O Bolso dos outros #criptomoedas #stabecoin #S&P500

 


É difícil conceber que alguém bem-informado invista em stablecoins acreditando estar fazendo uma escolha racional. Esses instrumentos, vendidos como alternativas “estáveis” no universo cripto, escondem uma verdade inconveniente: os ativos que lastreiam essas moedas — majoritariamente títulos do Tesouro americano — geram rendimentos significativos. Mas esses juros não pertencem ao investidor da stablecoin, e sim à empresa emissora, que embolsa integralmente essa receita. Em outras palavras, você entrega seu dinheiro para alguém investir em ativos públicos e, em troca, recebe uma ficha digital sem rendimento, prometida com base em um “lastro” que você nunca poderá auditar de verdade. Investir nisso é o equivalente moderno a deixar seu dinheiro embaixo do colchão... só que em nome de outro.

A estrutura dessas moedas é deliberadamente opaca. Nenhuma delas oferece transparência real sobre onde e como os ativos estão alocados, tampouco há garantias auditáveis ou regulação sólida que proteja o investidor. Portanto, a única explicação lógica para quem opta por stablecoins como forma de “reserva” é o desejo de manter valores à margem do sistema financeiro tradicional — seja para burlar restrições cambiais, evitar fiscalização ou simplesmente desaparecer do radar regulatório. A motivação pode até fazer sentido em certos contextos, mas é preciso nomear as coisas como elas são: stablecoins não são investimento, são instrumentos de ocultação. E quem não percebe isso, ou é ingênuo ou está tentando enganar alguém — inclusive a si mesmo.

Esse comportamento de transitar fora das normas, como se o dinheiro alheio pudesse ser usado conforme a conveniência do gestor, não está restrito ao mundo cripto. Basta ver o que Elon Musk vem tentando fazer com o caixa da Tesla. Sua nova empreitada, a empresa de inteligência artificial xAI, precisa de capital. E Musk, sem pudor algum, decidiu que talvez fosse uma boa ideia usar os recursos disponíveis da Tesla para financiar esse projeto pessoal. Consultar os acionistas? Claro, está no script. Mas a proposta escancara um conflito de interesses que, em qualquer outro executivo, já teria gerado reação dura do mercado.

A justificativa para esse tipo de manobra parece se apoiar em uma crença quase messiânica de que Musk “acerta em tudo”. Não passa pela cabeça de muitos investidores que Tesla é uma empresa listada, com objetivos próprios, e que seus recursos foram levantados com base em uma tese muito clara: mobilidade elétrica, e não inteligência artificial. Transferir recursos da montadora para uma startup que sequer tem modelo de negócios definido é, no mínimo, desvio de propósito. O que se apresenta como ousadia empreendedora tem cheiro de apropriação indevida de caixa.

Não é um caso isolado. O entrelaçamento das empresas de Musk — Tesla, SpaceX, xAI e até a rede social X — revela uma arquitetura nebulosa de decisões concentradas em uma só figura. O conselho de administração da Tesla parece, muitas vezes, apenas ratificar os desejos do CEO. E o mercado, fascinado pelo brilho midiático de Musk, segue complacente. A imprensa americana noticiou o movimento com suavidade, destacando que os acionistas “votarão” sobre o investimento. Mas a questão não é a votação em si, e sim a armadilha de decidir sobre algo que, em teoria, nunca deveria ter sido proposto.

No post “momento crítico”, publicado no ano passado, destaquei o seguinte ponto técnico com base na contagem das ondas de Elliott:




Na ocasião, levantei a hipótese de que a onda IV poderia estar se formando como um triângulo, o que sugeriria um alívio na pressão vendedora. Mas o gráfico mostrou outro caminho. A máxima de US$ 490 foi seguida por uma forte reversão, rompendo qualquer expectativa de estrutura lateralizada. A leitura técnica sinalizava que, sem a formação do triângulo, o papel ficaria vulnerável a quedas mais profundas.

Agora, com os dados mais recentes, a estrutura gráfica indica um cenário ainda mais crítico:




A onda IV segue em construção com contornos complexos e já há projeções de retração que apontam para níveis entre US$ 175 e US$ 97, podendo inclusive ultrapassar a extensão de 138% da onda A, com alvo abaixo de US$ 60. Se essa configuração se confirmar, qualquer utilização do caixa da Tesla fora de seu core business agrava ainda mais o risco para os acionistas.

Governança não é um detalhe técnico. É a espinha dorsal de qualquer empresa séria. Quando ela é substituída por carisma, a conta chega. Pode demorar, mas chega.

 

Análise Técnica

No post “Deve ser um Pato”, destaquei projeções que continuam válidas, ainda que com nuances. Seguindo a contagem principal das ondas de Elliott, o gráfico do S&P 500 indicava que a onda iii laranja poderia encontrar seu topo em 6.347 pontos, seguida por uma breve retração, culminando na onda v com alvo final em 6.455 — o que implicaria uma valorização adicional de 3,6%.




Naquele momento, alertei também para a existência de um cenário alternativo mais agressivo, ainda que menos provável, no qual a aceleração do movimento ascendente indicaria a entrada na onda 3 de grau superior — um estágio geralmente marcado por avanços mais impulsivos e contínuos. Embora continue atribuindo maior probabilidade ao cenário base, ajustes sutis foram feitos na contagem para incorporar a dinâmica mais recente do mercado.




Para que o cenário alternativo ganhe tração, seria necessário que o índice rompesse resistências com convicção, iniciando uma alta mais vigorosa. Mas esse desfecho exigiria um alinhamento improvável de variáveis: um reposicionamento da política monetária pelo Fed, uma guinada diplomática em relação às tarifas impostas à China, e um Trump mais conciliador — alguém que deixasse Powell em paz, admitisse que as tarifas foram um equívoco, e reconhecesse a importância de um dólar forte.

Parece loucura? Talvez. Mas com Trump, o absurdo é frequentemente só mais um estágio da realidade. Hahaha...

O S&P 500 fechou a 6.243, com queda de 0,40%; o USDBRL a R$ 5,5628, com queda de 0,46%; o EURUSD a € 1,1603, com queda de 0,52%; e o ouro a U$ 3.330, com queda de 0,37%.

Fique ligado!

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