Um dia pode ser muito tarde



O déficit americano atingiu a marca de U$ 1,0 trilhão somente nos primeiros 11 meses do ano fiscal, equivalente a 4,4% do PIB. A última vez que isso ocorreu foi em 2012, período em que a economia americana estava saindo da grande recessão de 2008.

Maiores gastos nas forças armadas, aumento das despesas com juros sobre dívida pública e receitas fracas no início do ano fiscal combinaram-se para aumentar o déficit em 19% entre outubro e agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os gastos do governo subiram 7%, para US $ 4,1 trilhões, superando as receitas fiscais federais mais altas, que cresceram 3%, para US $ 3,1 trilhões.

Uma economia forte normalmente leva a déficits menores, pois o aumento da renda familiar e dos lucros das empresas ajuda a aumentar a arrecadação de impostos, enquanto os gastos em programas de rede de segurança, como o seguro-desemprego, tendem a diminuir.

A economia dos EUA cresce há 10 anos, a maior expansão econômica já registrada. No entanto, os déficits anuais dos EUA estão a caminho de exceder US $ 1 trilhão a partir deste ano, devido em parte à lei tributária de 2017, que restringiu a arrecadação federal de receitas no ano passado, e a um acordo orçamentário de 2018 que eliminou os limites de gastos promulgados em 2011.

Os mercados responderam ao aumento da emissão com indiferença, e as taxas de juros permanecem em mínimos históricos em meio à demanda constante dos investidores. Ainda assim, uma carga de dívida crescente aumentou os custos de serviço da dívida do governo, uma das partes que mais crescem no orçamento.

De maneira mais ampla, projeta-se que os déficits anuais mais que dobrem como parcela da economia nas próximas décadas, à medida que uma onda de baby boomers aposentados, aumenta os gastos federais em benefícios de aposentadoria e assistência médica.

O financiamento deste déficit está mudando seu perfil nos últimos anos. Historicamente, a maior parte era financiada pelo mercado local. Essa tendência começou a declinar em favor dos estrangeiros que chegaram a representar a mesma percentagem que os locais. Nos últimos anos essa tendência está se revertendo colocando os locais detendo mais de 50%, contra 35% dos estrangeiros.


Essa próxima ilustração aponta que a maior parte do déficit atual está sendo financiando pelo mercado local. Os investidores pessoas físicas, com receio de uma recessão, estão privilegiando seus depósitos nos fundos de títulos do governo em detrimento de investimentos na bolsa de valores.


O Presidente Trump não perdeu a oportunidade ontem de atacar o Fed. Usou argumentos duplos em função do anuncio do déficit em conjunto com a decisão do ECB.

“ O Banco Central Europeu, agindo rapidamente, reduz as taxas em 10 pontos-base. Eles estão tentando, e conseguindo, desvalorizar o euro contra o dólar que está MUITO forte, prejudicando as exportações dos EUA ... E o Fed espera, espera, espera. Eles são pagos para pedir dinheiro emprestado, enquanto estamos pagando juros! ”

Entre ser um grande manipulador ou um idiota, acredito que o Trump está no primeiro grupo (não descarto o segundo totalmente!) Como comentei ontem, a situação é totalmente diferente, enquanto a Europa está caindo pelas tabelas, os EUA crescem pouco mas cresce. Numa situação normal, num momento desses, o déficit deveria estar caindo, não havia a menor necessidade de promover os estímulos de redução de impostos do ano anterior.

A percepção de crédito de um país é fundamental para que se consiga financiar a dívida em boas condições. A título de exemplo, cito o caso da Argentina que, depois de frustradas as promessas de crescimento e controle da inflação, o mercado avaliou que esse país não teria condições de honrar sua dívida. Quando essa percepção se espalha de forma generalizada, não tem santo que consiga segurar.

