido lugar — e, principalmente, de mostrar quem correu de verdade e quem apenas caminhou.

Em 2025, o ouro não apenas confirmou a tendência de alta como passou a liderar o ranking de desempenho entre os grandes ativos globais. Uma valorização superior a 60% não é algo trivial, ainda mais para um ativo que muitos insistem em tratar como relíquia, reserva emocional ou simples hedge de crise. O movimento foi amplo, persistente e, talvez mais incômodo para os modelos tradicionais, ocorreu apesar de juros ainda elevados em boa parte do mundo desenvolvido. As correlações clássicas simplesmente falharam.

 



 As explicações mais repetidas são conhecidas: compras agressivas de bancos centrais — com destaque para a China —, aumento do consumo na Índia e um ciclo favorável para commodities de forma geral. Tudo isso tem fundamento, mas é incompleto. O que o ouro vem sinalizando vai além de fluxo físico ou decisão tática de curto prazo. Ele reflete uma mudança estrutural na forma como os países pensam reservas, risco geopolítico e dependência do dólar como único pilar do sistema.

 



O trabalho recente de Ed Yardeni ajuda a colocar esse quadro em perspectiva. Ao olhar para a disparada dos metais preciosos, ele sugere que a alta não nasce de um colapso econômico iminente, mas sim do medo de um excesso de estímulo (monetário e fiscal), sobretudo nos Estados Unidos. Mesmo com atividade firme e produtividade forte, o mercado parece antecipar um ambiente de inflação de ativos e maior fragilidade monetária.

Enquanto o ouro corria, o euro avançou em outro ritmo. O euro não ficou parado em 2025. Houve recuperação ao longo do ano, ainda que distante da magnitude observada no ouro. Uma parte importante dessa alta teve origem na proteção das carteiras de investidores globais fortemente expostos aos Estados Unidos, mas sem hedge cambial em relação à sua moeda de origem.

Esse ajuste não ocorreu via venda de ações ou retirada de capital dos EUA, mas por meio de operações de hedge cambial. Esse movimento técnico e defensivo pressionou o dólar ao longo do ano e favoreceu o euro, sem que isso representasse uma migração estrutural de fluxo para a Europa.

A esse fator somou-se a expectativa de aumento dos gastos com defesa no continente europeu, após os Estados Unidos sinalizarem que não pretendem mais sustentar sozinhos a segurança da região. Esse impulso gerou algum alívio conjuntural, mas carrega custos fiscais relevantes e não resolve os problemas estruturais da Europa: crescimento potencial baixo, rigidez institucional e dificuldades de coordenação fiscal.

Assim, o euro recuperou terreno, mas sem tração estrutural. Foi uma alta sustentada por hedge, reposicionamento e alívio tático — não por ganhos de produtividade ou inovação. No longo prazo, o câmbio responde ao fluxo, e esse fluxo segue majoritariamente direcionado aos Estados Unidos.

O contraste com o ouro é evidente. O ouro não depende de consenso político, disciplina fiscal ou coordenação institucional. Em um mundo mais fragmentado, essa independência passou a valer um prêmio.

 

Análise Técnica

No post “a-Alemanha-nao-aguentou”, fiz os seguintes comentários sobre o euro: “A moeda única está numa situação crítica do ponto de vista técnico. A onda B citada acima, que era azul e agora é vermelha, deveria levar no mínimo a € 1,016 / € 0,98 — ou ainda pode terminar antes desses patamares. Depois, uma alta levaria a € 1,21 / € 1,23, para em seguida mergulhar ao redor de € 0,90”.

 



Embora o euro esteja inserido em um movimento corretivo em diversos níveis, o comportamento ao longo do ano seguiu o planejado: atingiu a mínima em janeiro, na região de € 1,018, e a partir daí iniciou um movimento de alta que deve levá-lo à faixa entre € 1,203 e € 1,235, destacada pela elipse. Esse movimento pode até se estender, mas, uma vez concluído, a expectativa é de que o euro inicie um novo ciclo de queda, possivelmente abaixo da paridade.

 


Em relação ao ouro, comentei à época: “O ouro deveria atingir a onda (5) vermelha durante o ano, quando o objetivo apontado acima seria atingido. Depois de terminada, um período extenso pode ser esperado, com quedas significativas de preços” … “ainda é muito cedo para adotar esse caminho. Por enquanto, o ouro não mostrou sinal de reversão”.

 



 A alta do ouro se estendeu muito além do que indicava a contagem apresentada anteriormente, comportamento comum em ciclos de commodities. No momento, a expectativa é de que a onda 3 —  laranja — se complete para então abrir espaço a uma correção que pode levar o metal à região de US$ 3.463, nível ainda sujeito a refinamento. Ainda assim, o movimento de alta não está concluído e deve seguir marcado por correções e retomadas até sua finalização.

 



Este é o último post do ano. No dia 31 apresentarei o balanço anual com os resultados detalhados, mas já é possível adiantar que 2025 repetiu um padrão que vem se consolidando ao longo da última década com retornos significativos: quando o mercado oscila entre narrativas conflitantes, o gráfico segue sendo o melhor filtro.




O S&P 500 fechou a 6.929, sem variação; o USDBRL a R$ 5,5365, sem variação; o EURUSD a € 1,1788, com alta de 0,12%; e o ouro a U$ 4.544, com alta de 1,46%.

Fique ligado!

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