No caso dos EUA, o leitor poderia questionar o fato de sua dívida ser emitida em moeda local. É verdade, ter a moeda de conversão mundial é uma tremenda vantagem, mas se o mercado fica desconfiado que o pais não terá condições de honrar sua dívida, duas coisas acontecem: desvalorização da moeda e elevação dos juros dos títulos mais longos. Nesta situação, o Fed pode colocar o juro de curto prazo em – 100%, que ninguém vai comprar o título longo!

No post ainda-não, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ... “Na semana os juros de 10 anos fizeram o que se denomina em análise técnica Key Reversal Week” ... ... “o mais provável é que aconteça uma correção “tortuosa” e com duração de algumas semanas, atingindo o intervalo entre 1,75%/1,95%. Também não se poderá descartar uma penetração mais profunda que levaria o juro ao patamar de 2,10%, algo que parece impensável hoje, mas que a análise técnica aponta” ...


Estou impressionado com a pujança que os juros subiram nesta semana, saindo de 1,55% no início se encontrando agora em 1,90%. Os resultados da economia americana está semana foram no sentido de tirar o tom negativo que existia, aliado a estupenda posição do mercado no sentido de juros mais baixos, ocasionou essa reação.

O que poderá acontecer?

Para responder essa pergunta fui analisar o gráfico com janela mensal. Enfatizo as observações que fiz no post quando-principal-falha : ... “Chamo a atenção para a área demarcada em azul, notem que o shape desse movimento é impulsivo. Se o nível de 1,35% não for rompido, é possível uma análise não tão desastrosa para o futuro, porém se romper, níveis inferiores ficam expostos (vejam gráfico abaixo) ” ...

Agora vejam o que aconteceu desde essa última postagem. Passados 3 meses, os juros bateram na linha inferior do “caixote”, e este mês, foi revertido violentamente. Fui analisar o passado, e raramente ocorreu um movimento semelhante, somente quando o juro tentou entrar em área “proibida” (rompimento do suporte).

Notem que, em todas elas, o movimento que se sucedeu foi de alta, afastando a possibilidade de quebra da linha de suporte em cinza. Ainda é cedo para tirar qualquer conclusão pois o mercado poderá reverter e voltar a cair. Tenho que assumir que parece difícil que isso aconteça no curto prazo.

- David, está pisando em ovos! Me diga o que fazer?
Tenho que admitir que eu estou surpreso, agora imagina aquele investidor que tinha apostado as calças que os juros iriam ficar negativo! Em todo caso, o Mosca não tinha embarcado nessa aposta e ao contrário, alertava que estava ficando perigoso.

Para responder sua pergunta vamos nos ater aos níveis expostos acima:
·         1,75% - Já foi
·         1,95% -  Próximo teste
·         2,10% -  nesse caso, a probabilidade de o juro ficar dentro do “caixote”, por bem mais tempo, se eleva bastante.
·         2,35% - Ultrapassando, vai demorar muito tempo para ameaçar novamente o rompimento do nível de 1,40%, e abre a possibilidade de testar igualmente o nível de 3% e talvez romper!
- Hahahaha ... romper 3%! Está delirando!
Pois é, parece impossível, mas tecnicamente, em acontecendo a sequência acima, pode se tronar possível. Tudo vai depender do shape.

Vou parar por aqui pois tudo não passa de hipóteses que o mercado tem que corroborar.

Agora vou pedir para o pessoal da Casa Branca mandar uma cópia deste post para o Trump, e enfatizar que a bolsa pode subir com os juros subindo, basta que seja pelo bom motivo, que é o que parece estar acontecendo agora.

Aproveite para dizer que os juros podem subir muito mais pelo mal motivo, basta o dólar perder credibilidade, elevando a inflação. Tudo isso é exatamente o contrário do que você deseja. Trump, tome cuidado com o que fala, você é uma gota na frente do mercado!

O SP500 fechou a 3.007, sem variação; o USDBRL a R$ 4,0855, com alta de 0,61%; o EURUSD a 1.1077, com alta de 0,14%; e o ouro a U$ 1.488, com queda de 0,69%.

Fique ligado!

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